A onda de violência contra profissionais de mídia na América Latina fez mais vítimas, com o assassinato de dois jornalistas em menos de um mês no Equador.

Os repórteres Gerardo Delgado e Mike Cabrera morreram em casos paralelos num espaço de três semanas. Em ambos crimes, entidades defensoras da liberdade de imprensa cobram das autoridades investigações relacionadas às atividades profissionais deles.

O ano de 2022 já é considerado um dos mais trágicos para a imprensa da região: 23 jornalistas foram assassinados até agora, com 13 mortes registradas somente no México. Haiti (3), Honduras (2), Brasil (1), Guatemala (1) e Chile (1) também tiveram crimes.

Jornalista é baleado em carro com a filha no Equador

O jornalista Gerardo Delgado era proprietário do veículo OlaManta, que mantém páginas no Facebook e Instagram onde são postadas informações de serviço público e reclamações dos cidadãos.

Ele também foi pré-candidato a vereador da cidade de Manta.

Na quarta-feira (10), ele foi baleado enquanto dirigia acompanhado de sua filha pequena na província de Manabí.

Delgado não resistiu aos ferimentos, mas a criança saiu ilesa do incidente. A polícia prendeu dois suspeitos pelo crime.

Colegas do repórter organizaram um ato pacífico no dia seguinte ao assassinato para pressionar as autoridades a apurarem as causas do crime.

Semanas antes, em 24 de julho, o jornalista Mike Cabrera também foi assassinado na província de Manabí.

Segundo a Associação Interamericana de Imprensa (SIP, em espanhol), Cabrera foi agredido quando conversava com outras pessoas em uma avenida da cidade de Portoviejo.

Dois homens armados, que estavam em uma motocicleta, atiraram neles seis vezes.

O repórter de 33 anos era o responsável pela página Nexo Digital nas redes sociais, na qual publicava temas de interesse da comunidade local.

A SIP condenou os crimes e cobrou um sistema de proteção a profissionais da mídia no Equador, conforme previsto na Lei de Comunicação.

“Esses novos assassinatos são um argumento poderoso para que o governo ative imediatamente um mecanismo de proteção para repórteres como os já existentes no Brasil, Colômbia, Honduras e México”, disseram, em nota conjunta, Jorge Canahuati, presidente da SIP, e Carlos Jornet, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação.

“Pedimos às autoridades que aprofundem as investigações sem descartar sua atividade jornalística, para encontrar todos os envolvidos, à justiça e evitar que crimes fiquem impunes.”

México, o mais letal para jornalistas em 2022

A alta de letalidade de jornalistas na América Latina é inflada pelos números do México: ao menos 13 profissionais de mídia já foram mortos no país em 2022.

O número alerta organizações de jornalismo, que monitoram de perto os casos e pressionam o governo mexicano a proteger o trabalho da imprensa.

Um dos casos mais recentes foi o de Antonio de la Cruz, de 47 anos, que trabalhava há quase 30 anos no jornal regional Expresso.

Ele foi atingido por tiros quando deixava sua casa em Ciudad Victoria, no nordeste do México, em 29 de junho. Sua filha de 29 anos também foi atingida e morreu no hospital. 

De la Cruz fazia reportagens sobre questões rurais e sociais na cidade localizada na fronteira do estado de Tamaulipas, que enfrenta questões de violência e crime organizado.

Assim como no Equador, no país governado pelo presidente Andrés Manuel Lopéz-Obrador, todas as mortes foram de jornalistas de veículos de comunidades ou blogs locais.

Isso também aconteceu no Brasil, onde em fevereiro o cearense Givanildo Oliveira foi assassinado depois de noticiar em seu portal de notícias a prisão de um homem acusado de homicídio.

Em julho, o jornalista mexicano Rodolfo Fontes, que foi ameaçado de morte, tomou uma atitude drástica para evitar o mesmo destino de outros colegas assassinados no país: apelou por segurança diretamente ao presidente, Andrés Manuel López Obrador, durante a entrevista coletiva diária do líder do país à imprensa.

Em um discurso comovente, ele aproveitou o momento final da sessão, transmitida ao vivo pelo YouTube, para falar das ameaças e denunciar que a escolta foi retirada pelo governo. O protesto foi notícia pelo mundo. 

Entre lágrimas, o repórter informou que as ameaças teriam partido do cartel Jalisco Nueva Generación, mas disse suspeitar que um funcionário público possa estar envolvido.

Por isso, assegurou que ratificará sua denúncia perante a Promotoria Especializada de Atendimento aos Crimes Cometidos contra a Liberdade de Expressão (Feadle) e apresentaria provas contra o funcionário.