Londres – Apesar das manifestações de entidades de liberdade de imprensa e de direitos humanos contra a repressão na Bielorrússia, mais jornalistas foram condenados à prisão esta semana no país que fechou 2022 como um dos principais carcereiros de profissionais de imprensa do mundo. 

Na sexta-feira (17), um tribunal da capital, Minsk, sentenciou as jornalistas Maryna Zolatava e Lyudmila Chekina a 12 anos de detenção em uma colônia penal, segundo a mídia local e organizações de direitos humanos. 

Zolatava era editora-chefe do portal independente de notícias Tut.by, e Kastiuhova era a diretora-geral.

Jornalistas lideravam o maior portal da Bielorrússia

O site, que era o de maior audiência do país, foi fechado pelo governo em maio de 2021 depois que a polícia revistou as redações e as casas dos funcionários, prendendo 15 deles.

Chekina e Zolatava foram consideradas culpadas de sonegação de impostos, organização de atividades destinadas a incitar ódio racial, étnico, religioso ou social e apelos públicos por meio da mídia e da internet com o objetivo de prejudicar a segurança nacional da Bielorrússia, informou a Radio Free Europe. 

Três outros réus no caso, Volha Loyka, Alena Talkachova e Katsyaryna Tkachenka, fugiram do país antes do julgamento. 

A sessão foi realizada portas fechadas. A Associação de Jornalistas da Bielorrúsia, que está banida e opera a partir do exílio, disse que “o processo contra o Tut.By e a condenação de seus funcionários é uma vingança cruel pela verdade que o site entregou a milhões de pessoas”.

O site foi recriado com outro nome, Zerkalo.io , que significa “espelho”. 

A Bielorrússia vive uma crise de liberdade de imprensa e de expressão desde 2021, quando o presidente Aleksander Lukashenko conseguiu se manter no poder por meio de uma eleição considerada fraudada. Ele ocupa o cargo desde 1994, com mandatos sucessivos. 

Desde então, protestos tomaram conta do país e foram reprimidos com violência, processos e prisões. Ativistas e jornalistas deixaram o país, enquanto os que ficaram enfrentam perseguições e penas pesadas. 

Entre as que se manifestou contra a sentença está a líder de oposição Sviatlana Tsikhanouskaya, que disputou as eleições de 2021 com Lukashenko e hoje está no exílio. Ela disse que o veredito era outra tentativa de assassinar o jornalismo honesto na Bielorrússia, mas acredita que “a verdade vencerá”.

“As escandalosas penas de prisão impostas às jornalistas bielorrussas servem apenas para destacar a espiral descendente de crueldade observada durante o regime de Aleksandr Lukashenko”, disse Gulnoza Said, coordenador do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) para a Europa e Ásia Central.

Nos últimos dias a situação se agravou, com 10 jornalistas presos em uma semana.