Um dia após a falha no Twitter que transformou em vexame o lançamento da candidatura do governador da Flórida, Ron DeSantis, à presidência dos EUA, a plataforma de Elon Musk sofreu mais um revés: o chefe de engenharia, Foad Dabiri, anunciou que estava deixando a empresa. 

DeSantis esperava os holofotes voltados para ele nesta quarta-feira (25). Afinal, ele foi o primeiro a oficializar uma candidatura à presidência dos EUA pelo Twitter Spaces, conversando com Elon Musk, mas a falha roubou toda a atenção.

Dabiri não explicou o motivo da saída. Disse apenas que “depois de quatro anos incríveis, estava deixando o ninho”, e seguiu com postagens sobre sua vivência na plataforma. Mas a associação com a falha e com as demissões que provocaram vulnerabilidades no Twitter foram inevitáveis. 

O vexame do Twitter

O lançamento da candidatura de DeSantis, anunciado de forma críptica pelo próprio dono do Twitter, Elon Musk, continha apenas os termos “Preparing to Launch” (“Preparando para o lançamento”), algo que poderia facilmente ser o anúncio de um novo recurso, ou um dos muitos foguetes da SpaceX.

Porém, a sessão foi abarrotada de falhas, resultando em um mau começo para o candidato republicano — alvo de críticas de rivais de ambos os lados — mas também em um tiro no pé que se soma à uma série de baixas na sua administração da rede social.

Musk não tuitou sobre as falhas, nem sobre a saída do engenheiro-chefe. Apenas postou a gravação da Live, onde se pode ouvir as confusões e as desculpas pela “quebra” do Twitter.

Em seguida ele retuitou a gravação com um comentário de David Sacks, investidor do mercado de tecnologia que fez a mediação da conversa, elogiando a iniciativa e relativizando os problemas, que chamou de “desafios iniciais”. 

Como a falha no Twitter Spaces fere imagem de Musk

Segundo a Reuters, cerca de 678 mil pessoas se conectaram à chamada no Twitter Spaces, uma sobrecarga da plataforma que resultou não apenas em uma falha, mas diversas: as falas de DeSantis foram, cortadas, distorcidas e obstruídas constantemente.

A sessão teve instabilidades por trinta minutos. Quando estabilizou, cerca de 300 mil usuários continuavam conectados.

Em comparação, a Fox News teria registrado audiência de 7,7 milhões de espectadores no lançamento da campanha de Donald Trump em 2020. 

Para o governador republicano, o anúncio foi um início de pé esquerdo, já que o mote de sua campanha era se mostrar uma gestor eficiente e “apegado aos detalhes”.

Já para Elon Musk — amigo pessoal de DeSantis — o dano é sobretudo ideológico. O atual dono do Twitter comprou a plataforma prometendo a criação de uma “praça pública digital”, onde todos teriam sua voz.

No entanto, por detrás do sonho de um espaço livre e democrático há uma sucessão de problemas de desempenho que resulta de demissões constantes e reestruturações impensadas.

Desde a nova gestão, diversas rodadas de demissões e dissoluções de conselhos como o de Segurança e Confiabilidade contribuíram para uma experiência mais instável na rede dos 280 caracteres.

Em entrevista à BBC, Musk confirmou que o Twitter estava operando com 1.500 funcionários, uma drástica queda em comparação aos 8.000 que trabalhavam na plataforma antes da nova gestão.

Em uma análise sobre a falha no lançamento da campanha de DeSantis, o jornalista Casey Newton, autor da newsletter Platformer, salientou revelou que nos últimos meses, Musk reduziu a equipe do Spaces, que antes chegava a 100 funcionários, para cerca de três pessoas.  

Instabilidade no Twitter é mais uma de muitas

Na chamada desta quinta-feira (25), Elon Musk e membros da campanha de DeSantis atribuíram as instabilidades ao “sucesso” do lançamento, pois teria chamado tanta atenção que “quebrou” a plataforma.

Já trabalhadores e ex-funcionários da rede social ouvidos pela Reuters em novembro de 2022 já alertavam que demissões em massa poderiam gerar instabilidades em situações como essa — o que torna a falha na sessão do Twitter Spaces uma crônica anunciada.

O desligamento de Foad Dabiri, que não se sabe se voluntário ou a pedido de Elon Musk, corrobora as críticas.

Na série de postagens sobre sua história no Twitter, ele faz seguidos elogios ao que considera o motivo de o Twitter ser excepcional: “as pessoas”. 

O engenheiro agradeceu a várias pessoas com quem trabalhou no Twitter, e reservou um post a Elon Musk, sem elogios ou agradecimentos. 

Dabiri disse que aprendeu muito com a experiência de trabalhar com Elon Musk e “compreendeu como seus princípios e visões estão moldando o futuro da empresa”, sem pistas sobre para o bem ou para o mal. 

De acordo com o observatório NetBlox, o Twitter teve seis grandes quedas durante o primeiro semestre deste ano. Em contrapartida, apenas três ocorreram no mesmo período, em 2022.

Outras áreas da rede social também tiveram falhas. Ainda em março deste ano, diversos usuários apontaram problemas para acessar links nas plataformas.

Mesmo o Twitter Blue — plano de assinatura da rede social por R$ 42 mensais, com recursos exclusivos, como o selo de validação de contas — também teve um lançamento turbulento.

No dia de sua inauguração, diversos usuários do Twitter esbarraram com uma mensagem que impedia o uso da plataforma, informando: “Você ultrapassou o limite diário de Tweets.”

A reserva do selo azul de verificação às contas pagas também gerou problemas. Diversos assinantes usaram a suposta validação para criar contas falsas que iam de conteúdo de paródia até a propagação de fake news.