Londres – O enterro de Yevgeny Prigozhin, o empresário russo fundador do grupo de mercenários Wagner que se rebelou contra Vladimir Putin, foi realizado nesta quarta-feira (29) em São Petersburgo em clima de conspiração e mistério.
Prigozhin morreu no dia 23 de agosto, dois meses após a rebelião, em um acidente de avião que poderia ter sido uma vingança de Putin. Veículos de imprensa independentes russos apontaram o que seriam medidas para conter possíveis protestos e reduzir a visibilidade sobre o fundador do Wagner.
As medidas foram apelidadas de “operação funerária especial”, em alusão à expressão “operação militar especial” adotada pelo Kremlin para denominar a invasão da Ucrânia. Uma delas foi sinalizar vários cemitérios diferentes onde o enterro poderia acontecer.
Trânsito bloqueado perto do possível local do enterro
A hora e o local do funeral não foram divulgados previamente, enquanto policiais e membros do Wagner foram vistos por jornalistas em vários cemitérios da cidade, confundindo a imprensa e quem pudesse querer acompanhar a cerimônia.
Jornalistas do Paper, de São Petersburgo, relataram que desde a madrugada o trânsito foi bloqueado em várias vias em torno do cemitério Serafimovsky, um dos principais da cidade.
Profissionais de imprensa que tentavam entrar eram proibidos de portar equipamentos. Mas o fundador do Wagner acabou sendo enterrado em outro local.
A divulgação só foi feita depois da cerimônia, em um horário em que o cemitério de Porokhovskoe, onde ele foi enterrado, já estava fechado.
A suposta conspiração para garantir discrição no enterro de Yevgeny Prigozhin não foi apenas do governo russo. Integrantes do grupo Wagner também evitaram a imprensa e não informaram previamente onde e quando seria a cerimônia.
Logo após o enterro, a assessoria de imprensa do empresário avisou pelo Telegram: “quem quiser se despedir pode visitar o cemitério de Porokhovskoe”.
As primeiras imagens da sepultura, adornada com a bandeira da Rússia e do grupo Wagner, feitas pelo canal russo Shot, foram compartilhadas pelas redes sociais. Há uma grande fotografia de Prigozhin e o texto emoldurado de um poema de Joseph Brodsky intitulado Natura Morta.
The first shots of the grave of Yevgeny Prigozhin at the Porokhov cemetery in St. Petersburg. Above it are the flags of Russia and PMC "Wagner pic.twitter.com/DjeszV7Ers
— S p r i n t e r (@SprinterFamily) August 29, 2023
Enterro de Prigozhin sem honras militares
Embora tenha sido vital na guerra com a Ucrânia, alocando tropas de combatentes para reforçar o exército russo, o empresário não foi enterrado com honras militares, embora tenha recebido a estrela de Herói da Rússia.
Segundo o site de notícias Dozhd, os agraciados com a homenagem são sepultados em um cemitério militar, com escolta honorária, bandeira, orquestra, cumprimento de ordens e saudação com salvas de cartuchos de festim.
Mas não foi o que aconteceu com Prigozhin. Um dia após o acidente, Vladimir Putin comentou sobre o seu ex-aliado, elogiando seu talento empresarial mas salientando que ele teve um caminho difícil.
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Na véspera do enterro, o porta-voz do governo, Dmitry Peskov, disse em sua conferência diária com jornalistas que o Kremlin não tinha informações sobre data e formato do funeral, e por isso não tinha como responder se Putin iria comparecer.
Segundo o site Fontanka News, havia cerca de 30 pessoas, nenhuma com uniforme militar, e o empresário foi enterrado ao lado do pai.
Às 17h44, a agência estatal de notícias Interfax divulgou uma notícia de três linhas informando que “a família disse que Evgeny Prigozhin havia sido enterrado na terça-feira no cemitério de Porokhovske, e que de acordo com a vontade dos parentes, houve apenas a presença de pessoas próximas”.
Temor de protestos
O governo russo deu sinais de que pretende evitar que a sepultura de Prigozhin vire local de culto para os “wagneristas”, e que sua morte dispare protestos. Após o sepultamento foram vistos soldados protegendo o local.
No entanto, na manhã desta quarta-feira (30), o Fontanka News registrou a presença de visitantes levando flores e mensagens. O acesso de profissionais de imprensa não foi bloqueado, mas o site relatou que policiais observam de longe.
O canal do Wagner Group no Telegram postou várias homenagens em diferentes pontos do pais.
E as teorias conspiratórias não acabaram com o enterro. O analista político russo Valery Solovey, do Instituto de Relações Internacionais de Moscou, disse em entrevista ao jornal The Moscow Times que Prigozhin está “vivo e bem”.
Segundo Solovey, o Kremlin teria mentido sobre o teste de DNA que confirmou o fundador do Wagner entre os mortos no acidente. Um dublê de corpo estaria em seu lugar no voo.
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