Londres – A advogada Zhang Zhan, que se tornou jornalista-cidadã após a explosão do surto de covid-19 na China e postou mais de 100 vídeos da situação na cidade de Wuhan, epicentro da pandemia, foi hospitalizada devido aos efeitos da greve parcial de fome que vem mantendo na prisão em protesto contra a sua condenação.

A mãe de Zhang informou a organizações de liberdade de imprensa que ela está pesando apenas 37 quilos, metade de seu peso normal, e que foi internada no hospital da prisão feminina de Xangai para tratar de desnutrição grave, doenças gastrointestinais, baixa contagem de glóbulos brancos e excesso de marcadores tumorais. 

A Repórteres Sem Fronteiras emitiu um comunicado instando a comunidade internacional a aumentar  a pressão sobre o regime chinês para garantir que ela seja libertada “antes que seja tarde demais”.

Inconformada com a prisão na China 

Ex-advogada e residente de Xangai, Zhan foi sozinha para Wuhan em 1º de fevereiro e notabilizou-se por transmitir notícias sobre a pandemia via WeChat, Twitter e YouTube a partir cidade chinesa onde o coronavírus foi inicialmente identificado.

Os vídeos curtos mostravam entrevistas com residentes e imagens de crematórios, estações de trem, hospitais e do Instituto de Virologia da cidade.

Jornalista da China Zhang Zhan foi para a prisão por noticiar a covid a partir de Wuhan
A jornalista chinesa Zhang Zhan em uma das transmissões que fez em Wuhan, epicentro da Covid-19. (Reprodução)

Zhang Zhan, que tem 39 anos, nunca se conformou com a prisão. Durante os primeiros meses de detenção, entre maio de 2020 e janeiro de 2021, ela chegou a fazer greve de fome total.

“As autoridades prisionais a alimentaram à força através de um tubo nasal e, por vezes, algemaram-lhe as mãos 24 horas por dia”, relatou a RSF. 

No julgamento, Zhang se recusou a se declarar culpada da acusação, dizendo que as informações que postou não eram falsas.

Ela foi condenada a quatro anos de prisão pelo Tribunal Popular do Distrito de Pudong, em Xangai (China) em 28 de dezembro de 2020, pelo crime de “fomentar discórdia e causar problemas”.

Desde então passou a comer pouco, em vez de recusar todos os alimentos, para evitar ser alimentada à força por sonda.

Em entrevista à Radio Free Asia, o ativista de direitos humanos Wang Jianhong, que fundou o Zhang Zhan Concern Group, disse que a doença de Zhang continua a ser fatal.

“A saúde física de Zhang Zhan está muito debilitada porque ela se recusa a comer há muito tempo”, disse Wang. “Esta greve parcial de fome já dura mais de dois anos.”

“A situação não parece estar melhorando, mas ela ainda tem mais de oito meses de pena para cumprir”, completou, pedindo a libertação de Zhang em liberdade condicional médica. 

“Se as autoridades da China não oferecerem tratamento humanitário e suplementos nutricionais, ela não sobreviverá à prisão até o fim da sentença”.

A libertação da jornalista-cidadã está prevista para maio de 2024, mas o ativista duvida que isso aconteça. 

Outras prisões de jornalistas e ativistas na China 

De acordo como o acompanhamento da Repórteres Sem Fronteiras, há pelo menos outros 15 profissionais de mídia e ativistas de liberdade de imprensa na China correndo risco de morrer na prisão. 

Entre eles estão o comentarista político australiano Yang Hengjun , detido por “espionagem” desde Janeiro de 2019; Liu Xiaobo , vencedor do Prémio Nobel da Paz e do Prêmio Liberdade de Imprensa da RSF.

O político e comentarista Yang Tongyan morreu em 2017 devido a tumores malignos que não foram tratados durante a detenção, enquanto Kunchok Jinpa , uma importante fonte de informação sobre a região autônoma chinesa do Tibete para jornalistas, morreu em 2021 como resultado de maus-tratos, diz a organização.

“Desde que o líder chinês Xi Jinping assumiu o poder em 2012, ele tem conduzido uma cruzada em grande escala contra o jornalismo, conforme revelado no relatório da RSF O Grande Salto para Trás do Jornalismo na China, que detalha os esforços de Pequim para controlar a informação e a mídia dentro do país. e fora de suas fronteiras”.

A China ocupa o 179º lugar entre 180 no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF de 2023 e é o maior carcereiro mundial de jornalistas e defensores da liberdade de imprensa, com pelo menos 115 presos.