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Dia pelo Fim da Impunidade de Crimes contra Jornalistas: Unesco divulga balanço de violência em eleições

Vera Magalhães, jornalista, em um banner atacando sua honra

Vera Magalhães, jornalista da TV Cultura, foi alvo de ataques em manifestações durante as eleições de 2022 (Foto Twitter Vera Magalhães)

Londres – No Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes Contra Jornalistas, comemorado neste 2 de novembro, a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) divulgou um novo levantamento mostrando o aumento preocupante da violência contra jornalistas durante campanhas eleitorais.

Entre janeiro de 2019 e junho de 2022, a organização documentou 759 ataques individuais contra jornalistas, incluindo cinco assassinatos, ocorridos durante 89 eleições em 70 países.

O número não reflete inteiramente as agressões registradas nas eleições de 2022 no Brasil, realizadas em outubro e novembro, mas outros levantamentos constataram a gravidade da situação no país: em maio passado, a Repórteres Sem Fronteiras publicou um relatório contabilizando mais de 3,3 milhões de postagens ofensivas e intimidatórias apenas no Twitter.  

Crimes contra jornalistas não acontecem apenas em crises 

Os dados são divulgados em um momento que segundo a Unesco, os riscos para os jornalistas são maiores do que nunca – de forma mais dramática no Oriente Médio, devido ao conflito em Gaza. 

Mas o levantamento mostra que os jornalistas também enfrentam riscos significativos fora de situações de crise. 

A organização define “ataques” como detenções arbitrárias, espancamentos, disparos de balas de borracha, ameaças, intimidação e confisco de equipamentos.

Segundo a Unesco, 42% dos 759 ataques a jornalistas durante períodos eleitorais foram cometidos por forças de segurança dos países. 

“Os ataques ocorreram numa vasta gama de situações – em comícios ou manifestações públicas, nos escritórios e nas casas de jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação”, diz a organização.

Os outros 58% dos ataques foram físicos e verbais, perpetrados por manifestantes e membros do público que participaram de protestos. E 29% dos jornalistas agredidos (218) eram mulheres.

“O resumo mostra que durante as eleições e manifestações públicas, muitas autoridades governamentais bloquearam o direito do público à informação, implementando bloqueios e interrupções na Internet, censurando os meios de comunicação e as vozes críticas, e vigiando digitalmente os jornalistas.

Todas estas intervenções foram feitas em nome da ordem pública e da segurança nacional.”

“Os jornalistas não devem ser ameaçados, alvo de ataques ou impedidos de trabalhar livremente em qualquer momento”, afirmou Tawfik Jelassi, Diretor-Geral Adjunto de Comunicações e Informação da Unesco, cobrando proteção para os profissionais de imprensa. 

A Unesco apela aos governos para que tomem medidas adicionais para proteger a segurança dos jornalistas e garantir liberdade de expressão e acesso à informação, inclusive durante os períodos eleitorais, por serem direitos humanos fundamentais para o funcionamento da democracia. 

A organização salienta que em 2024, 2,6. bilhões de pessoas irão às urnas – incluindo no Brasil, que terá eleições municipais – , e os jornalistas “desempenharão um papel fundamental para garantir que o público tenha acesso a informações precisas enquanto se prepara para votar”.

Dia contra a impunidade de crimes contra jornalistas 

A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o dia 2 de Novembro como o “Dia Internacional para o Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas”  em 2014. A data foi escolhida em referência ao assassinato de dois jornalistas franceses no Mali, em 2 de novembro de 2013. 

A região América Latina/Caribe é a que registra o maior número de assassinatos de jornalistas, de acordo com o relatório de 2022 da organização.

Desde 1993, mais de 1.600 jornalistas foram mortos por divulgarem notícias e levarem informações ao público, segundo a Unesco. Em nove em cada dez casos, os assassinos ficam impunes. 

“A impunidade leva a mais assassinatos e é muitas vezes um sintoma do agravamento do conflito e do colapso da lei e dos sistemas judiciais”, afirma a entidade. 

Embora os assassinatos sejam a forma mais extrema de censura nos meios de comunicação social, os jornalistas também estão sujeitos a diversas outras ameaças – rapto, tortura e outros ataques físicos e assédio, especialmente na esfera digital. 

“As ameaças de violência e os ataques contra jornalistas criam um clima de medo para os profissionais da comunicação, impedindo a livre circulação de informações, opiniões e ideias para todos os cidadãos.”

As mulheres jornalistas são particularmente afetadas por ameaças e ataques, sobretudo online.

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