O corpo do jornalista Luis Martín Sánchez foi encontrado no sábado com sinais de violência nos arredores de Tepic, capital do estado de Nayari, no México, expondo a violência incessante contra a imprensa no país.
O repórter, de 59 anos, era correspondente local do diário nacional La Jornada e estava desaparecido desde quarta-feira. Ao lado do corpo havia mensagens manuscritas ao lado, prática adotada pelos cartéis de drogas.
Outros dois jornalistas foram capturados na mesma região na semana passada. Um deles, Jonathan Lora, foi encontrado com vida no sábado, enquanto Osisis Maldonado segue desaparecido.
Com sede na Cidade do México, o La Jornada é listado pelo Digital News Report do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo como um dos meios de comunicação mais acessados do país.
O estado de Nayarit, entre Jalisco e Sinaloa, é assolado pela violência praticada pelos grandes cartéis de drogas do México.
A Procuradoria do Estado de Nayarit confirmou os casos e informou que a principal linha de investigação é a atividade jornalística das vítimas, pois “sabe-se que em algum momento os três colaboraram em projetos conjuntos relacionados com a sua profissão, bem como em assuntos de natureza pessoal”.
Não houve detalhes sobre o que as mensagens deixadas ao lado do corpo de Sanchéz diziam, nem as circunstâncias de sua captura.
A mulher do jornalista, Cecilia, que notificou o desaparecimento à polícia, disse que ele a levou na quarta-feira para visitar parentes no município de Acaponeta, mas regressou à noite e confirmou que havia chegado à residência.
Desde então ela perdeu contato com o jornalista. O computador, um disco rígido, o telefone celular e a credencial de imprensa não foram encontradas na casa.
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Violência contra a imprensa no México
A violência contra jornalistas no México é crônica. Um levantamento feito pela organização Repórteres Sem Fronteiras no ano passado revelou que 135 profissionais de imprensa foram vítimas de crimes no país em 20 anos, número superado apenas pela Síria e Iraque, países em guerra.
Entidades de liberdade de imprensa usam metodologias diferentes para contabilizar crimes contra jornalistas, levando em conta a comprovação pelas autoridades de que o ato foi relacionado ao trabalho (o que muitas vezes não acontece por desinteresse da polícia em investigar) ou status profissional (se a vítima pertence a um veículo estabelecido ou trabalha de forma independente).
Segundo o registro da Unesco, foram 19 crimes em 2022, mais do que na Ucrânia em guerra.
Este ano, o fotojornalista José Ramiro Araujo, 67, foi esfaqueado e espancado até a morte no estado de Baja California, norte do México. Mas segundo o La Jornada, outros quatro profissionais de imprensa teriam sido mortos em 2023.
Muitos das vítimas trabalhavam em pequenos veículos do interior do país, denunciando corrupção ou criminalidade, mas esse não foi o caso de Sánchez Iñiguez, profissional de um jornal de circulação nacional com sede na capital.
Além de Luis Martín Sanchez, outro jornalista da Cidade do México, o apresentador de programas policiais Carlos Jimenez, foi colocado sob proteção do governo na semana passada após ameaças à sua vida feitas por meio de um vídeo postado em suas redes sociais.
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