Londres – Depois de demitir cerca de um terço de sua força de trabalho, ficar com escritórios ociosos pelo mundo e ter que lidar com rumores de falência, o Twitter encontrou uma forma de se desfazer do que não precisa mais: um leilão que começa no dia 17 de janeiro vai passar adiante móveis, equipamentos e até um letreiro luminoso com o pássaro azul que é a marca da rede social.
Em seu primeiro tweet de 2023, Elon Musk disse que o ano “não ia ser chato”, prenunciando que a temporada de novidades na empresa não havia terminado – e o leilão é uma delas.
A venda está sendo feita pela Heritage Global Partners (HGP), uma empresa especializada em venda de ativos comerciais e industriais excedentes ou de empresas em dificuldades, como diz sua apresentação corporativa.
Os mais de 300 lotes estão na sede global do Twitter, em São Francisco, e são listados como “excedentes”, o que faz sentido depois da demissão em massa. Mas não há notícias de que o escritório central será fechado, embora a empresa tenha deixado de pagar aluguel de vários imóveis.
Musk negou falência iminente do Twitter
Projetado pelo escritório IA Architets, a sede do Twitter era um modelo da fase áurea das plataformas digitais, com decoração contemporânea, culinária saudável e espaços de lazer onde a equipe podia se divertir para estimular a criatividade.
Foi nela que em 26 de outubro de 2022 Elon Musk entrou carregando uma pia e tuitou com um enigmático let that sink in, um trocadilho com a palavra pia em inglês. A expressão pode ser interpretada como ‘vamos deixar isso ser absorvido’. Mas a história não saiu como ele esperava.
Entering Twitter HQ – let that sink in! pic.twitter.com/D68z4K2wq7
— Elon Musk (@elonmusk) October 26, 2022
Pouco antes do Natal, Elon Musk disse em uma entrevista a um podcast que o Twitter não estava mais na rota da falência, risco que ele mesmo havia levantado um mês antes em um email para funcionários falando sobre as medidas de enxugamento.
Em dezembro, ele afirmou que a empresa enfrentava um caixa negativo de US$ 3 bilhões, mas esperava reverter a situação após iniciativas de cortes de custos.
Uma delas é deixar de pagar o aluguel de alguns de seus escritórios. O dono de uma das salas ocupadas pela empresa em São Francisco (não o escritório central) entrou com uma ação para cobrar US$ 136 mil atrasados.
Dificilmente o leilão conseguirá a compensar as perdas que o Twitter vem registrando desde que Musk comprou a plataforma por US$ 44 bilhões e afastou grandes anunciantes com sua gestão caótica, embora haja itens valiosos para quem quiser aproveitar a “liquidação”.
Os preços finais devem alcançar patamares bem superiores aos lances mínimos, que começam em US$ 25. O processo não é simples para quem vive fora dos EUA. O transporte fica por conta do comprador, e a importação de alguns itens pode custar uma boa fortuna.
Para os que amam o Twitter (ou pelo menos amavam), uma das peças mais interessantes é uma escultura do pássaro azul com mais de 1 metro de altura.
Outra opção para quem tem mais espaço ou mais amor pelo Twitter é um gigantesco stand que parece um altar para adorar o Deus Pássaro Azul, destacado em neon ao fundo. A estrutura tem 3m de altura quando montada. O lance mínimo é US$ 50.
Um pouco mais sutil é um enorme vaso em forma de arroba, que está com folhagem artificial mas pode ser usado para plantas naturais.
Pela seleção de peças à venda pela Heritage Global Partners, percebe-se que os funcionários do Twitter em São Francisco desfrutavam de um ambiente de trabalho luxuoso, embora muitos deles tenham se recusado a voltar ao escritório quando convocados por Elon Musk, em uma de suas rusgas públicas com a equipe.
Há uma longa lista de mobiliário, incluindo diversas e cadeiras e poltronas assinadas por designers famosos como Eero Saarinen, Charles Eames, Henry Bertoia e Jens Rison – este último parecendo ser o preferido de quem decorou o espaço – fabricadas pela sofisticada Knoll. E peças pouco comuns em escritórios convencionais, como cadeiras de balanço da moderninha Serena & Lily.
A lista completa de peças está no site da empresa de leilões, onde os interessados podem se inscrever para dar lances a partir do dia 17. O leilão fecha no dia seguinte.
Quem quiser disputar algum lote deve se preparar para abrir a carteira. Tomando-se como exemplo a cafeteira italiana, o lance mínimo é de US$ 25, mas no mercado ela custa US$ 10 mil.
Por enquanto, a venda de móveis e objetos envolve apenas a sede de São Francisco, mas acontece ao mesmo tempo em que Elon Musk tenta outras formas de recuperar as finanças do Twitter e afastar os boatos de falência.
Uma delas foi o relançamento do selo azul de verificação mediante pagamento de uma taxa mensal de US$ 8. O selo sempre foi gratuito, concedido pelo próprio Twitter a figuras públicas que poderiam ser alvo de contas falsas criadas em seus nomes.
A primeira tentativa foi um fracasso, dando origem a uma avalanche de contas falsas supostamente verificadas, inclusive com o nome do próprio Elon Musk. Em dezembro, o selo de autenticidade foi relançado.
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Outra novidade é a suspensão da proibição de anúncios, anunciada pela conta Twitter Safety no dia 3/1 para entrar em vigor nas próximas semanas. A propaganda de causas sociais já foi liberada, segundo o tweet.
A notícia gerou críticas dos que temem desinformação e manipulação, porque podem resultar na defesa de causas controversas como questionamentos sobre as mudanças climáticas ou vacinas.
Aparentemente, os que preferiam o Twitter antes de Musk não são os únicos saudosistas.
Em uma postagem na terça-feira (3), o bilionário que perdeu em dezembro o posto de homem mais rico do mundo pareceu nostálgico, lembrando que há um ano atrás ele era escolhido Pessoa do Ano (pela revista Time).
12 months ago, I was Person of the Year
— Elon Musk (@elonmusk) January 4, 2023
Naquele momento, segundo informações surgidas depois, ele já começava a comprar ações do Twitter na Bolsa de Valores de forma discreta, primeira etapa de seu plano de adquirir a rede social e iniciar uma era de crises sucessivas que transformou a plataforma mais influente no mundo do jornalismo e da política.
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