Londres – A jornalista Alsu Kurmasheva, que tem dupla nacionalidade (russa e americana) e vive em Praga, foi para a prisão nesta quinta-feira (18) na cidade de Kazan, na Rússia, sob acusação de ter violado a lei do agente estrangeiro, que obriga pessoas ou entidades que recebam recursos do exterior a se cadastrarem junto às autoridades. 

Ela é editora do serviço tártaro-bashkir da da Radio Free Europe (RFE/RL), financiada pelo Congresso dos EUA, e viajou para a Rússia por motivos familiares em maio, segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ). 

Seus passaportes russo e americano foram confiscados no dia 2 de junho em Kazan, quando ela aguardava o voo de retorno para Praga. Kurmasheva ficou no país aguardando a devolução mas acabou detida, com risco de pena de cinco anos de prisão.

Jornalistas cidadãos dos EUA na prisão na Rússia 

São agora dois jornalistas com cidadania americana presos na Rússia. O outro é o repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich, filho de russos que emigraram para os EUA.

Ele está na cadeia desde março,  foi indiciado por espionagem, o julgamento não foi marcado e todos os pedidos de liberdade condicional foram negados

O serviço RFE/RL Tatar-Bashkir, do qual Alsu Kurmasheva é editora, cobre regularmente a guerra na Ucrânia e a repressão das autoridades russas à sociedade civil do país.

Kurmasheva acompanha assuntos das comunidades de minorias étnicas no Tartaristão e no Bashkortostan, na região do Volga-Ural, na Rússia, de acordo com a Radio Free Europe.

Citando a agência de notícias estatal Tatar-Inform, o Comitê de Proteção a Jornalistas relatou que as autoridades acusam Kurmasheva de ter “conduzido deliberadamente uma coleta direcionada de informações militares sobre as atividades da Rússia pela Internet, a fim de transmitir informações a fontes estrangeiras”, o que teria ocorrido em setembro de 2022.

Ela também foi acusada de usar informações sobre a universidade do Tartaristão compartilhadas por professores que foram convocados para o exército para preparar “materiais analíticos alternativos” para “autoridades internacionais relevantes e para conduzir campanhas de informação que desacreditam a Rússia”.

Radio Free Europe na mira da Rússia 

O representante da organização de direitos humanos OVD-Info, que acompanha a situação de presos políticos na Rússia, disse ao CPJ que Kurmasheva “muito provavelmente” será enviada em breve para um centro de detenção provisória enquanto aguarda seu julgamento.

“Alsu foi detida simplesmente porque é funcionária da Radio Free Europe. Na verdade, agora qualquer jornalista independente na Rússia corre o mesmo risco, disse um colega de Kurmasheva ao CPJ, sob condição de anonimato por medo de represálias.

Em agosto de 2022, a polícia de Kazan revistou as casas de sete jornalistas e colaboradores da emissora e interrogou-os sobre o trabalho do serviço Tatar-Bashkir.

Em Novembro de 2023, um tribunal de Kazan ordenou a prisão à revelia de Andrei Grigoriev, repórter do Idel.Realii, um projeto do serviço Tatar-Bashkir, sob a acusação de justificar o terrorismo.

O Comitê de Proteção a Jornalistas disse ter enviado emails ao Ministério do Interior russo e a autoridades do Tartaristão sobre a prisão de Alsu Kurmasheva, mas não recebeu resposta.