Londres – Poucos jornais e sites de notícias do mundo – se é que algum – deixarão de estampar neste fim de semana fotos do rei Charles III, coroado como rei da Grã-Bretanha e de 14 dos 56 países que fazem parte da Commonwealth, a comunidade das ex-colônias britânicas.
Ser fotografado não é novidade para o menino que nasceu para ser rei, e estava ao lado da mãe, Elizabeth II, quando ela recebeu a coroa, em 1953.
Charles nunca demonstrou incômodo com o assédio das câmeras, ao contrário do filho, Harry, traumatizado com a morte da mãe, a princesa Diana, quando o carro em que trafegava em Paris era perseguido por paparazzi.
O Hulton Archive da Getty Images, em Londres, reúne em seu acervo todos os momentos da história do menino que hoje assumiu formalmente o trono, em um mundo bem diferente daquele em que a mãe foi coroada.
Melanie Llewellyn, curadora do Hulton, fez uma seleção de fotos marcantes da vida do rei Charles III.
Em entrevista, ela refletiu sobre o papel da fotografia na imagem a realeza e comentou momentos marcantes de Charles diante das câmeras, muitos guardados no arquivo de uma das maiores agências de fotografia do mundo, que cobre mais de 70 mil eventos de entretenimento por ano.
Tudo começou com os monarcas Victoria e Albert, que reinaram quando a fotografia dava seus primeiros passos, lembra Llewellyn:
O advento da fotografia coincidiu com uma mudança na imagem real de figura de um governante para uma representação da família nacional.
A câmera permitiu que semelhanças “verdadeiras” fossem mais amplamente distribuídas do que nunca, e Victoria e Albert viram isso como um meio de se conectar com a nação, quebrando a distância entre monarquia e súditos.”
Nesta imagem, a rainha Elizabeth II ensina o filho a manejar uma câmera. Mas ele passaria a vida diante delas, não atrás.
Lembrando o neto o travesso neto Louis, que “aprontou” diante das câmeras no Jubileu de Elizabeth II, o pequeno Charles levou uma bronca da mãe durante o show aéreo em homenagem ao aniversário do rei George, e 1951. A f0to só não viralizou porque não tinha rede social na época.
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Mas nada na vida do rei Charles III foi mais midiático do que o casamento com a princesa Diana, em 1981, assistido por mais de 750 milhões de pessoas no mundo.
Para a curadora do arquivo da Getty, que tem mais de 135 milhões de imagens que datam do início da fotografia, a imagem que simboliza o momento é a do beijo retratando os recém-casados à moda antiga dos contos de fada.
“A representação do casamento pela mídia foi subsequentemente baseada em imagens que pareciam transmitir uma mensagem mais ampla do que a soma de suas partes – o poder da fotografia, para aparentemente contar uma história completa em um único quadro, para o bem ou para o mal.”
Dois anos depois, a figura exuberante de Diana já não era a mesma. Mais magra e abatida, ela já dava sinais do sofrimento retratado em entrevistas, livros e na série The Crown.
Entretanto, as aparências eram mantidas, e o olhar da princesa para o futuro rei Charles III registrado na foto durante uma visita ao Canadá é de carinho.
Depois veio o divórcio, um drama igualmente acompanhado pelo mundo, com a família real tentando assumir o controle da narrativa.
O exemplo selecionado por Melanie Llewellyn é a foto de Charles e Diana com os filhos na cerimônia do Dia da Vitória em Londres, em agosto de 1995, três anos depois da separação, sinalizando que os pais continuavam unidos em torno dos filhos.
Fotos da família real são muitas vezes planejadas e produzidas em estúdios ou ambientes controlados.
“Elas refletem uma confiança e familiaridade conquistadas com muito esforço” diz a curadora.
Algumas delas mostram um afeto real, apesar do olhar público, como este momento em que o então príncipe Charles beija a mão de Elizabeth II ao receber um prêmio de pólo.
O rei Charles III promovia a defesa do meio ambiente quando isso ainda não era moda ou obrigação social. E foi ridicularizado quando disse que conversava com plantas, um de seus muitos exotismos.
Uma das imagens que simboliza a ligação com a natureza, selecionada por Llewellyn, é o retrato do então príncipe de Gales meio etéreo, sentado em meio ao verde do jardim de sua propriedade de Highgrove, parecendo fazer parte da paisagem.
O ‘Lado B’ do rei Charles III em fotos
Uma das comparações feitas entre o rei Charles III e a rainha Elizabeth III é a de que ela raras vezes expressava opiniões, enquanto ele deu entrevistas e se expôs mais ao longo da vida – e o mesmo vale para fotos.
Enquanto a monarca aparecia sempre bem-comportada, o filho que ainda estava longe de virar rei se deixou registrar em mais à vontade, ou com aparência bem diferente daquela a que estamos acostumados, como observa a curadora do arquivo da Getty:
“Muitas pessoas comentam sobre seu amor pelo excêntrico humor e performance britânica.
Embora a fotografia real tenha se tornado menos formal fora dos eventos oficiais, imagens verdadeiramente sinceras ainda são raras e talvez apenas o resultado da sorte ou de um relacionamento de longa data com o fotógrafo.”
Para os brasileiros, a cena inesquecível de Charles III foi o sambinha com a passista Pinah, durante uma visita ao Rio de Janeiro em 1978.
Sem medo do ridículo, ele tenta pilotar uma mini-moto.
Um ano antes de se casar com a princesa Diana, em 1981, o futuro rei Charles exibiu a barriga tanquinho e um calção meio fora de moda nesta foto feita em Bondi Beach, na Austrália.
Em outro retrato longe da pompa da realeza, ele foi fotografado sorrindo depois de levar uma torta no rosto em uma brincadeira durante uma visita a um clube esportivo em Manchester, em 1983.
Tem hora que ser fotografado cansa. Em 1980, Charles tentou despistar fotógrafos com uma ridícula máscara para esquiar em paz na Suíça. Mas o disfarce chamou mais a atenção e logo foi desmascarado. Ele levou a história na brincadeira, deixando-se registrar depois de cara limpa.
Charles experimentou um look diferente em 1976, com um barba que lembra a do filho Harry.
Neste clique feito durante um tour pela Nova Guiné, ele está surpreendentemente sério, contrastando com a maioria das imagens em que aparece sorridente – quem sabe refletindo sobre o desafio que terá pela frente para manter a monarquia viva.
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