A nova CEO trazida por Elon Musk mal assumiu e precisa lidar com uma bomba: o New York Times revelou nesta segunda-feira que a plataforma teve uma queda de 59% em publicidade nos EUA no mês de abril em comparação ao mesmo período do ano passado.
Linda Yaccarino fez uma carreira brilhante como presidente da área de propaganda e vendas da NBCUniversal – mas lá não tinha os problemas que enfrentará no Twitter, cuja receita de 1º de abril até a primeira semana de maio foi de US$ 88 milhões.
Segundo uma apresentação interna a que o jornal americano teve acesso, a equipe de vendas está preocupada com a fuga dos anunciantes devido ao aumento de desinformação e discurso de ódio, e também à proliferação de anúncios de jogos de azar, pornografia e drogas.
Queda de 56% na propaganda em maio
No entanto, a mensagem transmitida por Musk ao público é diferente. Em declarações recentes, ele afirmou que a publicidade no Twitter estava crescendo, e que “quase todos os anunciantes retornaram”.
O documento visto pelo New York Times aponta que a empresa tem fechado várias semanas abaixo das projeções de venda de publicidade no país, às vezes chegando até 30% menos.
Funcionários e ex-funcionários da rede social ouvidos pelo jornal acreditam que o quadro não irá melhorar tão cedo.
A previsão de queda para maio é de 56%.
A venda de anúncios responde por 90% do faturamento do Twitter. Assim que Musk assumiu, anunciantes de peso deixaram de investir seus recursos na plataforma em reação ao relaxamento da moderação e volta de usuários controvertidos e associados a teorias conspiratórias.
Leia também | Twitter volta a vender ‘selo azul’ de autenticidade por US$ 8 e dissolve Conselho de Segurança no mesmo dia
Uma fonte ouvida pelo New York Times, Jason Kint, CEO da associação de anunciantes Digital Content Next, disse que o Twitter ficou “imprevisível e caótico”.
Ele acrescentou que os anunciantes querem um ambiente em que se sintam confortáveis e possam mandar mensagens adequadas sobre as suas marcas.
O jornal disse ter ouvido três funcionários e ex-funcionários, que confirmaram redução de investimentos em propaganda por parte de grandes arcas como Apple, Google, Amazon e Disney. Nenhuma quis comentar a informação.
Linda Yaccarino foi escolhida por Musk por sua capacidade de articulação e de pensar publicidade — ponto sensível da rede social — “de forma inovadora”.
Um porta-voz de Yaccarino disse ao New York Times que a executiva não comentará o assunto. Elon Musk não respondeu a um pedido de comentário.
O Twitter passou a responder consultas de jornalistas com um emoji de cocô.
Leia também | Nós testamos: jornalistas agora recebem emoji de cocô ao contactarem assessoria do Twitter
Publicidade em queda não é único desafio do Twitter
A solução do problema de queda na publicidade no Twitter não depende apenas de habilidade de marketing e vendas.
Será preciso recuperar a confiança dos anunciantes, uma batalha complexa diante dos vários problemas que têm afastado usuários e colocado o Twitter em confronto com autoridades regulatórias.
Queda de público
Uma pesquisa do Pew Research Center aponta que seis a cada dez tuiteiros relataram ter “dado um tempo” de várias semanas da plataforma nos últimos meses nos Estados Unidos.
E o futuro não é animador: 25% dos usuários não se veem mais na rede social daqui a um ano. Entrevistados que se identificam com o Partido Democrata são os mais inclinados a se afastar do Twitter.
Leia também | Futuro do Twitter: pesquisa mostra que 25% dos usuários dos EUA não se veem na rede daqui a um ano
Instabilidade e fiascos
Além da queda de publicidade, as demissões em massa tiveram impacto no próprio do Twitter: a plataforma vem passando por uma série de instabilidades no seu funcionamento.
O problema ficou especialmente crítico quando o governador da Flórida, Ron DeSantis, candidato à presidência dos EUA, utilizou o Twitter Spaces — espécie de “áudio ao vivo” da rede social — para anunciar a candidatura. O anúncio foi permeado por quedas e falhas.
A plataforma também passou por seis grandes quedas durante o primeiro semestre deste ano. Em contrapartida, apenas três ocorreram no mesmo período, em 2022.
Leia também | Chefe de engenharia deixa Twitter após fiasco em lançamento da campanha de DeSantis com Musk
Conteúdo extremo circulando solto
Um teste recente feito pela organização britânica Center for Countering Digital Hate (CCDH) constatou que o Twitter não tomou atitudes em relação a 99% do conteúdo com discurso de ódio postado por assinantes do Twitter Blue e reportados à plataforma.
Segundo o CCDH, isso sugere que a rede social está permitindo que usuários que pagam pelo selo de autenticidade quebrem as regras da comunidade e aumentem algoritmicamente os tweets tóxicos.
Os posts sinalizados ao Twitter pela organização continham conteúdo racista, homofóbico, neonazista, antissemita ou de conspiração. Todos foram postados em abril e maio.
Leia também | Teste revela que Twitter não remove conteúdo de ódio de contas com Selo Azul
Briga com União Europeia
O Twitter também deixou de fazer parte do Código de Práticas contra Desinformação da União Europeia (UE), em um passo interpretado como possível saída da rede social dos países que fazem parte do bloco da Europa que é guiado por leis comuns.
Analistas especulam que Elon Musk esteja planejando retirar a rede social da Europa antes que a Lei de Serviços Digitais (DSA, na sigla em inglês) entre em vigor, em 25 de agosto, a fim de evitar o risco de multas pesadas ou até de banimento.
Parte disso seria porque, para o ex-CEO, a Europa é um mercado secundário, e porque não há quadro de funcionários suficiente para atingir o nível de moderação exigido pela agência regulatória.
Leia também | Analistas especulam sobre saída do Twitter da UE após plataforma deixar Código contra desinformação