Londres – O príncipe Harry surpreendeu fotógrafos e jornalistas especializados em cobrir assuntos da família real ao chegar de táxi na segunda-feira (28) ao prédio da Royal Court of Justice de Londres para participar de uma audiência do processo movido por ele e outras celebridades contra o jornal tabloide Daily Mail.
Harry e sua mulher, Meghan, abriram uma guerra contra a imprensa desde que se desligaram das atividades oficiais da família real, em 2020 – mas nesse caso o príncipe não está sozinho, em uma ação pedindo punição pelo uso de escutas telefônicas para ouvir conversas de famosos com amigos, parentes e companheiros.
As audiências dessa etapa do processo, que se estenderão até quinta-feira 30), definem se a justiça seguirá com a ação ou se a rejeitará, como pedem os advogados da Associated Newspapers.
Processo contra jornal movido por Harry e mais seis
O Daily Mail pretence a uma das maiores empresas de mídia britânicas, de propriedade de um nobre, Lord Rothermere, neto do fundador do jornal.
Além de Harry, Elton John e o marido do cantor, o cineasta David Furnish, o processo contra o jornal Daily Mail tem também como autores as atrizes Liz Hurley e Sadie Frost e Doreen Lawrence, mãe de um adolescente assassinado, Stephen Lawrence.
Os reclamantes não eram obrigados a estar presentes nos quatro dias de audiência. São representados pelo advogado da causa, David Sherbone, que falou em nome dos autores.
Mas a ida dos famosos colocou o assunto na pauta da imprensa e nas redes sociais. Harry chegou sorridente, e chegou fazer uma cara feia ao esbarrar em um fotógrafo.
Daily Mail publisher ANL has worked hard to keep the full scale of the unlawful information gathering allegations from being made public, but Prince Harry and his 6 co-claimants are ready for their day in court. Clearly catching much of the UK media flat-footed. #PrinceHarryVsANL pic.twitter.com/fzWwcFNi1w
— R.S. Locke / Royal Suitor (@royal_suitor) March 27, 2023
São 14 acusações. Segundo os autores, o jornal contratou detetives particulares para colocar secretamente dispositivos de escuta dentro dos carros e casas de pessoas do círculo pessoal, incluindo algumas namoradas do príncipe Harry.
Pessoas teriam sido pagas para ouvir e gravar as conversas no momento em que ocorriam. O jornal teria ainda subornado policiais ligados aos detetives para obter informações confidenciais, bem como dados médicos de clínicas particulares.
As investigações do jornal teriam também chegado a contas bancárias e informações sobre transações financeiras.
Informações obtidas por esses meios deram origem a reportagens veiculadas no jornal e nos sites do Daily Mail e de sua edição dominical, o Mail On Sunday.
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Os advogados dos reclamantes disseram que tomaram conhecimento de evidências “altamente angustiantes” revelando que eles foram vítimas de “atividades criminosas repugnantes” e “violações grosseiras de privacidade” por parte da Associated Newspapers.
Sobre Harry, a acusação afirma no processo que as reportagens do jornal geraram suspeitas sobre a lealdade de pessoas próximas e um sentimento de paranóia. O príncipe passou a acreditar que pessoas próximas eram a fonte das notícias publicadas pelo Daily Mail.
A maioria das alegações está relacionada a seus relacionamentos com as ex-namoradas Chelsy Davy, Cressida Bonas, Laura Gerard-Leigh e Natalie Pinkham – incluindo detalhes de seus sentimentos em relação a elas, seus planos e conversas.
A Associated Newspapers negou veementemente as acusações, descrevendo-as como “difamações absurdas”. Os advogados tentam derrubar o processo movido por Harry e pelos famosos sob o argumento de que a data para reclamação já teria passado.
Um porta-voz do jornal disse à imprensa:
“Refutamos total e inequivocamente essas difamações absurdas que parecem ser nada mais do que uma tentativa pré-planejada e orquestrada de arrastar os títulos do Mail para o escândalo de hacking de telefones envolvendo artigos publicados há até 30 anos.
Ele acrescentou que “as alegações infundadas e altamente difamatórias – baseadas em nenhuma evidência confiável – parecem ser simplesmente uma ‘pescaria’ dos reclamantes e seus advogados, alguns dos quais já entraram com processos em outros lugares”.
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O processo contra o News of The World
O caso do Daily Mail remete a um outro caso famoso no Reino Unido, que deu origem a um inquérito resultando em recomendações de mudanças nas práticas do jornalismo do país, conhecido pela agressividade dos tabloides.
O News of The World, de propriedade do magnata Rupert Murdoch, fechou em 2011 depois de um escândalo parecido. Ficou provado que o jornal hackeou o telefone de uma estudante assassinado, Milly Dowler.
Rebecca Brooks, a jornalista que liderava a publicação, chegou a ser detida mas hoje comanda as operações da empresa jornalística News Corp, de Murdoch, dona de títulos como o prestigiado The Times e o tabloide The Sun.
Durante o inquérito, conduzido pelo ex-juiz Brian Levinson, o jornalista Paul Dacre, que foi editor do Daily Mail entre 1992 e 2018, e agora é editor-chefe da Associated Newspapers, condenou o “hackeamento telefônico e pagamentos à polícia”, dizendo que “tais práticas são uma vergonha”.
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Outros processos de Harry e Meghan contra jornais
Em 2022, Meghan ganhou uma ação contra o jornal Mail on Sunday pela publicação de uma carta enviada ao pai em 2018, logo após o casamento com o príncipe Harry.
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Harry tem outro processo, por difamação em andamento contra a mesma Associated Newspapers por reportagens sobre a tentativa de receber segurança oficial quando estivesse no Reino Unido, ainda que pagando pelos serviços.
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E há ainda outra ação, contra o Mirror Group Newspapers (MGN), dono do tabloide dDaily Mirror, por acusações de hackeamento de seu telefone entre 1996 e 2011.
O caso tem como autores outros famosos como o ator Ricky Tomlinson, o ex-jogador de futebol e apresentador de TV Ian Wright e o espólio do falecido cantor George Michael.
O MGN contestou as reivindicações e usa o mesmo argumento adotado pelos advogados do Daily Mail, o de que o prazo para reclamar havia passado.
Mágoa com imprensa por Diana
Harry tem uma mágoa profunda com a imprensa, sobretudo a sensacionalista. Em entrevistas, no programa de TV para a Netflix e em seu livro, Spare, ele atribui a morte da mãe, a princesa Diana, e muito de sua infelicidade, à perseguição da mídia.
Ele diz não querer que a história se repita com sua família, o que explica seu interesse em marcar presença na audiência do processo contra o jornal Daily Mail. No livro, ele diz: “depois de “torturar minha mãe … eles viriam atrás de mim”.
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O duque de York também culpou o Mail On Sunday pelo aborto espontâneo sofrido por Meghan, em meio à tensão do processo de privacidade movido pro ela.
A visita surpresa de Harry ao Reino Unido provocou também comentários sobre os desentendimentos com a família real, a poucas semanas da coroação do rei Charles.
Ainda não há confirmação se ele e Meghan participarão dos eventos. Embora Charles tenha adiado a visita à França devido aos protestos em curso no país, a notícia é de que um encontro entre os dois, ou entre Harry e o irmão, William, não está nos planos.
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