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Jornalista americano completa 11 anos preso e incomunicável na Síria; governo Biden é pressionado a agir

Jornalista americano Austin Tice, preso na Síria em 2021, apareceu em um vídeo mas nunca se comunicou desde então

Londres – O jornalista americano Austin Tice completou nesta segunda-feira (14) 11 anos preso e incomunicável na Síria, onde cobria a guerra civil para vários meios de comunicação dos EUA. 

O caso está na pauta diplomática do governo americano. No último Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que “o país estava conversando com a Síria e outras nações para encontrar uma solução, e que não iria ceder enquanto isso não acontecesse”. 

Embora até o presidente Joe Biden tenha mencionado o caso de Tice em seu jantar anual com jornalistas que fazem a cobertura da Casa Branca, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) cobrou que os EUA “combinem palavras com ações e adotem todas as medidas para levá-lo de volta para casa. 

Jornalista americano há mais tempo preso 

Segundo o National Press Club dos EUA, Tice é o jornalista americano há mais tempo preso por um país estrangeiro. O caso mais recente é o de Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, capturado pelo governo russo em março.

Governada por Bashar al-Assad, a Síria ocupa o 175º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa de 2023 da RSF. 

Agora com 42 anos, Austin Tice teve matérias publicadas em veículos como The Washington Post, Associated Press e AFP , e colaborou com reportagens para as redes CBS , NPR e BBC. Ele recebeu o Prêmio do Presidente de 2012 do jornal McClatchy e o Prêmio George Polk de 2012 por Reportagem de Guerra.

Antes de se tornar correspondente, Tice serviu nas Forças Armadas. Ele foi capitão do Corpo de Fuzileiros Navais, e é graduado pela Escola de Serviço Exterior da Universidade de Georgetown. Ao ser capturado, estava se preparando para cursar o último ano de direito na Georgetown Law School.

Austin Tice foi feito prisioneiro em um posto de controle perto de Damasco em 14 de agosto de 2012, a dias de deixar o país. O reconhecimento de sua prisão foi feito no fim daquele mês pelo então embaixador da República Tcheca na Síria, em conversas com jornalistas de seu país.

Cinco semanas após a captura, circulou um vídeo em que ele aparece vendado e cercado por homens armados em uma encosta rochosa do deserto.

Jornalista americano preso na Síria apareceu em um vídeo

Mas ele nunca foi acusado oficialmente ou julgado, e sem se comunicou com autoridades ou com a família nesses 11 anos em que está na Síria.  Há várias campanhas nas redes sociais pedindo por sua libertação, incluindo uma liderada pelo jornal Washington Post. 

Biden pede ‘cooperação’ a Damasco para libertar jornalista 

Embora nunca tenha havido oficialização da prisão de Austin Tice, o presidente Joe Biden declarou em uma entrevista ao jornal Washington Post no ano passado que o governo dos EUA sabe “com certeza que ele está nas mãos do regime sírio”. O jornalista é considerado sequestrado pelo FBI.

Biden pediu a Damasco que “coopere nos esforços para libertá-lo”.

No jantar para os jornalistas credenciados para fazer reportagens na sede do governo americano, o presidente americano reconheceu também os esforços da mãe de Tice, Debra, e disse que o jornalista foi preso por mostrar ao mundo o custo da guerra. 

“É simplesmente errado. É ultrajante. E não estamos parando de nos esforçar para encontrá-lo e trazê-lo para casa”.

Mas Debra, a RSF e outras entidades de liberdade de imprensa acham que o esforço não está sendo suficiente. “Depois de 11 anos, simplesmente não há mais desculpas”, disse em um comunicado o diretor da Repórteres Sem Fronteiras nos EUA, Clayton Weimers. 

O National Press Club (NPC) também criticou a condução dos EUA no caso, apontando que “é difícil encontrar uma história recente de sucesso do governo quando se trata de libertar reféns jornalistas”.

Mãe do jornalista faz campanha incessante 

Na semana passada, o NPC fez um debate sobre o caso com a presença da mãe de Austin Tice. Em sua apresentação, Debra mandou um duro recado a Joe Biden: 

“Senhor Presidente, ações falam mais alto que as palavras. Mostre-me isso. Mostre que Austin tem valor para você e para o país dele. Que vale a pena trazê-lo para casa.”

Foto: reprodução Twitter

A saída para o retorno do jornalista aos EUA poderia ser uma troca de presos ou negociações envolvendo a presença de tropas americanas em território sírio, possibilidades especuladas na mídia mas não confirmadas pelo governo dos EUA. 

Em dezembro de 2022, a jogadora de basquete americana Brittney Griner, condenada a nove anos de prisão por porte de óleo de cannabis na Rússia, foi libertada em uma troca de prisioneiros com os EUA. O país libertou o traficante de armas russo Viktor Bout. 

Em nota fornecida ao site Marine Times, que cobre assuntos militares, o Departamento de Estado dos EUA  disse que estava “apelando ao governo sírio para garantir que Austin Tice e todos os cidadãos americanos mantidos como reféns na Síria possam voltar para casa”. 

Alegando não poder dar mais detalhes “para não prejudicar as possibilidades de progresso”, o Departamento disse que “às vezes, garantir a libertação de um cidadão americano requer conversas diretas com regimes com os quais normalmente não nos comunicamos”. 

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