Os jornalistas Andersson Boscán e Mónica Velásquez tiveram que deixar esta semana o Equador às pressas depois de tomarem conhecimento de um plano de ataque por parte da máfia albanesa, que tem atuação destacada no tráfico de drogas no país. 

Boscán, casado com Velásquez, é um dos fundadores do veículo independente La Posta, que publicou uma reportagem com denúncias de corrupção e narcotráfico envolvendo o cunhado do presidente Guillermo Lasso e membros da máfia albanesa.

Na última terça-feira (25), eles fugiram do país após serem informados por uma agência de inteligência europeia sobre os riscos que corriam. 

Empresário do Equador ligado ao tráfico falou sobre ataque 

A organização de liberdade de imprensa Fundamedios teve acesso a uma carta escrita pelos jornalistas detalhando as ameaças que vêm recebendo do crime organizado desde 2021, incluindo fotos de suas filhas. 

No entanto, eles explicam que depois de uma investigação chamada O Grande Poderoso Chefão, na qual o cunhado do presidente, Guillermo Lasso, estaria envolvido em uma trama de corrupção e narcotráfico, essas ameaças se intensificaram.

O caso envolve o cunhado e mentor de Lasso, uma figura influente chamada Danilo Carrera Druet, e a máfia albanesa que opera no Equador, segundo o jornalista Luis Vivanco, outro fundador do La Posta, que também estaria na mira dos criminosos.

O elo entre os dois seria Rubén Cherres, “o melhor amigo do cunhado do presidente”, que “colocou funcionários em posições estratégicas no Estado, e depois também procedeu nessas instituições a cometer atos de corrupção”, como explicou Vivanco.

“Essa aliança entre o governo e a máfia foi revelada pela nós e, nesse contexto, tanto o governo quanto a máfia se tornam nossas duas principais ameaças ”, afirmou ele em entrevista à RFI. 

O La Posta publicou uma nota sobre a partida dos jornalistas, responsabilizando diretamente o presidente Guillermo Lasso. 

Tráfico albanês em missão de ataque a jornalistas no Equador

A carta vista pela Fundamedios relata que a fonte estrangeira informou o La Posta sobre a chegada de um grupo operativo da máfia albanesa ao país há duas semanas, com ordem de atentar contra as suas vidas e de outras pessoas. Esta informação foi corroborada por fontes policiais da mídia, disse a Fundamedios em nota.

Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas, os repórteres do La Posta também obtiveram arquivos de áudio em que um empresário do Equador fala com um membro da máfia albanesa envolvida no tráfico sobre atacar Boscán em um ataque não especificado.

“As autoridades equatorianas devem investigar minuciosamente as ameaças contra os jornalistas Andersson Boscán e Mónica Velásquez e garantir que eles possam retornar ao país com segurança”, disse Cristina Zahar, coordenadora CPJ para a América Latina e Caribe.

“É escandaloso que os jornalistas estejam fugindo do Equador em meio a ameaças tão generalizadas em resposta ao seu trabalho.”

Em sua declaração, Boscan disse que a polícia equatoriana estava ciente das ameaças feitas na gravação, mas informou ao CPJ que “não foram alertados sobre o risco que corriam”.

“O La Posta continuará fazendo seu trabalho, confiante de que este país merece a verdade e o jornalismo livre”, disse o comunicado do site. 

Crise de liberdade de imprensa no Equador 

O Equador vive uma crise de violência que se reflete na liberdade de imprensa, com vários episódios recentes. 

Em junho, a jornalista Lissette Ormaza foi perseguida e sofreu um acidente de automóvel após uma reportagem sobre falhas em freios de um ônibus que teria causado uma batida deixando dois mortos. 

Antes de partida de Andersson Boscán e Mónica Velásquez devido às ameaças da máfia albanesa, pelo menos outros dois profissionais de imprensa saíram do Equador por medo de ataques este ano. 

O país ocupa o 80º lugar no Global Press Freedom Index da organização Repórteres Sem Fronteiras, que lista 180 nações, tendo caído este ano 12 posições na lista. 

A análise da situação do país destaca o clima de crescente hostilidade, perigo físico e autocensura, marcado pelo aumento do poder de gangues criminosas e cartéis de drogas, assim como aumento de ameaças, agressões físicas e assassinatos de profissionais de imprensa. 

Em 2022, dois repórteres foram assassinados no país.