A Federaรงรฃo Internacional de Futebol (Fifa) colocou ร  disposiรงรฃo das seleรงรตes que disputarรฃo a Copa de Futebol Feminino 2023 um pacote de ferramentas para minimizar a avalanche de abuso online que atingiu os jogadores na Copa do Catar, segundo um novo relatรณrio publicado pela organizaรงรฃo. 

No torneio masculino, o sistema da Fifa monitorou mais de 20 milhรตes de postagens em redes sociais, ocultou mais de 286 mil com conteรบdo abusivo antes de serem vistas e denunciou 19,636 publicaรงรตes, muitas delas removidas pelas plataformas.

Do total, quase 3 mil foram dirigidas a jogadores brasileiros, que ficaram em segundo lugar entre os mais atacados, atrรกs dos franceses e seguidos pelos ingleses. As agressรตes tambรฉm acontecem no campo, como ocorreu com o brasileiro Vinรญcius Jรบnior na Espanha. 

Como funciona o sistema de proteรงรฃo contra abuso online

O problema de abuso online a jogadores nรฃo รฉ novo, e acaba fomentando casos como o do brasileiro Vinรญcius Jรบnior, alvo de insultos racistas na Espanha. 

O alarme foi dado em um relatรณrio independente constatando que mais da metade dos atletas participantes da final da Eurocopa em 2020 e do CAF AFCOM 2021 foram atingidos por conteรบdo de รณdio.

A organizaรงรฃo uniu-se entรฃo ร  Fifpro (Football Players World, associaรงรฃo que reรบne os jogadores de futebol em nรญvel internacional) para desenvolver o pacote de ferramentas usado pela primeira vez no Catar. 

O sistema utiliza inteligรชncia artificial para localizar e denunciar ร s plataformas digitais o conteรบdo abusivo postado durante os torneios. As postagens capturadas pela IA sรฃo verificadas por moderadores humanos antes de serem reportadas. 

Hรก tambรฉm um software de moderaรงรฃo que esconde automaticamente comentรกrios ofensivos das pรกginas dos jogadores e participantes dos torneios.

Esse sistema serรก novamente usado na Copa de Futebol Feminino, que acontece na Austrรกlia e Nova Zelรขndia a partir de 20 de julho, monitorando e denunciando discurso de รณdio contra as jogadoras e seleรงรตes no Facebook, Instagram, TikTok, Twitter e YouTube. 

Fifa contabilizou o abuso online a jogadores

Alรฉm de proteger os jogadores e o pรบblico ao ocultar as postagens ofensivas antes de serem vistas, o sistema da Fifa permitiu mapear com precisรฃo a origem e a natureza dos ataques durante a competiรงรฃo no Catar. 

Do total de postagens e publicaรงรตes, 38% foram identificadas como originรกrias da Europa. Outros 36% vieram da Amรฉrica do Sul. 

paรญses com maior origem de abuso
(Foto: Reproduรงรฃo/FIFA)

Os jogadores da Franรงa, que terminaram o torneio como vice-campeรตes, foram os mais atacados, segundo a Fifa.

A maior concentraรงรฃo de abuso online foi registrada na partida  das quartas de final entre Inglaterra e Franรงa, na qual o inglรชs Harry Kane perdeu um pรชnalti. 

Contas de jogadores e times do Brasil e da Inglaterra vieram em seguida. 

grรกfico dos times com maior alvo de abuso na Copa do Catar 2022
(Foto: Reproduรงรฃo/FIFA)

Durante a fase de grupos, o Mรฉxico teve quase o dobro de mensagens abusivas direcionadas a seus jogadores em comparaรงรฃo com outras seleรงรตes.

O abuso detectado nos estรกgios iniciais do torneio foi mais baseado em questรตes e eventos nรฃo relacionados ao futebol, como homofobia.

As plataformas da Meta concentraram quase dois terรงos do conteรบdo de รณdio contra jogadores โ€” 43% publicados no Instagram e outros 24% no Facebook. O Twitter respondeu por 26%.

plataformas com maiores quantidades de abuso online detectados
(Foto: Reproduรงรฃo/FIFA)

Enquanto 26% do total de abusos detectados foram classificados como “abuso geral”, outros 17% eram de natureza sexual. Em seguida aparecem sexismo (13%), homofobia (12%) e racismo (11%).

Relatรณrio Fifa abuso online jogadores Copa Catar

Segundo o relatรณrio, a violรชncia e as ameaรงas tornaram-se mais extremas ร  medida que o torneio avanรงava, com as famรญlias dos jogadores cada vez mais citadas e muitas ameaรงadas se voltassem para um determinado paรญs – seja a naรงรฃo que representam ou onde jogam futebol.

Redes sociais precisam ‘fazer sua parte’ contra abuso online

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, teme que o mesmo cenรกrio de abuso online direcionado aos jogadores de futebol no Catar em 2022 se repita durante a Copa Feminina de 2023.

Segundo a organizaรงรฃo, diversas atletas jรก confirmaram que usarรฃo o recurso de moderaรงรฃo que oculta postagens ofensivas. 

A Fifa tambรฉm implementou um sistema confidencial de denรบncias online para que os participantes possam apontar abusos. O espaรงo permite o envio das publicaรงรตes, bem como registros, como a captura de tela, sem se identificar.

Para Infantino, รฉ necessรกrio que empresas de tecnologia e outras partes envolvidas tambรฉm faรงam sua parte contra a questรฃo:

“Esperamos que as plataformas de redes sociais aceitem suas responsabilidades e nos apoiem no combate contra todas as formas de discriminaรงรฃo. Nossa posiรงรฃo รฉ clara: nรณs dizemos nรฃo ร  discriminaรงรฃo.”

O presidente da Fifa disse esperar tambรฉm que a ferramenta ajude autoridades a punir abuso online contra jogadores de futebol.

O comentรกrio estรก alinhado com posiรงรตes recentes de entidades de diversos setores, como o Departamento de Saรบde dos EUA, o Vaticano e atรฉ mesmo a Organizaรงรฃo das Naรงรตes Unidas (ONU).

Cada uma, a seu modo, critica o modelo de redes sociais que lucra sobre o engajamento, e por isso mesmo, incita o รณdio.