Londres – Três jornalistas da América Latina – o guatemalteco José Rubén Zamora, o haitiano Roberson Alphonse e o colombiano Juan Pablo Barrientos – fazem parte da lista de indicados aos prêmios de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras em 2023.
São 21 indicados de 18 países, dos quais 13 jornalistas, cinco fotógrafos, dois meios de comunicação e uma associação de jornalistas, reconhecidos por sua contribuição para a defesa e promoção da liberdade de imprensa no mundo em quatro categorias.
Em 2022, o Prêmio Coragem foi para a iraniana Narges Mohammadi, que está presa e este ano recebeu o Nobel da Paz; o Impacto foi para os ucranianos Mstyslav Chernov e Yevhen Maloletka, e o jornalista marroquino recebeu o troféu Independência. Em 2023 haverá uma nova categoria, Fotografia.
Indicados ao prêmio de liberdade de imprensa e encarcerados
Seis dos 13 jornalistas indicados aos prêmios de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras este ano estão presos.
Entre eles está José Rubén Zamora, um premiado e veterano editor da Guatemala perseguido pelo governo de Alejandro Giammattei, que concorre na categoria Independência.
Prêmio Independência
Premiado por várias organizações internacionais ao longo de sua carreira, o fundador do jornal elPeriódico, passou duas décadas denunciando a corrupção da classe política guatemalteca. José Rubén Zamora tornou-se um triste exemplo internacional de ameaças e assédio judicial como forma de silenciar a imprensa critica.
Em julho de 2022, foi preso por um caso forjado de lavagem de dinheiro e passou quase um ano em prisão preventiva. Seu jornal foi forçado a fechar em maio de 2023.
Sua sentença de junho de 2023 a seis anos de prisão foi anulada em um recurso em outubro, mas ele permanece detido até a realização de um novo julgamento.
Jornalista na Argélia há 35 anos, fundador da Radio M e do site de notícias Maghreb Émergent, Ihsane El Kadi é outra vítima de assédio judicial. sempre defendeu o jornalismo independente e pluralista na Argélia.
Ele foi sentenciado a seis meses de prisão em junho de 2022. Um artigo e um tweet lhe valeram uma nova prisão em dezembro do mesmo ano.
Foi condenado seis meses depois, em recurso, a cinco anos de prisão, oficialmente por ter recebido fundos do exterior.
“Uma sentença injusta, uma das mais pesadas já proferidas contra um jornalista argelino, culminação de um processo kafkiano e de uma perseguição judicial”, diz a RSF. Seu recurso foi rejeitado em 12 de outubro pela Suprema Corte.
“Assim, carrega a esperança de um jornalismo verdadeiramente independente, um pilar vital para a consolidação da democracia indonésia”, disse a RSF.
Os outros dois indicados na categoria são organizações e não profissionais individuais.
- Jornal independente L’Alternative, de Togo, que participou de importantes investigações colaborativas (incluindo a dos Panama Papers) e acabou suspenso pela autoridade reguladora dos meios de comunicação. Para escapar a uma pesada pena de prisão, seu diretor editorial, Ferdinand Ayité, e o seu editor-chefe, Isidore Kouwonou, foram forçados a deixar o país em março de 2023.
- Associação de Jornalistas de Hong Kong, uma das últimas organizações a defender abertamente os jornalistas do território desde a promulgação da lei de segurança nacional em 2020 e o início da forte repressão governamental.
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Prêmio Coragem
Conhecido por sua cobertura de política e pandillas (gangues), o jornalista haitiano do diário Le Nouvelliste e diretor de informações da Radio Magik9, Roberson Alphonse foi ferido durante uma tentativa de assassinato na região metropolitana de Porto Príncipe, em outubro de 2022.
Mais de dez disparos foram feitos contra seu carro. Os agressores não foram identificados. Alphonse teve que fugir para os Estados Unidos e voltou a trabalhar remotamente, num contexto de agravamento da crise de liberdade de imprensa no Haiti.
Duas jornalistas emblemáticas do movimento “Mulheres, Vida, Liberdade” no Irã, Niloofar Hamedi e Elaheh Mohammadi estão presas desde setembro de 2022 por ter estado entre as primeiras a cobrir a morte da jovem curda Mahsa Amini, que desencadeou uma onda de repressão à imprensa.
Repórter do jornal Shargh, Niloofar Hamedi publicou uma foto dos parentes da jovem curda, logo após sua morte, no hospital de Teerã.
