O premiado jornalista e editor José Rubén Zamora, fundador do jornal de oposição elPeriodico, teve a sentença de seis anos de prisão anulada por um tribunal de recursos da Guatemala, mas continuará na cadeia até a realização de um novo julgamento. 

Um dos principais opositores do governo de Alejandro Giammattei, ele foi detido em julho de 2022 e condenado em junho de 2023 por crimes financeiros com base em acusações que organizações de direitos humanos e de defesa da liberdade de imprensa apontam como forjadas. 

A anulação foi em resposta a um recurso interposto pela Procuradoria-Geral da República expondo discrepância com a sentença original que condenou Zamora por lavagem de dinheiro e o absolveu das acusações de chantagem e tráfico de influência.

As acusações da Guatemala contra o jornalista 

Zamora, de 67 anos, também enfrenta acusações de utilização de documentos falsos.

Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a denúncia de suposta lavagem de dinheiro que deu origem à condenação do jornalista refere-se apenas à ausência de justificação documental para a origem de uma transferência destinada a manter o jornal elPeriódico funcionando. 

Depois que ele foi preso, o elPeriodico passou a circular apenas em formato digital e terminou fechado de vez, em maio deste ano, colocando fim à trajetória de um dos mais importantes jornais independentes da América Latina, fundado em 1996. 

Por seu trabalho desafiando a censura e denunciando crimes e corrupção, José Rubén Zamora recebeu importantes prêmios internacionais de jornalismo, como o Maria Moors Cabot da Universidade de Columbia eo Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê para a Proteção de Jornalistas.

Em 2000, foi nomeado um dos 50 Heróis Mundiais da Liberdade de Imprensa do século 20 pelo Instituto Internacional de Imprensa. 

Organizações apontam condenação injusta

Arthur Romeu, Diretor da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) para a América Latina, saudou a decisão do tribunal de anular “uma condenação injusta que se seguiu a um julgamento marcado por irregularidades”.

“A decisão aumenta a esperança de um julgamento justo e subsequente absolvição total.

É vital que Zamora, que já está detido há mais de um ano, seja libertado e possa aguardar em liberdade o novo julgamento.”

O presidente da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), Michael Greenspon, afirmou que “a decisão do Tribunal de Apelações representa um passo significativo na busca pela justiça e na proteção da liberdade de expressão na Guatemala”.

A SIP vem denunciando a utilização do Ministério Público da Guatemala como braço do poder político do governo do presidente Alejandro Giammattei para apresentar acusações contra os advogados de Zamora e bloquear suas possibilidades de defesa

Segundo a entidade, o MP também acusou seis jornalistas e três colunistas do elPeriódico de opinarem sobre o caso, incluindo o ex-presidente da SIP, Gonzalo Marroquín Godoy, primo de José Rubén Zamora. 

“Como consequência das pressões políticas e económicas, o elPeriódico encerrou suas operações”, afirma a SIP. 

Pedido ao presidente eleito da Guatemala por libertação do jornalista 

As duas organizações participaram de uma missão conjunta ao país em maio deste ano e visitaram José Rubén Zamora na prisão. Ele relatou ter sido submetido a maus-tratos.

A RSF continua a fazer campanha pela libertação do jornalista “como uma prioridade global”.

A entidade informou que entregará uma petição pedindo a libertação de Zamora e o fim da criminalização do jornalismo na Guatemala ao presidente eleito do país, Bernardo Arévalo, após a sua posse, em janeiro.

Ele substituirá Alejandro Giammattei, líder de direita cuja gestão foi marcada por denúncias de corrupção. 

Sociólogo de 64 anos, Arévalo é filho do ex-presidente Juan José Arévalo, que governou o país centro-americano entre 1945 e 1951 após uma sucessão de ditaduras.