Crises de audiência parecem atingir diversos veículos de mídia, mas não é um problema do mercado de podcasts, segundo o Digital News Report 2023, novo relatório do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo da Universidade de Oxford.
A pesquisa aponta que o consumo mensal deste formato de conteúdo segue em crescimento em pelo menos 20 países desde 2018, formando uma indústria promissora para os próximos anos.
O documento traz diversas análises do setor midiático, consumo de notícias e plataformas digitais em 46 países, incluindo insights como, por exemplo, o de que o brasileiro evita menos o noticiário do que o resto do mundo.
Mercado de podcasts noticiosos cresce timidamente
A pesquisa se concentrou nos padrões de consumo em 20 países cuja indústria de podcasts já estava estabelecida, como EUA, Japão, Austrália, Argentina e diversos países da Europa.
Nestes países, a média do uso geral cresceu entre pouco mais de um quarto a pouco mais de um terço entre 2018 a 2023. Os programas de notícias, porém, tiveram um aumento tímido, de 11 a 12%.
No relatório, Nic Newman, jornalista e pesquisador, do Instituto Reuters, explica que o mercado de podcasts noticiosos tem espaço para crescer, mas “dividem a bola” com programas temáticos.
“[Podcasts de] Notícias brigam por atenção com programas de especialistas e de estilo de vida, muitos deles também lidando com assuntos noticiosos como negócios, tecnologia e saúde.”
O consumo de notícias neste formato também apresenta algumas discrepâncias. Nos EUA, 19% do público consultado chegou a acessar esse formato no mês anterior. Enquanto isso, França (9%) e Reino Unido (8%) apresentaram os números mais baixos.
Para Newman, a diferença exibe a diversificação e a potência da monetização do formato nos EUA, que conseguiu captar a atenção pública e transformar isso em consumo. Já na Europa, o motivo pode ser o próprio cenário noticioso local:
“Em muitos países europeus, a existência de uma produção de alta qualidade que vem de rádios públicas e comerciais pode ter dificultado que um setor de podcasts independente tivesse maior tração.”
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Podcasts fazem sucesso entre jovens, ricos e diplomados
Não é só para o jornalismo que o mercado de podcasts pode trazer bons resultados — os anunciantes também podem se beneficiar muito com isso.
De acordo com a pesquisa, mesmo não tendo um público comparável ao de um meio de comunicação em massa, os consumidores tendem a ser mais ricos, com 41% deles classificados com altos salários.
A formação educacional também é seleta: 46% do público com ensino superior ou títulos de mestrado e doutorado consome o formato.
No entanto, o maior destaque está na faixa etária alcançada pelo conteúdo: 56% dos pesquisados de 18 a 24 anos consumiram podcast no mês anterior. Entre os consultados de 25 a 34 anos, a porcentagem é de 53%.
Para Newman, a tendência é reflexo direto da relação desta idade com a tecnologia:
“(…) pessoas mais jovens na maioria dos países têm mais probabilidade de fizer que preferem escutar conteúdo noticioso comparado a grupos mais velhos — em parte porque passam muito mais tempo com celulares.”
No entanto, o pesquisador explica que a facilidade de acesso e os hábitos de uso podem beneficiar a todos os públicos:
“Pessoas de todas as idades acham os podcasts um formato conveniente para quando vão ao trabalho, passeiam com o cachorro, vão à academia, ou fazem tarefas mundanas, como faxina.”
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Mesacasts são maioria dos formatos ouvidos
Além dos níveis de consumo presentes no mercado, a pesquisa avaliou de 200 a 700 podcasts que os entrevistados consideravam como “noticiosos”, classificando-os por produção, formato e país de origem.
Como resultado, descobriram que:
- O formato de “conversa estendida” cara a cara — no Brasil, popularizado como “mesacasts” — é o mais popular;
- Resumos noticiosos, como o 5 Things from CNN, também são amplamente consumidos pelo público;
- Em contrapartida, documentários e séries documentais, de 30 minutos ou mais, eram mencionados com menor frequência.
A pesquisa concluiu que, entre países de língua inglesa, 50% do público tende a consumir podcasts de outros territórios.
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