O premiado jornalista cubano Abraham Jiménez Enoa, exilado na Espanha, denunciou que foi vítima de ameaças quando caminhava com o filho de dois anos em Barcelona, onde passou a viver desde que deixou Cuba para fugir da repressão do regime de seu país. 

Jiménez postou a ameaça no Twitter, dizendo que homens com sotaque cubano gritaram: “Abraham, sabemos que você está perto de casa.”

O jornalista disse não ter conseguido ver seus rostos, mas relatou ter ouvido risos enquanto eles se afastavam. Por não ter como identificar os homens, ele não pôde reportar o incidente à polícia. 

Jornalista fugiu da repressão em Cuba 

Jiménez é um jornalista afro-cubano freelancer, co-fundador da revista online El Estornudo e colunista do jornal americano Washington Post. 

Em outubro de 2020, as autoridades cubanas o detiveram e o interrogaram sobre seu trabalho. Pouco tempo depois, ele publicou uma coluna no Washington Post intitulada “Se esta é minha última coluna aqui, é porque fui preso em Cuba”, descrevendo seu interrogatório.

O jornalista saiu de Cuba em setembro de 2021, após assédio persistente das autoridades em retaliação por sua cobertura crítica da repressão no país. 

Em 2022, ele recebeu o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), e já foi premiado por outras organizações em reconhecimento à sua coragem. 

No dia 20 de julho deste ano, ele foi um dos cinco jornalistas homenageados no prêmio One Young World.

Ao relatar as ameaças sofridas em Barcelona, Jiménez Enoa declarou que resistiria ao assédio: 

O único objetivo é tentar intimidar os que denunciam os abusos do regime, mesmo que estejamos a um oceano de distância. Desnecessário dizer que nunca vou ficar calado.

Estar na Europa não é garantia de segurança para jornalistas exilados. Em março de 2022, o cidadão britânico de origem paquistanesa Muhammad Gohir Khan foi condenado no Reino Unido à prisão perpétua por tentar matar o blogueiro paquistanês Ahmad Waqass Goraya, refugiado na Holanda. 

Preocupação com jornalista de Cuba 

“Estamos preocupados com os comentários ameaçadores feitos ao jornalista cubano Abraham Jiménez Enoa”, disse Cristina Zahar, coordenadora do CPJ para a América Latina e Caribe. 

“As autoridades espanholas devem conduzir uma investigação completa sobre as ameaças contra ele e sua família e garantir que eles permaneçam seguros. 

Cabe à Espanha e a outros países da União Europeia garantir a segurança dos jornalistas que enfrentam ameaças dentro de suas fronteiras”.   

Jiménez disse ao CPJ que não foi a primeira vez que foi ameaçado por indivíduos com sotaque de Cuba. Ele contou que em março de 2022, durante um painel em Amsterdã, um cubano pediu para falar da platéia e tentou desacreditá-lo, alegando que tudo o que ele dizia sobre o país era mentira. 

“Quando o painel acabou, ele me procurou e me ofendeu, até que os organizadores do evento o afastaram”, disse ele. 

Em junho de 2023, durante a Feira do Livro de Madri, um homem com sotaque cubano também o seguiu e o fotografou.

Cuba, 172ª em liberdade de imprensa 

Cuba ocupa o 172º lugar no ranking Global Press Freedom Index da organização Repórteres sem Fronteiras, que lista 180 países. 

Segundo a RSF, Cuba continua, ano após ano, a praticar o mais alto grau de repressão à imprensa na América Latina. 

“O acesso à Internet ainda é majoritariamente controlado pelo Estado. Blogueiros e jornalistas podem se expressar online, mas o fazem por sua própria conta e risco.

Eles são frequentemente submetidos a assédio que pode variar de interrogatórios até prisão domiciliar para impedir a cobertura de acontecimentos importantes.”

Os riscos são grandes para os que continuam no país, sujeitos a perseguição por parte do governo de Cuba, diz o relatório. 

Prisões, detenções arbitrárias, ameaças de prisão, perseguições e assédio, batidas ilegais em residências, confisco e destruição de equipamentos – tudo isso aguarda os jornalistas que não seguem a linha do Partido Comunista Cubano.

As autoridades também controlam a cobertura dos jornalistas estrangeiros, concedendo credenciamento seletivamente e expulsando aqueles considerados “muito negativos” sobre o governo.

O país acaba de aprovar uma nova lei vista por organizações de liberdade de imprensa e de expressão como mais uma ameaça.