Londres – Os riscos para jornalistas que cobrem a região da Cisjordânia, onde em 2022 a repórter da Al Jazeera Shireen Abu Akleh foi assassinada por forças de segurança de Israel, foram agravados nos últimos dias durante a operação militar no campo de segurança de Jenin, marcada por cenas de violência. 

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), vários profissionais de imprensa foram alvo de atiradores de elite israelenses enquanto faziam reportagens no local. 

Outros foram surpreendidos por explosões ou tiroteios perto de onde faziam transmissões ao vivo, como o editor internacional da BBC, James Bowen. 

Impactos da violência na Cisjordânia 

Veterano correspondente de guerra, Bowen foi obrigado a interromper o comentário quando falava do impacto sobre jovens e crianças, “que crescem vendo isso”. 

Nesse momento um estrondo é ouvido, seguido de tiros, fazendo o jornalistas se abaixar assustado.  Ele olha então para trás e calmamente diz achar que os tiros ouvidos parecem estar sendo disparados por palestinos, “situação que vem se repetindo ao longo do dia”.  

James Bowen segue calmo mas diz que “provavelmente é melhor parar por aqui”. 

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A maioria dos jornalistas que cobrem zonas de conflito, principalmente os de grandes organizações de mídia, recebem treinamento e  utilizam equipamentos de proteção e identificação. 

Mas nos últimos dias, a sinalização “press” em coletes e capacetes nem sempre foi respeitada pelas forças israelenses, segundo a Federação Internacional de Jornalistas e o Sindicato de Jornalistas Palestinos (PJS). 

De acordo com o sindicato, soldados israelenses atiraram em Isam Abu Shaqra e Isam Al Rimawi, da agência de notícias turca Anadolu, e em Abdulrahman Younis, do Russia Today, enquanto faziam reportagens no local.

Soldados israelenses também dispararam contra o repórter da TV Al-Araby, Amid Shehadeh, durante uma transmissão ao vivo. A câmera e o transmissor do cinegrafista Rabi Munir foi alvejada repetidas vezes. 

O tiroteio continuou até que o transmissor explodiu e a câmera caiu do tripé. A equipe se abrigou em uma casa próxima, onde permaneceu até ser escoltada pela Cruz Vermelha e pelo Crescente Vermelho e removidos do local por uma ambulância, como mostra o vídeo. 

A Al-Araby chamou o ataque de “um alvo flagrante de equipes de jornalistas e seus equipamentos sem nenhuma razão além de prejudicar deliberadamente os jornalistas, atrapalhar seu trabalho e interromper sua cobertura”.

E denunciou “uma clara violação das normas e padrões internacionais de direitos humanos que garantem a segurança dos jornalistas”.

Em um vídeo , o jornalista palestino Ali Al-Samoudi, que também fazia reportagens de Jenin, disse: 

“Estamos enfrentando graves ameaças às nossas vidas. É claro que houve uma decisão das forças de ocupação para impedir que os jornalistas cobrissem o que estava acontecendo no campo.”

Ele estava ao lado da palestina Shireen Abu Akleh quando ela foi morta, há pouco mais de um ano. 

Ataques a jornalistas na Cisjordânia se repetem

A FIJ salientou a que esta não é a primeira vez que profissionais  da mídia são alvo de ataques no campo de Jenin. Em 19 de junho, o jornalista Hazem Nasser, cinegrafista do canal de TV Al-Ghad, foi  baleado  e ferido, apesar de usar um colete com a sinalização ‘imprensa’ durante uma operação.

Outro grupo de jornalistas ficou na mira de tiros disparados por um franco-atirador enquanto estava no telhado de um prédio residencial, apesar de estarem igualmente identificados com seus equipamentos de imprensa, de acordo com o PJS. 

Em 8 de junho, o fotojornalista palestino Momen Samreen foi baleado na cabeça e gravemente ferido com uma bala de borracha disparada por soldados israelenses enquanto relatava um ataque militar na cidade de Ramallah. Na mesma operação, a fotojornalista local Rabie Mounir foi atingida no abdômen. 

Em conflitos recentes como o da Cisjordânia e a guerra da Ucrânia, ataques diretos a jornalistas por forças de segurança ou militares tornaram-se comuns, mudando o padrão anterior de fatalidades de profissionais de imprensa nessas coberturas.

No passado, as mortes aconteciam em sua maioria em situações de fogo cruzado ou explosões e não em ataques deliberados a profissionais de imprensa.