Londres – A sigla ESG (Environment, Social & Governance, em inglês) resume expectativas e cobranças a respeito da conduta das corporações que começaram muito antes de ela ter sido inventada e se tornam mais importantes na era da IA.

Elas não vão deixar de existir se o uso da sigla se tornar mais discreto na comunicação pública, como têm feito algumas empresas a fim de neutralizar pressões de grupos conservadores.Com ou sem sigla, consumidores querem produtos mais sustentáveis e a natureza preservada. Uma expressiva parcela da sociedade exige inclusão e diversidade.

Novas leis restringem a coleta indiscriminada de dados pessoais. Más práticas em operações longínquas batem na porta das sedes corporativas, resultado da demanda por transparência.

Expectativas e riscos ESG na era da IA

A IA é um caminho sem volta, com benefícios ainda inexplorados. Entretanto, para a reputação das corporações, há pedras nesse caminho associadas aos valores ESG que não devem ser ignoradas por líderes e profissionais de comunicação.

Trocando pessoas por robôs

Embora tecnologicamente possível e financeiramente benéfico para o bottom line, substituir empregados por máquinas não será tão fácil do ponto de vista reputacional, como já demonstrou a greve dos roteiristas e atores em Hollywood.

IA generativa, vilã do clima

Embora a inteligência artificial tenha potencial para melhorar a gestão energética, a modelagem climática, a previsão de desastres naturais e de otimizar processos industriais, o treinamento intensivo dos modelos de linguagem é um grande gerador de emissões de carbono.

Companhias que adotem a IA em seus processos devem estar atentas aos efeitos em suas metas de redução do impacto ambiental, um pilar fundamental dos princípios ESG. 

Viés algorítmico

Os riscos de ferramentas de IA incorporarem padrões discriminatórios estão amplamente documentados em situações que fazem parte da realidade operacional das empresas. como recrutamento, vigilância patrimonial e interação com máquinas em sistemas de reconhecimento facial e de voz, afetando minorias raciais e pessoas com deficiências, por exemplo.

Segurança e privacidade

A facilidade de coletar dados usando IA pode levar à tentação de utilizá-los sem considerar limites de privacidade e segurança.

Ética e conformidade

A IA anda mais rápido do que as regulamentações para utilizá-la e o consenso sobre seu uso ético. Quando leis forem estabelecidas, empresas podem ser questionadas sobre práticas adotadas quando elas ainda não existiam.

Direitos autorais

Artistas e produtores de conteúdo já estão processando empresas de IA generativa. Enquanto as regulamentações engatinham, funcionários das empresas que não proibiram ou limitaram seu uso seguem produzindo textos e imagens (não apenas de comunicação, mas também emails, planos, petições jurídicas e até políticas corporativas) com a ajuda dela.

Sem saber, podem utilizar informações protegidas – e os verdadeiros donos aparecerem cobrando a conta.

Para completar… Crises mais disseminadas e críveis

Além de todas as potenciais crises corporativas na era da IA, vídeos deepfake, histórias inteiramente inventadas, deturpação de fatos reais, e falsificações de documentos ou de sites inteiros (como aconteceu com veículos de imprensa respeitados) oferecem o risco de crises de proporções gigantes para marcas e empresas.

Seu poder de convencimento maior – e maior será o esforço necessário para restabelecer a verdade, demandando monitoramento rigoroso e expertise para combater com as mesmas armas.

A agenda ESG está viva e bem de saúde

Uma pesquisa da E&Y com mais de 500 líderes  de  companhias  listadas  no ranking Fortune 1000 confirmou que a agenda ESG segue importante para os altos executivos: apesar das pressões por lucros em uma economia afetada por eventos como o conflito na Ucrânia e a crise energética, 87% deles a consideram importante ou muito importante para o negócio.

A metade destacou a sustentabilidade como prioridade, incluindo a adequação dos produtos e das cadeias de suprimento e a redução da pegada de carbono.

Bem-estar de empregados, impacto positivo na comunidade e diversidade também continuam na pauta – e a IA tem efeitos, positivos ou negativos, sobre todos eles.

Os CEOs e a inteligência artificial

Não é à toa que os líderes estão preocupados com a inteligência artificial, como demonstrou outro estudo da E&Y consolidando a opinião de 1,2 mil CEOs.

65% acham que a IA é uma força para o bem, mas creem que há muito trabalho pela frente para administrar riscos sociais, éticos e legais – de ataques cibernéticos e deepfakes.

88% já investiram ou planejam investir em inovações baseadas em IA.

Segundo a consultoria, os líderes também estão atentos aos “efeitos colaterais”, refletindo temores manifestados até por cientistas envolvidos no desenvolvimento das ferramentas que se tornaram populares recentemente.


Edição especial MediaTalks sobre Inteligência ArtificialEste artigo faz parte do Especial ‘Os desafios da ESG na era da Inteligência Artificial

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Edição Especial ESG e Inteligência Artificial MediaTalks