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Ucrânia sobe, Rússia cai: ranking de soft power revela efeitos da guerra sobre imagem dos países

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Manifestação em Washington contra a guerra na Ucrânia (Foto: Gayatri Malhotra / Unsplash)

Londres – No ano em que os EUA aumentaram a liderança no Global Soft Power Index, estudo anual que mede a influência dos países sem uso de armas ou poder econômico apresentado nesta quinta-feira (2) em Londres, a rival Rússia viu a confirmação dos efeitos negativos da guerra com a Ucrânia sobre sua imagem global.

A nação governada por Vladimir Putin foi a única marca nacional do mundo entre as 121 analisadas pela consultoria britânica Brand Finance a recuar em soft power, deixando o bloco dos “top 10” e passando para o 13º lugar.

Enquanto isso, a Ucrânia ganhou 10,1 pontos (mais do que qualquer outro país), saltando 14 posições e figurando em 37º na lista.

O resultado confirma o poder do presidente Volodymyr Zelensky na conquista de simpatia pelo país invadido, com presença constante na mídia internacional e uma estratégia de comunicação bem organizada que inclui o uso de símbolos como a camisa verde associando sua figura à de um combatente. 

A  popularidade de Zelenskyy, que ganhou apoio de líderes globais e celebridades, fez com que a nação subisse 36 posições no indicador “líderes admirados internacionalmente”, ocupando agora o 12º lugar.  

Na apresentação do relatório, o professor Paul Temporal, da Said Business School da Universidade de Harvard, explicou: 

O aumento do soft power da Ucrânia é um reflexo direto, não apenas da liderança moral de Zelenskyy dentro do país, mas também da maneira como ele deliberadamente cultivou e ampliou seu soft power pessoal para obter apoio contínuo externamente.”

O estudo é resultado de pesquisas de opinião entre mais de 100 mil pessoas em 100 países. 

As chamadas “marcas nacionais” são classificadas com base em 35 atributos agrupados em oito pilares. Os três principais são Familiaridade, Reputação e Influência. 

O Brasil perdeu três posições no ranking e ficou em 31º, saindo do grupo dos 30 com maior soft power. 

A guerra do soft power entre Rússia e Ucrânia 

Embora a familiaridade com a Rússia e a percepção de que é um país influente tenham aumentado devido ao impacto da guerra em todo o mundo, a reputação da nação foi severamente prejudicada, diz o relatório. 

E o soft power é justamente o contrário do que a Rússia praticou no último ano: a influência não baseada na força e sim no convencimento e compartilhamento dos mesmos valores. 

A classificação de reputação da Rússia no estudo, um dos principais determinantes do soft power, caiu de 23º para 105º.

A Rússia perdeu terreno em relação a outros países no índice em todos os 35 atributos, exceto em “assuntos que acompanho de perto”, já que boa parte do mundo segue atentamente os desdobramentos da guerra.

Mas a percepção não é simpática. O país governado por Putin ficou com a 119ª posição no pilar Pessoas & Valores e no atributo “boas relações com outros países”. 

Além disso, as sanções globais fizeram com que a impressão do país como “fácil de fazer negócios internamente e com o mundo” recusasse 61 posições, com “potencial de crescimento futuro” em 74º lugar.  

Desde que a guerra começou, marcas internacionais deixaram o país ou foram banidas, sobretudo as de mídia digital, no contexto da censura.

David Haigh, presidente e CEO da Brand Finance, explicou o efeito da guerra sobre a imagem da Rússia: 

“No momento em que as nações recorreram ao soft power para restaurar o comércio e o turismo após uma crise de saúde pública devastadora, a ordem mundial foi perturbada pelo “hard power” da invasão russa da Ucrânia.

Um acontecimento difícil de acreditar não fosse a intensidade das imagens que temos visto há meses e as consequências que o conflito está tendo tanto na política quanto na economia”.

A Ucrânia ocupa o 3º lugar no mundo em “assuntos que acompanho de perto” e teve ganhos significativos em atributos destacados em comunicações oficiais e reportagem na imprensa como “respeita a lei e os direitos humanos” (subiu de 69º para 29º), “tolerante e inclusivo” ( subiu de 63º para 44º) e “líder em tecnologia e inovação” (subiu de 26º para 50º).

No entanto, em muitos outros atributos o país foi afetado negativamente aos olhos do público internacional.

O mais óbvio é a percepção de local “seguro e protegido” (caiu de 60º para 118º) ou “ótimo lugar para se visitar” (caiu de 38º para 118º). 

EUA incomparáveis como a superpotência soft power

A distância da percepção sobre a Rússia de Vladimir Putin e os EUA sob o comando do presidente Joe Biden é expressiva.

Os Estados Unidos recuperaram seu primeiro lugar no ranking do Índice do ano passado e aumentaram ainda mais a liderança sobre outras marcas nacionais neste ano.

A pontuação geral dos EUA subiu +4,1 pontos, alcançando um recorde histórico de 74,8.

Com o fortalecimento do dólar e projetos de investimento de grande escala amplamente divulgados pelo governo federal, as percepções sobre a economia dos EUA são favoráveis, diz a Brand Finance. 

Com isso, os EUA tomaram da China o primeiro lugar no atributo Negócios e Comércio. 

Os EUA também se beneficiam da introdução de um novo atributo “investe na exploração espacial” no pilar Educação & Ciência, onde ocupa o 1º lugar no mundo.

O país está está em primeiro  lugar em doze e entre os 3 primeiros em quatro categorias, conquistando 16 medalhas de soft power – mais do que qualquer outra marca nacional no Índice.

No entanto, problemas crescentes com tiroteios, crimes com armas de fogo e violência policial continuam a corroer a percepção do país como “seguro e protegido” (caiu de 21º em 2020 para 62º este ano) e de seu povo como “amigável” (caiu de 5º em 2020 a 103º este ano).

 

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