Londres – A Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, encerrou uma visita de dois dias a Londres em um encontro reunindo representantes de ONGs e de acadêmicos de universidade britânicas, em que apresentou em um discurso as medidas já adotadas pelo novo governo brasileiro nos primeiros meses da gestão do presidente Luís Inácio Lula da Silva. 

“O futuro é ancestral”, disse Guajajara, salientando o papel dos povos indígenas no Brasil e no mundo na proteção da biodiversidade.

Ela afirmou que os povos indígenas representam 5% da população mundial e protegem 82% da biodiversidade do planeta. “Somos a solução e não o problema”, apontou. 

Discurso de Sônia Guajajara destacou valorização dos povos indígenas 

O encontro foi promovido pela embaixada do Brasil no centro de estudos latinos e ibéricos Canning House nesta terça-feira (26). 

Ao lado do embaixador, Antonio Patriota, e da ativista de direitos humanos Txai Suruí, Sônia Guajajara descreveu em seu discurso inicial a trajetória de ativista indígena até se tornar ministra, tendo sido eleita deputada federal como parte de um movimento iniciado em 2021 para inserir representantes indígenas na política e na formulação das leis. 

Antonio Patriota e Sonia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas, em apresentação em Londres
Antonio Patriota, Embaixador do Brasil em Londres, e a ministra Sônia Guajajara em encontro na Canning House (foto: MediaTalks)

Sônia Guajajara disse que já existe uma percepção diferente do país, e um sentimento de esperança quanto às mudanças. 

A ministra destacou que a criação do Ministério dos Povos Indígenas, a mudança de nome do Dia do Índio para Dia dos Povos Indígenas e da Funai para Fundação dos Povos Indígenas parecem apenas simbolismos, mas foram muito significativos: 

“Tanto o nome da Funai quanto o Dia dos Povos Indígenas trazem essa pluralidade, essa diversidade de povos indígenas que existem no Brasil.

Hoje, nós somos 305 povos indígenas diferentes, presentes em todos os estados brasileiros.”

Ela afirmou que uma das estratégias de sua gestão é aumentar a visibilidade dos povos indígenas e fazer a sociedade compreender que eles estão em todos os estados e das mais diversas formas possíveis, incluindo nas universidades e no mercado de trabalho.

Garantia territorial continua sendo desafio, disse a ministra 

No entanto, admitiu que a realidade conflituosa em relação à garantia territorial continua sendo o maior desafio. 

Em sua apresentação e nas respostas a perguntas dos acadêmicos e representantes de ONGs, Sônia Guajajara falou dos desafios como a demarcação das terras indígenas, paralisada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Ela citou declarações do ex-presidente, como a de que no governo dele não haveria ‘nem um milímetro’ de demarcação, e que admirava a cavalaria americana por ter acabado com “o problema” dos indígenas.

“Bolsonaro representou para nós um desastre na política, um desastre na presidência do Brasil e representou não só uma ameaça para nós, indígenas, mas para o mundo inteiro.

E acabou com toda a liderança que o Brasil vinha construindo na agenda climática.”

‘Momento de oportunidade’, disse Sonia Guajajara

A ministra destacou o que chamou de “momento de oportunidade”, em que pela primeira vez há indígenas no centro da política brasileira, ocupando cargos no poder Executivo e no Congresso. 

“Em oito meses de governo, já com o presidente Lula, conseguimos assinar oito demarcações de terras indígenas.”

Ela enumerou também outras ações como a retomada, por decreto presidencial, da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas (PNGATI), a instalação do Comitê Gestor com a participação indígena e a criação de 20 PGTAs (Planos de Gestão Territorial e Ambiental). 

A ministra dos Povos Indígenas falou ainda sobre o trabalho conjunto com o  ministério do Meio Ambiente, que tem o compromisso de zerar o desmatamento no Brasil, para fazer a destinação de mais de 50 milhões de hectares de terras públicas.

Estamos juntos para fazer a destinação dessas terras, sejam áreas indígenas, sejam áreas de quilombolas, sejam áreas de conservação.

Importante que estejam na mão de quem protege, na mão de quem entenda a importância de manter essas áreas preservadas.”

Discurso da ministra destacou o papel dos povos indígenas na biodiversidade

Segundo Sônia Guajajara, se 82% da biodiversidade preservada está nos territórios indígenas, é preciso entender também qual o papel de cada um em apoiar os povos indígenas, “não como pauta, mas como elemento necessário para a garantia da vida”.

“Se a biodiversidade está ameaçada, todas as pessoas estão ameaçadas.”

Na sessão de perguntas, acadêmicos e ONGs questionaram a ministra sobre temas como a venda de produtos brasileiros oriundos de áreas desmatadas no exterior, a política para os povos isolados e sobre a mudança da imagem do Brasil na arena internacional. 

A ativista Txai Suruí criticou os que compram esses produtos, afirmando que as invasões só vão cessar quando clients pararem de comprar.

Txai Suruí defendeu a bioeconomia em encontro com acadêmicos e ONGs em Londres
Txai Suruí (foto: MediaTalks)

E lembrou que o problema não se resume à carne brasileira, mas também a outros subprodutos, como o couro. 

O embaixador do Brasil em Londres, Antonio Patriota, expressou preocupação com argumentos contra o Brasil serem levantados com fins protecionistas, objetivando elevar barreiras comerciais injustificadas.

“É preciso distinguir as preocupações genuínas”, defendeu.