O cidadão colombiano Alberto Enrique Giraldo Saray foi sentenciado a cinco anos e dois meses de prisão por um tribunal da Rússia, sob acusação de propagação de fake news.

Nesta quarta-feira (17), a corte distrital de Moscou condenou Saray, em sessão fechada no tribunal, por infringir a lei russa de censura, que enquadra desinformação contra o exército como crime de guerra.

Ele foi detido em abril de 2022 por acusações de colaborar com uma rede de disseminação de conteúdo não-autorizado sobre o conflito Ucrânia-Rússia.

Rússia acusou colombiano de fake news

A acusação enquadra Saray e outros dois colombianos, Briseño Mendoza e Ramírez Salazar, como agentes da Digital Humanity, um suposto braço da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional).

A instituição é objeto de crítica internacional por colaborar com a CIA em desestabilização de governos, e proibida na Rússia desde 2012.

Segundo a investigação russa, o colombiano teria adquirido seis smartphones e chips telefônicos, depositando-os em um shopping center de Moscou.

Os aparelhos foram usados para disparos em massa de SMS (mensagens de texto) com “informações falsas”.

Segundo o Ministério Público da Rússia, o colombiano divulgou informações sobre assassinatos de civis ucranianos por militares russo e sobre o emprego de reservistas, recrutas, combatentes estrangeiros e crianças em idade escolar nas tropas enviadas à Ucrânia. 

Saray teria feito a ação a mando de Mendoza e Salazar — ambos fora do país na ocasião, e em lista de procurados pelas autoridades russas —, sendo remunerado em criptomoedas pelo serviço.

Ramirez Salazar e Briseño Mendoza foram colocados na lista de procurados e a investigação preliminar contra eles continua. Depois que a acusação foi aprovada, o processo criminal foi enviado ao Tribunal Distrital de Golovinsky de Moscou para consideração do mérito.

Condenação a estrangeiros é rara

Apesar da acusação, a condenação do cidadão colombiano por cooperação com redes de fake news contra a Rússia é incomum dentre as prisões ocorridas até o momento.

Segundo a agência estatal russa Kommersant, Saray mora na Rússia há 20 anos e tem passaporte russo. Ele também possuía visto para os Estados Unidos, o que aumentou as suspeitas das autoridades.

No entanto, ele expressava publicamente opiniões pró-Kremlin. Segundo a Voz de America, Saray chegou a publicar em seu Facebook mensagens em espanhol chamando soldados ucranianos de “neonazis” e justificando a invasão do país vizinho como resposta à expansão da OTAN.

Segundo a rede russa de direitos humanos OVD-Info, cerca de 20 mil pessoas foram detidas em protestos desde o início da invasão, e 500 pessoas foram levadas à corte.

Destas detenções, poucas atingem estrangeiros, como nos casos do jornalista ucraniano Dmytri Gordon e do norte-americano Evan Gershkovich.

No levantamento World Press Freedom Index, da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o índice de liberdade de imprensa na Rússia em 2023 caiu da 155ª para a 165ª posição.