Londres – A morte do jornalista de vídeo francês Arman Soldin, vítima de um bombardeio nesta terça-feira (9), é a segunda fatalidade atingindo um profissional de mídia na guerra da Ucrânia em menos de um mês.
Com isso, o conflito registra a sinistra média de um jornalista morto por mês cobrindo os combates desde o início da invasão.
Soldin era coordenador de vídeo da Agence France-Presse e estava com quatro colegas em Chasiv Yar, perto da cidade de Bakhmut, quando o ataque ocorreu. Os outros jornalistas saíram ilesos.
No dia 26 de abril, o fixer (jornalista local que ajuda equipes de imprensa estrangeiras) Bohdan Bitik, trabalhando para o jornal italiano La Repubblica, foi morto a tiros em Kherson.
As duas mortes dos jornalistas que estavam a serviço cobrindo a guerra aconteceram em contextos diferentes.
Soldin foi vítima de uma explosão, enquanto Bitik perdeu a vida em uma emboscada quando fazia uma reportagem perto da Ponte Antonivskiy, nos arredores de Kherson, no sul da Ucrânia.
Seu colega italiano que o acompanhava, Corrado Zunino, foi ferido no ombro. Ele usava um colete com a inscrição “imprensa”, mas não há confirmação de que o fixer também estava identificado quando foi baleado.
O ataque foi realizado “provavelmente por atiradores russos”, informou o jornal italiano.
Um terceiro jornalista também morreu em abril, mas em combate, depois de se alistar no exército ucraniano. Tratava-se de Oleksandr Bondarenko, que trabalhara na BBC.
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Riscos para jornalistas na guerra da Ucrânia
Ao comentar a morte de Arman Soldin, o CEO da AFP, Fabrice Fries, disse que foi “um terrível lembrete dos riscos e perigos enfrentados diariamente pelos jornalistas que cobrem o conflito na Ucrânia”.
Soldin, de 32 anos, foi um dos primeiros correspondentes da AFP a entrar na Ucrânia após a invasão russa.
Nascido na Bósnia, ele tinha nacionalidade francesa e trabalhava para a AFP desde 2015. Era coordenador das operações de vídeo da agência na Ucrânia desde setembro de 2022.
Soldin liderava a cobertura da equipe e viajava regularmente para as linhas de frente no leste e no sul, informou a AFP.
Ele postou em sua conta no Twitter imagens de um ataque com bombas de fósforo em Bakhmut três dias antes de sua morte.
#Bakhmut was allegedly bombed with phosphorus last night according to @SOF_UKR – we can recognise the last bits of Ukrainian-held territory with the few high storeys buildings- phosphorus burns everything, allows to get light too for night ops + creates smoke screen for offensive… pic.twitter.com/4Yx9X3Yiix
— Arman Soldin (@ArmanSoldin) May 6, 2023
“O trabalho brilhante de Arman resume tudo o que nos deixa tão orgulhosos do jornalismo da AFP na Ucrânia”, disse o diretor de notícias globais da AFP, Phil Chetwynd, em um comunicado interno para a equipe da agência de notícias:
“Ele era corajoso, criativo e tenaz. Era, acima de tudo, um excelente jornalista, totalmente comprometido com a reportagem.”
O Comitê de Proteção a Jornalistas informou que Soldin foi o décimo-quinto jornalista a morrer na cobertura dos quinze meses da guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
A Ucrânia subiu 27 posições no ranking global de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras este ano, figurando na 79º posição.
Mas no quesito “segurança para os jornalistas” ficou em penúltimo lugar entre as 180 nações analisadas, sendo superada apenas por Mianmar.
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