Londres – Uma nova pesquisa do Pew Research Center sobre nove aplicações de inteligência artificial em campos que vão da agricultura à medicina mostra que o público norte-americano acredita que o setor de redação de notícias foi o que menos avançou com o uso da tecnologia.

Considerando os familiarizados com o uso da inteligência artificial em cada campo de atuação, quase a metade dos entrevistados (45%) consideraram que a tecnologia não trouxe qualquer avanço à redação de notícias.

Trata-se do único setor pesquisado em que o percentual dos que consideram que a inteligência artificial não trouxe avanços supera os que veem algum avanço (44%) trazido por ela. Desses, apenas 16% observam um grande avanço. Todos esses índices são os piores de cada ranking.

Uso da inteligência artificial na redação de notícias entre os mais conhecidos

O resultado não quer dizer que o jornalismo não tenha sido beneficiado com os recursos de inteligência artificial. Ele mostra a percepção do público sobre o tema. 

As aplicações da inteligência artificial vêm se tornando cada vez mais populares com programas como o ChatGPT ou o Bard, que podem gerar respostas de texto a consultas humanas, e o DALL-E 2, que pode criar imagens sofisticadas a partir de um punhado de palavras-chave.

Para avaliar o papel que a inteligência artificial deve desempenhar na vida das pessoas e sobre quem se beneficiará – ou perderá – com a aplicação da tecnologia nos mais diversos ramos de atividade, os pesquisadores perguntaram a opinião dos entrevistados sobre nove aplicativos atualmente em uso ou em estágios avançados de desenvolvimento.

A primeira conclusão é a de que a conscientização pública sobre as aplicações de inteligência artificial ainda é limitada entre os norte-americanos.

O uso mais popular dessa tecnologia são os robôs cirurgiões, dos quais 59% dos entrevistados ouviram falar alguma coisa. Em seguida, são mais conhecidos os usos da inteligência artificial aplicados à previsão do tempo (46%), à produção de imagens a partir de palavras-chave (44%) e à redação de notícias (33%).

Entre os usos menos conhecidos nos Estados Unidos aparecem os aplicados à detecção de câncer de pele (22%), alívio da dor (22%) e descoberta de estruturas celulares (21%).

Entrevistados veem mais avanços em medicina, agricultura e meteorologia do que em comunicação

Embora a conscientização pública sobre as diversas aplicações da inteligência artificial ainda seja limitada, a pesquisa conclui que os norte-americanos fazem distinções claras sobre o impulso que essa tecnologia trouxe para cada área.

Na comparação entre os tópicos pesquisados, os entrevistadosvalorizaram mais os avanços proporcionados pela inteligência artificial em medicina, biologia, agricultura e meteorologia do que na área de comunicação.

Entre aqueles que já ouviram falar sobre o uso da inteligência artificial para prever as estruturas proteicas nas células, 86% – o maior índice da pesquisa – vêm isso como um avanço para a pesquisa médica. Dessa parcela, 59% consideram que a contribuição contribuiu para um grande avanço – também o maior desse ranking.

Percentuais grandes de entrevistados também consideraram que o uso da inteligência artificial proporcionou avanços significativos na previsão de condições climáticas extremas, como furacões e tempestades (85%), no desenvolvimento de culturas mais resistentes à seca e ao calor (84%), na busca de evidências de câncer nas imagens da pele (79%) e na atuação de robôs que realizam partes de cirurgias (78%). Em todos esses casos, pelo menos 50% dos entrevistados consideraram o impulso dado pela inteligência artificial como grande.

O mesmo, porém, não se pode dizer quanto ao uso da inteligência artificial na dosagem de analgésicos para aliviar a dor ou para fornecer suporte de saúde mental por meio de chats virtuais.

Dos familiarizados com os temas, somente 30% e 19% dos entrevistados, respectivamente, consideraram que o uso da tecnologia trouxe um grande avanço nessas áreas.

Avanços trazidos pela inteligência artificial à comunicação foram considerados entre os menores

Entre aqueles que já ouviram falar que a inteligência artificial é usada para produzir imagens visuais a partir de palavras-chave digitadas – como é o caso de programas como DALL-E 2 ou Midjourney – apenas cerca de três em cada dez (31%) descrevem isso como um grande avanço para as artes visuais. Em compensação, o percentual sobe para 70% entre os que consideram que a tecnologia trouxe algum avanço para a área.  

A pior situação foi constatada entre os que já ouviram falar sobre programas de inteligência artificial que podem escrever artigos de notícias – um uso intimamente ligado a plataformas como o ChatGPT . Um percentual de apenas 16% – o menor da pesquisa – descreve o impulso dado pela tecnologia como um grande avanço.

Mesmo considerando todos os que consideram que o uso da tecnologia trouxe algum tipo de avanço, ainda que pequeno, o cenário não muda: com 44%, o setor de redação de notícias permanece na última colocação também nesse ranking, abaixo do apoio virtual à saúde mental, com 55%.

Por fim, a redação de notícias apresenta o maior índice de entrevistados (45%) que consideram que a inteligência artificial não trouxe qualquer avanço, maior até do que os 44% que consideram que a tecnologia trouxe algum avanço. É o único dos setores pesquisados em que isso acontece.

Para muitas das aplicações pesquisadas, boa parte dos entrevistados não souberam dar opinião.  Por exemplo, 19% daqueles que ouviram falar que os chatbots estão sendo usados para fornecer suporte à saúde mental dizem que não têm certeza se isso representa um avanço ou não.  Os pesquisadores ressaltam que isso é um lembrete de que a opinião pública sobre os impactos da inteligência artificial ainda está se formando.