Londres – Se algum dia a monarquia britânica cair, o culpado ou o herói, dependendo do ponto de vista, será o ativista símbolo do movimento republicano, chefe do grupo Republic, que está aproveitando a coroação do rei Charles para convencer mais gente sobre o fim da monarquia.
Na manhã deste sábado ele foi preso no centro de Londres, pouco antes da manifestação programada para acontecer na Trafalgar Square, por onde o cortejo real iria passar, junto com outros cinco integrantes do movimento.
A prisão gerou protestos de grupos de direitos humanos como Human Rights Watch e Anistia Internacional. A polícia sugeriu que os organizadores do protesto estavam com materiais que poderiam causar interrupções, mas Smith negou.
A prisão pode acabar ajudando o Republic a se tornar mais popular, já que um dos argumentos para a defesa do fim da monarquia é justamente a falta de democracia no regime atual.
Não havia muita gente no protesto marcado para 11h, mas o grupo afirma que uma parte dos manifestantes foi impedida de se aproximar do local.
Out in force on Pall Mall! They won’t let our protesters into Trafalgar Square to join the rest of us. #NotMyKing pic.twitter.com/72Aod7MHT4
— Republic (@RepublicStaff) May 6, 2023
A polícia metropolitana de Londres havia antecipado que haveria “tolerância extremamente baixa” para aqueles que procurassem atrapalhar a festa da coroação.
Uma lei que acabou de entrar em vigor prevê multa para quem se prender a ruas, grades ou monumentos, uma prática que se tornou comum com o grupo ambientalista Extinction Rebellion.
A prisão causou surpresa porque Graham Smith disse que havia dialogado com a polícia para assegurar que os protestos não causariam interrupções e seriam pacíficos.
Os que permaneceram no local apesar das prisões apenas gritavam palavras de ordem como Not My King e exibiam cartazes e bandeiras.
Argumentos do Republic pelo fim da monarquia
Graham Smith, de 49 anos, é filho de republicanos e se tornou a principal face do grupo de pressão Republic. O lema do grupo é # NotMyKing, um slogan fácil de pegar e que se espalhou pelas redes sociais. O grupo diz ter apoio de mais de 130 mil republicanos.
Em entrevista a um grupo de correspondentes internacionais na FPA (Foreign Press Association) em Londres, na semana passada, ele expôs os argumentos para defender o fim do regime.
O principal deles é a falta de transparência, de prestação de contas e de democracia.
A defesa é inteligente porque se distancia do debate sobre os benefícios econômicos e políticos da monarquia para o país, algo intangível é difícil de mensurar.
Não e o que acontece com o fato de o chefe de Estado do pais e de outras nações que fazem parte da Comunidade Econômica das Nações, que herdou o cargo da mãe e se a monarquia não cair, passará para o filho.
Perguntado sobre quem seria um chefe de estado ideal, Smith respondeu:
“Qualquer um que seja eleito pelo povo, e Charles não ao seria eleito”.
Ele pode ter razão. O rei coroado neste sábado com pompa é o 5º ou 6º membro mais popular da realeza, dependendo da pesquisa, apesar de todos os esforços de RP da máquina de comunicação da família real.
O líder do Republic afirma que a realeza está longe dos valores que se espera de uma instituição e que não há limites sobre o que podem fazer longe dos olhos do público.
Ele diz não acreditar em corrupção, mas critica os altos custos com viagens e segurança e a falta de transparência, citando como exemplos as leis que proíbem processar membros da família real por racismo. Os testamentos são segredo, e pedidos de informações sobre as finanças não são respondidos.
O protesto deste sábado teve a adesão de representantes dos movimentos republicanos sueco, holandês e norueguês, e da Suazilândia, que tenta derrubar seu monarca absoluto.
Veja as principais bandeiras do grupo Republic:
- Em vez de uma coroação, queremos uma eleição. Em vez de Charles, queremos uma escolha. É simples assim.
- Mostraremos que não somos uma nação de monarquistas. Há uma oposição e apenas 9% estão entusiasmados com a coroação.
- Nossa ambição é simples: abolir a monarquia e passar para uma república parlamentar. Basta pegar o que já temos, um sistema parlamentar com um primeiro-ministro e implantar a democracia, de cima a baixo.
- Um chefe de estado eleito não administraria o governo, mas agiria independentemente do governo para proteger a constituição e representar a nação. Este é um modelo que funciona bem em toda a Europa, em países como Irlanda, Islândia, Alemanha, Finlândia, Estados Bálticos e Áustria.
O grupo vem se fortalecendo. Na entrevista aos correspondentes, Smith disse que em abril foram vendidos o equivalente a 1 mil libras por dia em materiais de campanha, como camisetas e posters.
A receita anual do Republic em 2020 foi de £ 106.000. Em 2023, foi de £ 286.000. Este ano a previsão é de que supere £ 300.000.
Graham Smith questiona o tamanho do apoio à monarquia com base nas pessoas que estavam sendo esperadas no centro de Londres para celebrar a coroação de Charles e Camilla em Londres
Em uma cidade de 9 milhões e um país de 67 milhões, as multidões para ver a coroação não são tão impressionantes. Multidões maiores comparecem ao London Pride e ao Notting Hill Carnival.
Outro argumento a favor do fim da monarquia levantado pelo grupo Republic é uma suposta evidência de que a coroação terá impacto positivo sobre a economia. Segundo Smith, o feriado bancário na segunda-feira custará cerca de £ 1 bilhão ao país. E não haveria incentivo ao turismo.
“Os dados mostram que esses grandes eventos podem suprimir o número de visitantes, pois as pessoas preferem evitar a confusão”, ele afirma.
Leia também | Charles III é coroado com popularidade mais baixa do que a da mãe, irmã, filho e até da nora