Londres – Uma repórter iraniana que entrevistou o pai de Mahsa Amini, cuja morte sob custódia policial em setembro passado deu origem a uma onda de repressão no Irã, recebeu pena de prisão e multa sem direito a julgamento.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, a jornalista Nazila Maroofian, do site de notícias Rouydad 24 , foi condenada por um tribunal revolucionário no dia 28 de janeiro sob a acusação de propaganda antigovernamental e divulgação de notícias falsas.
“Fui sentenciada a dois anos de prisão, multa de 15 milhões de rials (R$ 1,8 mil) e proibição de sair do país por cinco anos”, relatou a jornalista pelo Twitter , acrescentando que o tribunal chegou à decisão sem audiência e na ausência de qualquer advogado de defesa. Ela foi dispensada de cumprir a pena de prisão por cinco anos.
Repressão após morte da jovem no Irã
Maroofian foi alvo das autoridades depois que sua entrevista com o pai de Mahsa Amini foi publicada no site Mostaghel Online em 19 de outubro.
Com a manchete “ Pai de Mahsa Amini – ‘eles estão mentindo’”, a reportagem desafiava a versão oficial de que a jovem iraniana curda morreu sob custódia como resultado de problemas anteriores de saúde.
Maroofian, que é da mesma cidade de Amini (Saqqez, na província do Curdistão), relatou que Amini morreu com uma pancada na cabeça após ser detida por violar o código de vestimenta do Irã. Ela estaria usando o véu da forma errada.
“O que me deixa triste é que as autoridades estão espalhando mentiras sobre minha filha todos os dias”, disse Amjad Amini na entrevista em persa, traduzida para o inglês pelo Centro de Direitos Humanos no Irã (CHRI). .
“Eles disseram que Mahsa tinha doença cardíaca e epilepsia, mas como o pai que a criou por 22 anos, digo em voz alta que Mahsa não tinha nenhuma doença. Ela estava em perfeita saúde.
A pessoa que bateu na minha filha deve ser julgada em tribunal público, não num julgamento falso que resulta em repreensões e expulsões”.
Os membros de sua família também disseram que não tiveram acesso ao relatório da autópsia, foram pressionados a enterrá-la rapidamente e instruídos a não falar sobre o caso.
Presa em 30 de outubro, Nazila Marooofian foi mantida por 71 dias na prisão de Qarchak até 9 de janeiro, três semanas antes de sua sentença ser anunciada.
A ONG Comitê de Mulheres do Irã (NCRI, na sigla em inglês) denunciou que Maroofian foi submetida a fortes pressões e ameaças dos interrogadores para fazer confissões forçadas, o que teria provocado dois leves derrames cardíacos.
Seu advogado de defesa, Mohammad Saleh Nikbakht, disse à ONG que em 4 de janeiro compareceu ao tribunal e anunciou sua representação.
Ele precisava de acesso para ler o caso e entender as acusações de seu cliente, o que disse não ter ocorrido.
O Irã chegou ao fim de 2022 como o país com mais jornalistas presos no mundo, ou entre os três primeiros, conforme o critério adotado pelas entidades que acompanham a liberdade de imprensa no mundo.
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“A imposição desta sentença arbitrária a uma jornalista que tentou esclarecer as circunstâncias da morte de Mahsa Amini é extremamente angustiante”, disse Jonathan Dagher, líder da RSF para o Oriente Médio da RSF.
“Pedimos o fim imediato dessas farsas judiciais, destinadas a amordaçar os profissionais de imprensa e pedimos a libertação imediata dos 38 jornalistas iranianos que estão presos.”
Outras mulheres jornalistas que investigaram a morte de Amini aguardam julgamento, como parte da repressão pelo governo do Irã a quem se manifestou contra o caso. Pelo menos quatro ativistas foram enforcados, e cerca de 500 morreram em confrontos reprimidos com violência pela polícia.
Os casos de Niloofar Hamedi e Elahe Mohammadi , os primeiros repórteres a chamar a atenção do público para a morte de Mahsa Amini, são particularmente preocupantes segundo a Repórteres Sem Fronteiras.
Elas estão detidos há quase cinco meses e estão julgados por acusações que podem levar à pena de morte.
Há também casos de jornalistas condenados a penas superiores às previstas em lei.
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