Londres – Se algum dia a monarquia britânica cair, o culpado ou o herói, dependendo do ponto de vista, será o ativista símbolo do movimento republicano, chefe do grupo Republic, que está aproveitando a coroação do rei Charles para convencer mais gente sobre o fim da monarquia.

Na manhã deste sábado ele foi preso no centro de Londres, pouco antes da manifestação programada para acontecer na Trafalgar Square, por onde o cortejo real iria passar, junto com outros cinco integrantes do movimento. 

A prisão gerou protestos de grupos de direitos humanos como Human Rights Watch e Anistia Internacional. A polícia sugeriu que os organizadores do protesto estavam com materiais que poderiam causar interrupções, mas Smith negou. 

A prisão pode acabar ajudando o Republic  a se tornar mais popular, já que um dos argumentos para a defesa do fim da monarquia é justamente a falta de democracia no regime atual. 

Não havia muita gente no protesto marcado para 11h, mas o grupo afirma que uma parte dos manifestantes foi impedida de se aproximar do local. 

A polícia metropolitana de Londres havia antecipado que haveria “tolerância extremamente baixa” para aqueles que procurassem atrapalhar a festa da coroação.

Uma lei que acabou de entrar em vigor prevê multa para quem se prender a ruas, grades ou monumentos, uma prática que se tornou comum com o grupo ambientalista Extinction Rebellion. 

A prisão causou surpresa porque Graham Smith disse que havia dialogado com a polícia para assegurar que os protestos não causariam interrupções e seriam pacíficos. 

Os que permaneceram no local apesar das prisões apenas gritavam palavras de ordem como Not My King e exibiam cartazes e bandeiras. 

Republicanos protestam no centro de Londres pelo fim da monarquia
Foto: Aldo De Luca / MediaTalks

Argumentos do Republic pelo fim da monarquia

Graham Smith, de 49 anos, é filho de republicanos e se tornou a principal face do grupo de pressão Republic. O lema do grupo é # NotMyKing, um slogan fácil de pegar e que se espalhou pelas redes sociais. O grupo diz ter apoio de mais de 130 mil republicanos. 

Em entrevista a um grupo de correspondentes internacionais na FPA (Foreign Press Association) em Londres, na semana passada, ele expôs os argumentos para defender o fim do regime.

O principal deles é a falta de transparência, de prestação de contas e de democracia.

A defesa é inteligente porque se distancia do debate sobre os benefícios econômicos e políticos da monarquia para o país, algo intangível é difícil de mensurar.

Não e o que acontece com o fato de o chefe de Estado do pais e de outras nações que fazem parte da Comunidade Econômica das Nações, que herdou o cargo da mãe e se a monarquia não cair, passará para o filho.

Perguntado sobre quem seria um chefe de estado ideal, Smith respondeu:

“Qualquer um que seja eleito pelo povo, e Charles não ao seria eleito”. 

Ele pode ter razão. O rei coroado neste sábado com pompa é o 5º ou 6º membro mais popular da realeza, dependendo da pesquisa, apesar de todos os esforços de RP da máquina de comunicação da família real. 

O líder do Republic afirma que a realeza está longe dos valores que se espera de uma instituição e que não há limites sobre o que podem fazer longe dos olhos do público.

Ele diz não acreditar em corrupção, mas critica os altos custos com viagens e segurança e a falta de transparência, citando como exemplos as leis que proíbem processar membros da família real por racismo. Os testamentos são segredo, e pedidos de informações sobre as finanças não são respondidos.

O protesto deste sábado teve a adesão de representantes dos movimentos republicanos sueco, holandês e norueguês, e da Suazilândia, que tenta derrubar seu monarca absoluto. 

Veja as principais bandeiras do grupo Republic: 

  • Em vez de uma coroação, queremos uma eleição. Em vez de Charles, queremos uma escolha. É simples assim.
  • Mostraremos que não somos uma nação de monarquistas. Há uma oposição e apenas 9% estão entusiasmados com a coroação.
  • Nossa ambição é simples: abolir a monarquia e passar para uma república parlamentar. Basta pegar o que já temos, um sistema parlamentar com um primeiro-ministro e implantar a democracia, de cima a baixo.
  • Um chefe de estado eleito não administraria o governo, mas agiria independentemente do governo para proteger a constituição e representar a nação. Este é um modelo que funciona bem em toda a Europa, em países como Irlanda, Islândia, Alemanha, Finlândia, Estados Bálticos e Áustria.

O grupo vem se fortalecendo. Na entrevista aos correspondentes, Smith disse que em abril foram vendidos o equivalente a 1 mil libras por dia em materiais de campanha, como camisetas e posters.

A receita anual do Republic em 2020 foi de £ 106.000. Em 2023, foi de £ 286.000. Este ano a previsão é de que supere £ 300.000. 

Graham Smith questiona o tamanho do apoio à monarquia com base nas pessoas que estavam sendo esperadas no centro de Londres para celebrar a coroação de Charles e Camilla em Londres 

Em uma cidade de 9 milhões e um país de 67 milhões, as multidões para ver a coroação não são tão impressionantes. Multidões maiores comparecem ao London Pride e ao Notting Hill Carnival.

Outro argumento a favor do fim da monarquia levantado pelo grupo Republic é uma suposta evidência de que a coroação terá impacto positivo sobre a economia. Segundo Smith, o feriado bancário na segunda-feira custará cerca de £ 1 bilhão ao país. E não haveria incentivo ao turismo.

“Os dados mostram que esses grandes eventos podem suprimir o número de visitantes, pois as pessoas preferem evitar a confusão”, ele afirma.