Londres – Uma campanha institucional desestimulando a compra de roupas novas na Black Friday criada pelo Ministério do Meio Ambiente da França virou motivo de discórdia dentro do governo, com queixas públicas do Ministro da Economia, Bruno Le Maire, devido ao impacto sobre um setor vital para o país – enquanto ativistas aproveitaram para protestar contra a fast fashion.
Um dos vídeos mostra um homem já com algumas bolsas de compras nas mãos pedindo conselhos em uma loja de roupas. Em vez de empurrar a mercadoria, o atendente, que se apresenta como um “desvendedor”, recomenda que ele não compre nada para ajudar o planeta e suas finanças pessoais.
Após as críticas à campanha, o ministro da transição ecológica da França, Christophe Béchu, acabou admitindo que o vídeo deveria ter abordado mais diretamente as plataformas online e não o comércio de rua. Outros filmes da mesma campanha abordando produtos como smartphones, são direcionados ao comércio online.
Mas a campanha não foi retirada do site da Ademe (Agência de Transição Ecológica), órgão do Ministério, que encarou a briga com a pasta da economia.
Roupa nova na Black Friday e a polêmica da fast fashion
Às vésperas da conferência do clima COP28, que começa na semana que vem em Dubai, o episódio exemplifica a dificuldade de equilibrar preocupações econômicas e ambientais.
O setor de fast fashion é um dos alvos dos ambientalistas, devido ao consumo energético para produção de roupas e o volume que vai parar nos lixões.
A França criou um programa de cinco anos no valor de 154 milhões de euros que oferece pagamento aos consumidores que consertarem roupas em vez de comprarem novas.
No entanto, ao criticar a campanha contra roupas novas na Black Friday, o ministro Le Maire afirmou que desencorajar os gastos dos consumidores em um momento em que os varejistas precisam de apoio é “mal concebido”.
O setor de roupas se uniu contra a campanha desestimulando roupas novas na Black Friday. Uma nota conjunta da Aliança de Comércio, da União das Indústrias Têxteis e da União Francesa das Indústrias de Moda e Vestuário, adotou um tom ameaçador:
“Pedimos a retirada imediata da campanha, caso contrário, consideraremos uma ação legal por difamação comercial.”
A entidade pede que a Ademe e o Ministério da Transição Ecológica e Territórios trabalhem juntos para desenvolver uma comunicação positiva sobre a transformação do setor de moda e comércio.
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Ativistas apoiaram campanha da Black Friday
Os ativistas aproveitaram a controvérsia para protestar online e nas ruas de Paris sob a hashtag #StopFastFashion. O alvo principal foi o ministro Bruno LeMaire e também marcas como Sheen, Zara e H&M, conhecidas pelos preços baixos em comparação a grandes griffes.
Os manifestantes apelam ao ministro para que consagre na lei a exigência de que as marcas de moda honrem os direitos humanos e os compromissos ambientais ao longo das cadeias de abastecimento.
A ação #StopFastFashion reuniu ativistas de grupos como Action Aid France, Friends of the Earth France, Fashion Revolution France e Zero Waste France em frente a um shopping center no centro de Paris.
Na manifestação, os ativistas instalaram varais e penduraram peças de vestuário estampadas com slogans como “vítimas da moda” e “nós consumimos a sua exploração”.
“Com 150 mil milhões de peças de vestuário produzidas por ano em todo o mundo, a superprodução na indústria têxtil tornou-se uma bomba climática e humana que deve ser desativada urgentemente”, afirmou um comunicado da Amigos da Terra França.
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