Londres – A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lançou uma nova campanha global para tentar evitar a extradição de Julian Assange para os EUA pelo Reino Unido, onde uma audiência final que decidirá o destino do fundador do Wikileaks pode ser marcada a qualquer momento.
Se o tribunal rejeitar o recurso de Assange, restará apenas a possibilidade de apelar ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Se for extraditado, ele pode ser condenado a até 175 anos de prisão, penas somadas dos 18 processos movidos pelo governo dos EUA devido ao vazamento de documentos confidenciais das guerras do Iraque e do Afeganistão.
Extradição de Julian Assange e os ‘Danos Colaterais’
O slogan da campanha é “Danos Colaterais” em alusão ao perigo que a acusação de Assange pelo governo dos EUA representa para os meios de comunicação de todo o mundo, bem como ao direito do público à informação, segundo a RSF.
É também uma lembrança do vídeo “Assassinato Colateral” que estava entre os materiais vazados publicados pelo WikiLeaks em 2010, expondo um ataque ar-terra realizado por um helicóptero militar Apache dos EUA em um subúrbio de Bagdá, que matou pelo menos uma dúzia de civis, incluindo dois jornalistas da agência Reuters.
Desenvolvida em parceria com a agência de publicidade francesa BETC, a nova campanha de comunicação da RSF apresenta uma representação de Assange com os seus traços faciais compostos por logotipos de dezenas de organizações de imprensa de todo o mundo.
Estes meios de comunicação estão entre os que inicialmente publicaram reportagens baseadas nos documentos confidenciais divulgados pelo WikiLeaks em 2010.
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RSF pede solidariedade global da imprensa
Rebecca Vincent, diretora global de campanhas da RSF, que acompanha toda a saga judicial do fundador do Wikileaks, pediu solidariedade global em apoio ao jornalismo e à liberdade de imprensa “antes que seja tarde demais”:
“Como o destino de Julian Assange está em jogo, é mais crucial do que nunca que as organizações de imprensa e os jornalistas de todo o mundo se pronunciem em apoio aos princípios do jornalismo.
Se o governo dos EUA conseguir extraditar Assange e processá-lo ao abrigo da Lei de Espionagem, qualquer um que publique reportagens baseadas em informações confidenciais vazadas poderá ser o próximo – e o impacto resultante será, em última análise, sobre o nosso direito à informação.”
Entre os jornais que apoiam a campanha e veiculam as peças estão o Le Monde (França) e o The Guardian (Reino Unido), que estavam entre os parceiros de comunicação originais que trabalharam com o WikiLeaks em 2010 nos documentos “Cablegate” – um pacote de mais de 250.000 telegramas diplomáticos vazados por Julian Assange.
Assange poderia ir para a Austrália
A nova pressão internacional da Repórteres Sem Fronteiras coincidiu com a visita do primeiro-ministro australiano Anthony Albanese aos EUA esta semana. Julian Assange é cidadão australiano, e uma das saídas para evitar a extradição seria um acordo para levá-lo de volta ao país natal.
Segundo o jornal Sydney Morning Herald, o assunto foi levantado por Albanese em um jantar com Joe Biden e em conversações formais na Casa Branca. No início deste mês, o primeiro-ministro havia dito que esperava pela libertação de Assange, pois “já basta”.
No entanto, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse a repórteres australianos que o caso estava nas mãos do Departamento de Justiça, mantendo a posição anterior sobre o caso expressada em outras ocasiões.
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Entenda o caso Assange
O fundador do WikiLeaks é processado pelos Estados Unidos sob alegação de uma conspiração para obter e divulgar informações de defesa nacional após a publicação de centenas de milhares de documentos vazados relacionados às guerras do Afeganistão e do Iraque no site WikiLeaks.
Ele responde a 17 acusações sob a Lei de Espionagem e uma sob a Lei de Fraude e Abuso de Computador.
Barack Obama, presidente do país quando os documentos foram publicados, em 2009, o considerava um traidor, mas as acusações foram formalizadas na administração de Donald Trump.
Em 2012 Assange buscou asilo na embaixada do Equador inicialmente para evitar uma possível extradição para a Suécia, em um processo de agressão sexual. A ação acabou encerrada, mas ele continuou asilado tentando reverter o pedido de extradição.
Em 2019, o novo governo equatoriano do presidente Lenín Moreno resolveu entregá-lo às autoridades britânicas, alegando que o fundador do Wikileaks havia quebrado os termos do asilo.
Desde então Julian Assange se encontra na prisão de segurança máxima de Belmarsh, onde em 2022 casou-se com Stella, que fazia parte de sua equipe de defesa e com quem tem dois filhos.
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Stella lidera a campanha pela libertação ao lado do pai e do irmão do fundador do Wikileaks.
Entidades de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa e de expressão são unânimes em afirmar que jornalistas e veículos de imprensa correrão riscos de processos criminais ou de espionagem se publicarem segredos incômodos a governos, sobretudo nos EUA.
E informantes pensarão duas vezes antes de se arriscar a entregar à imprensa histórias capazes de melhorar a sociedade ou evitar a continuidade de más práticas, corrupção e crimes.
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