Jornalista do diário Ham Mihan, Elaheh Mohammadi, cobriu o funeral de Mahsa Amini. Acusadas de “conspiração”, “propaganda” e “colaboração com o governo hostil dos Estados Unidos”, foram condenadas respectivamente a treze e doze anos de prisão, em 22 de outubro de 2023.
Editora do Geo Fact Check, Benazir Shah assumiu a liderança de um movimento de resistência às campanhas de assédio cibernético contra jornalistas e mulheres que demonstram demasiada independência em relação à linha oficial das autoridades civis e militares.
Ela cobriu assuntos delicados na área política e sobretudo religiosa – como as campanhas de vacinação anti-poliomielite, abominadas pelos mais radicais, ou o fenômeno das mulheres-bomba suicidas.
Mas quando os protestos eclodiram em setembro daquele ano no país, o blogueiro conhecido pelo pseudônimo Mohamed Oxygen, por causa de seu blog Egypt’s Oxygen, desafiou a proibição.
Preso novamente, foi condenado a cinco anos de prisão por “publicar notícias falsas”. “No Egito atual, o nome de Mohamed Oxygen é sinônimo de jornalismo corajoso”, disse a RSF a justificar a escolha como um dos indicados ao prêmio de liberdade de imprensa.
Maryna Zolatava, editora do site de notícias mais popular da Bielorrúsia antes de ser fechado pelas autoridades, o TUT.BY, foi sentenciada a doze anos de prisão em março de 2023.
Figura emblemática, sempre defendeu ferozmente a independência dos seus meios de comunicação e da imprensa, apesar das constantes pressões.
“Culpar a mídia por todos os problemas é como ofender diante de um espelho”, escreveu ela um dia antes de sua condenação.
Prêmio Impacto em liberdade de imprensa
Autor do livro Dejad que los Niños Vengan a Mí (“Deixem vir a mim as criancinhas”), ele é vítima de perseguições e tentativas de censura há sete anos devido às suas investigações sobre este e outros assuntos relacionados a casos de corrupção.
Ele revelou as identidades dos suspeitos dos envenenamentos de Sergei e Yulia Skripal e Alexeï Navalny, rivalizando com os serviços de inteligência e abrindo caminho para inquéritos judiciais e parlamentares.
Ameaçado pelo FSB, a inteligência russa, precisou deixar seu país de residência, a Áustria, em fevereiro de 2023. As autoridades russas o incluíram na lista de procurados e ordenaram a sua prisão à revelia em abril de 2023.
“Ela contribui para a divulgação de informações plurais e independentes dos círculos tradicionais de poder e leva a sociedade indiana a uma maior representatividade e autonomia dos seus cidadãos” disse a RSF ao justificar sua escolha como uma das candidatas ao prêmio de liberdade de imprensa.
Diferentemente de outros indicados, Thanasis Koukakis trabalha para dois grandes meios de comunicação internacionais, a CNN Grécia e o Financial Times.
Ele foi um dos primeiros alvos do spyware Predator. Embora a justiça pela espionagem ainda não tenha sido feita e o próprio jornalista tenha sido submetido a um processo judicial, ele investigou a sua própria vigilância.
“Personificação do rigor jornalístico e da busca pela verdade, Thanasis Koukakis lançou luz em âmbito internacional sobre a rede opaca da indústria de vigilância que está por trás de um dos maiores casos de ataques à liberdade de imprensa na União Europeia nos últimos anos”, apontou a RSF.
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Site que revelou escândalo da Copa do Mundo entre os indicados
O quinto indicado na categoria impacto é o AmaBhungane, criado em 2010. O “besouro do esterco” na língua zulu – é um meio de comunicação que desvenda casos de corrupção envolvendo políticos e figuras do mundo empresarial na África do Sul.
Um deles foi o do suborno de 10 milhões de dólares que a Federação Sul-Africana de Futebol alegadamente pagou para que o país fosse escolhido para receber a Copa do Mundo de 2010.
Os indicados à categoria Fotografia do prêmio de liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, criada este ano, são:
- Edward Kaprov, por The Face of latest war, Ucrânia
- Karine Pierre, por Take Me Home!, Paquistão
- Adrienne Surprenant, por Un diamant dans une mer de sable, Chade
- Robin Tutenges, por Chinland, Mianmar
- Adrien Vautier, por A Batalha de Bakhmut, Ucrânia
A cerimônia de entrega dos prêmios será conduzida pela jornalista alemã Annette Gerlach, em Bruxelas, no dia 28 de novembro.
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