Londres – A jornalista australiana nascida na China Cheng Lei, que estava presa há três anos e havia sido julgada a portas fechadas em 2022, foi libertada e voltou para Melbourne, como resultado de um esforço diplomático da Austrália. 

Cheng Lei, 45 anos, era uma conhecida jornalista de finanças e apresentava um programa na estatal China Global Television Network. Foi detida em agosto de 2020 e ficou sob custódia até ser formalmente acusada de fornecer segredos da China ao exterior, em fevereiro de 2021. 

Como a China e a Austrália enfrentavam tensões diplomáticas naquele momento por sanções relacionadas à crise do coronavírus, a prisão foi interpretada como retaliação do país asiático. 

Cheng Lei já estava na Austrália quando libertação foi anunciada

A libertação da jornalista foi anunciada quando ela já estava em solo australiano pelo próprio primeiro-ministro do país, Anthony Albanese, e pela ministra das Relações Exteriores, Penny Wong, na semana passada. 

Na foto, ela aparece com cabelos bem mais curtos, diferente da imagem anterior à prisão, quando era uma estrela da TV chinesa, entrevistando grandes nomes do mundo dos negócios. 

Cheng Lei, jornalista chinesa
Foto: perfil rede social

Lei se reencontrou com o marido, Nick Coyle e dois filhos pequenos na chegada ao Aeroporto Tullamarine de Melbourne. A mãe da jornalista também vive na Austrália. 

A jornalista foi libertada em meio ao descongelamento das relações entre a Austrália e a China, com Albanese planejando realizar uma visita diplomática à China no final de 2023.

O embaixador chinês na Austrália, Xiao Qian, confirmou à imprensa australiana em janeiro que a detenção de Lei estava sendo objeto de negociações diplomáticas com o governo australiano, apesar de ressaltar a necessidade do seu governo respeitar os processos legais da China. 

Não houve detalhes sobre as condições para a libertação da jornalista. 

Acusada de espionagem, jornalista podia pegar perpétua

Chang Lei tem dupla nacionalidade, pois seus pais emigraram para a Austrália a ela passou a infância no país.

Além de jornalista, ela tinha atuação destacada em eventos promovidos pela embaixada australiana na China, um fator a associá-la à tensão entre os dois países.

Na época em que ela foi presa, a Austrália cobrava uma investigação independente sobre as origens da covid-19 e intensificava pressões contra uma suposta interferência estrangeira no país.

Semanas antes, autoridades australianas tinham invadido casas de profissionais da mídia estatal chinesa com sede na Austrália como parte de uma investigação de interferência.

Na sequência, a China bloqueou as exportações da Austrália e congelou as relações

O julgamento de Cheng Lei aconteceu em março de 2022 a portas fechadas. Nem o embaixador da Austrália em Pequim, Graham Fletcher, foi autorizado a acompanhar. 

O crime atribuído à jornalista tem pena prevista de cinco a dez anos, mas a sentença poderia ser estendida até à prisão perpétua se o tribunal considerasse a acusação grave. No entanto, o veredito nunca foi divulgado.  

A jornalista chegou a perder visitas consulares e completou 3 anos de prisão em agosto passado, menos de um mês antes de ser libertada pela China. Seu companheiro divulgou uma carta em que ela relatou a vida no cárcere. 

Outros jornalistas presos na China 

A libertação de Cheng Lai coloca um fim ao seu drama pessoal mas não melhora muito a situação dramática dos jornalistas na China, recordista de prisões de profissionais de imprensa, escritores e blogueiros, assim como jornalistas-cidadãos. 

Um dos encarcerados também é australiano, o blogueiro Yang Hengjun. Em nota sobre a libertação de Chang Lai, a Federação Internacional de Jornalistas reforçou a cobrança para que seu julgamento seja conduzido de forma aberta, justa e pública.

Outro caso notório é o de Zhang  Zhan, advogada que se tornou jornalista-cidadã e transmitiu cenas impressionantes da covid-19 em Wuhan nos primeiros dias da pandemia. 

Ela foi condenada a cinco anos de prisão. Segundo a família e organizações internacionais de defesa da liberdade de imprensa, sofre graves problemas de saúde devido a uma greve parcial de fome.