Londres – Acusada de viajar à Rússia a fim de coletar informações sobre atividades militares para os EUA, a repórter russo-americana Alsu Kurmasheva teve a prisão preventiva estendida até 5 de dezembro por um tribunal do país nesta segunda-feira (23), em mais um ato de repressão ao jornalismo por parte do governo de Vladimir Putin.
Ela vive em Praga e é editora do noticiário tártaro-bashkir da Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL), financiada pelo Congresso dos EUA, escrevendo também regularmente sobre a guerra na Ucrânia. Mas não se registrou como agente estrangeiro ao viajar por motivos familiares para Kazan, na Rússia.
Quando se preparava para deixar o país, em 2 de junho, seus dois passaportes foram confiscados. Kurmasheva ficou aguardando a devolução e acabou presa na semana passada, com risco de passar cinco anos na prisão.
Profissionais dos EUA no alvo da repressão sob Putin
A extensão da prisão preventiva de Alsu Kurmasheva repete o padrão adotado pela Rússia no caso de outro jornalista de nacionalidade americana, Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, detido em março e com previsão de continuar na cadeia pelo menos até novembro.
Ele é filho de soviéticos que emigraram para os EUA e já trabalhou em jornais russos. Sua detenção foi vista como uma possível tentativa da Rússia de libertar presos do país nos EUA por meio de uma troca.
Isso foi feito em dezembro de 2022 no caso da atleta de basquete americana Brittney Grinner, condenada por porte de óleo de cannabis.
Ela foi trocada por um traficante de armas russo que estava cumprindo pena em Ohio.
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A lei do agente estrangeiro, utilizada como argumento para a detenção da repórter da Radio Free Europe, foi criada em 2014 e determina que pessoas ou entidades que recebam recursos do exterior se cadastrem junto às autoridades.
O regulamento passou a ser instrumento para a repressão de jornalistas e veículos de comunicação pelo governo Putin antes mesmo do início da guerra com a Ucrânia.
Nem Dmitry Muratov, que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 2021, escapou do rótulo e de suas consequências. A designação dificulta a obtenção de recursos de propaganda, assinaturas ou doações para manter as atividades jornalísticas.
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A acusação contra a jornalista russo-americana
Além da dupla nacionalidade, a repórter Alsu Kurmasheva também tem contra si o fato de trabalhar para a Radio Free Europe, que tem estado na mira da repressão do governo da Rússia.
Ela faz reportagens sobre comunidades de minorias étnicas no Tartaristão e Bashkortostan, na Rússia, e é editora do serviço.
Segundo o Comitê de Proteção a Jornalistas, em agosto de 2022, a polícia de Kazan revistou as casas de sete profissionais e colaboradores da emissora e interrogou-os sobre o trabalho para a Radio Free Europe.
Em novembro de 2023, um tribunal de Kazan ordenou a prisão à revelia de Andrei Grigoriev, repórter do Idel.Realii, um projeto do serviço Tatar-Bashkir, sob a acusação de justificar o terrorismo.
Citando a agência de notícias estatal Tatar-Inform, o Comitê de Proteção a Jornalistas relatou que as autoridades acusam Kurmasheva de ter “conduzido deliberadamente uma coleta direcionada de informações militares sobre as atividades da Rússia pela Internet, a fim de transmitir informações a fontes estrangeiras”, o que teria ocorrido em setembro de 2022.
Ela também foi acusada de usar informações sobre a universidade do Tartaristão compartilhadas por professores convocados para o exército para preparar “materiais analíticos alternativos” para “autoridades internacionais relevantes e para conduzir campanhas de informação que desacreditam a Rússia”.
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