Londres – Uma semana após o encerramento da COP27, o jornal americano Washington Post anunciou um ambicioso programa de expansão de seu jornalismo climático e ambiental, com a intenção de se tornar “a principal organização de notícias do mundo a cobrir mudanças climáticas e seu impacto na humanidade e no planeta”.
“Estamos reimaginando o jornalismo climático por meio de narrativas visuais ambiciosas, vozes confiáveis e uma cobertura acessível que tornará a pauta mais visceral e dará aos leitores ideias sobre como eles podem agir em suas próprias vidas”, disse Zachary Goldfarb, editor de Clima e Meio Ambiente.
Triplicando a equipe dedicada ao tema, o jornal está criando novos canais, incluindo uma conta dedicada no Instagram, e vai intensificar o uso de jornalismo de dados.
Jornalismo climático ganha atenção
“Nenhuma história é mais global, e queremos que nosso público saiba que em todas as nossas plataformas ele podem encontrar a cobertura climática mais atualizada, esclarecedora e atraente”, acrescentou Goldfarb.
Entre os jornais internacionais, o The Guardian é um dos que vem se destacando na cobertura ambiental e no compromisso em dedicar atenção às mudanças climáticas assumido em uma declaração de princípios.
O veículo é um dos fundadores da rede de jornalismo ambiental Covering Climate Now, e tem entre seus princípios editoriais não aceitar propaganda da indústria de combustíveis fósseis, decisão tomada em 2020.
Durante a COP27, conferência sobre mudanças climáticas realizada pela ONU no Egito, o Guardian liderou uma iniciativa envolvendo mais de 30 jornais em 20 países: um editorial conjunto cobrando ações efetivas para mitigar a crise ambiental e um imposto sobre os lucros da indústria de petróleo e gás.
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O projeto anunciado pelo Washington Post é mais estruturado. A nova área de jornalismo ambiental é formada por 30 profissionais, incluindo algumas estrelas trazidas recentemente para a iniciativa.
O conteúdo será dividido em cinco pilares: política, políticas públicas; impactos da ciência, narrativa visual e de dados, soluções e inovações e cobertura de eventos extremos.
“As matérias incluirão novos estilos de narrativa para alcançar os leitores – especialmente leitores mais jovens, mais diversos e mais globais – onde eles estão”, anunciou o jornal. Uma das ações é a conta dedicada ao clima no Instagram, @PostClimate.
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Além do canal na rede social, foram anunciados diversos espaços dedicados ao clima.
Um deles é a coluna e newsletter “Climate Coach”, para ajudar os leitores a navegarem pelas escolhas qo buscar uma vida mais ecológica e ecológica, incluindo temas como consumo, viagens, alimentação e moradia. O lançamento será em janeiro.
Para comandá-la, o jornal contratou o jornalista Michael Coren, ex-Quartz, onde liderava uma equipe que cobria clima, tecnologia e economia.
Uma reportagem recente de Coren, realizada com o apoio do Pulitzer Center, levou o Congresso americano a debater os riscos causados pelo uso de chumbo no combustível de aviação.
O Washington Post anunciou também o espaço Climate Lab, agrupando reportagens visuais e de análise de dados sobre clima, meio ambiente e eventos climáticos extremos, sob a liderança de Harry Stevens, autor de uma premiada reportagem de dados do jornal sobre a pandemia.
Na coluna Animalia, Dino Grandoni destacará notícias sobre a fauna, como projetos de recuperação da vida selvagem e descobertas científicas.
E em Hidden Planet, Kasha Patel, da equipe meteorológica do The Post, já está apresentando curiosidades sobre o planeta e os céus.
Os vídeos são bem produzidos, com linguagem acessível e didática, aproveitando temas como o filme Lord of the Rings para explicar os vulcões.
New video. And maybe new head shot.
Learn a little more about volcanoes today by looking at #TheRingsOfPower: https://t.co/IzUcEsEbYz pic.twitter.com/ZlODOLHsZf
— Kasha Patel (@KashaPatel) October 18, 2022
Novo enfoque para o clima
“Queremos quebrar o tom muitas vezes monolítico e distante do jornalismo climático, destacando vozes importantes, desmistificando a ciência e seus impactos e envolvendo os leitores em questões complexas”, disse Juliet Eilperin, editora adjunta de Clima e Meio Ambiente.
“Nosso objetivo é produzir jornalismo climático que inspire, revele espaços de inovação e forneça conselhos práticos sobre como enfrentar as questões pessoais e éticas que as pessoas enfrentam em suas próprias vidas.”
O jornal fez várias contratações de jornalistas para a cobertura ambiental nos últimos meses e informou que ainda está preenchendo vagas abertas.
Uma das contratadas foi uma estrela jovem do jornalismo ambiental, Shannon Osaka, que entrou para a equipe do Post em julho, depois de destacar na equipe do site de jornalismo ambiental Grist. Osaka venceu o prêmio Jornalista Emergente do Ano da coalizão Covering Climate Now.
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