Nataliya Ilyushina, pesquisadora da Blockchain Innovation Hub, RMIT University, escreveu artigo sobre o novo chatbot de IA Grok, lançado por Elon Musk
Nataliya Ilyushina

O dono do Twitter / X, Elon Musk, anunciou na primeira semana de novembro seu novo chatbot de IA: Grok, uma alternativa sarcástica ao ChatGPT supostamente “inspirado” no ‘O Guia do Mochileiro das Galáxias’, um dos livros favoritos de Musk, [ainda não disponível para todos os usuários].

A palavra Grok tem o sentido de “compreender intuitivamente ou por empatia, estabelecer relacionamento com”.

O escritor de ficção científica Robert Heinlein foi o primeiro a cunhar o termo, que agora é usado por pessoas da indústria da ciência da computação.

Para que serve a IA Grok?

De acordo com a xAI , outra empresa do diversificado portfólio de tecnologia de Musk, o Grok “foi projetado para responder perguntas com um pouco de inteligência e tem uma veia rebelde, então, por favor, não use se você odeia humor!”

O Grok é construído em um large language model (LLM) da mesma maneira que o OpenAI ChatGPT, e está sendo posicionado como um rival em potencial.

Embora o Grok ainda não esteja disponível para o público em geral, a versão beta foi lançada para um pequeno grupo de testadores e alguns assinantes Premium+ do X.

No entanto, Musk disse que o acesso ao chatbot de IA Grok seria concedido de acordo com a duração da assinatura Premium+ , o que sugere que os novos assinantes terão que esperar.

Para os impacientes, uma série de tiradas “espirituosas” do Grok chegaram aos feeds do X. O que mais chama a atenção é o quão desbocado o chatbot está programado para ser.

Existe algum benefício em ter um chatbot de IA desta natureza? E por que Musk teria adotado essa abordagem?

IA Grok e sua ‘veia sarcástica’

Musk tuitou uma série de suas interações com o Grok, provocando respostas sarcásticas. Vários outros pioneiros também compartilharam suas experiências .

Embora algumas das respostas do Grok pareçam tão boas quanto os resultados de outros chatbots, algumas são piores.

Por exemplo, um usuário relatou que o Grok não foi capaz de fornecer um resumo e análise de notícias quando questionado sobre as eleições de meio de mandato que aconteceram nos Estados Unidos em 7 de novembro, e que definem qual partido controlará o Congresso até o fim do governo Biden.

Em vez disso, ele consultou tweets recentes sobre o assunto. Isso pode ocorrer porque o Grok ainda é um produto beta inicial. Ele teria passado por cerca de dois meses de treinamento no momento em que foi lançado.

Embora o Grok deva ser inspirado no romance satírico de Douglas Adams, ‘O Guia do Mochileiro das Galáxias’, de 1979, os críticos foram rápidos em apontar que há pouca semelhança entre o chatbot e os personagens e o humor que fizeram do livro de Adams um sucesso mundial.

No entanto, o Grok se destaca por vários motivos. Sua essência é um clima de sátira e brincadeira, que os usuários são convidados a apreciar.

Também está disposto a, como disse a xAI , “responder a perguntas picantes que são rejeitadas pela maioria dos outros sistemas de IA”. Essa característica provou ser eficaz para tornar o Grok viral.

As primeiras postagens de usuários mostram que ele se envolve com entusiasmo em conversas sobre sexo, drogas e religião, o que outros chatbots, como o Bing, da Microsoft, e o Bard, do Google, se recusariam a fazer.

Grok: aprendendo com os tweets

Não está claro como o estilo do Grok afetará seu uso prático. Embora supere ligeiramente o ChatGPT 3.5 em testes de conhecimento matemático e de múltipla escolha , não parece haver exemplos de como ele funcionaria quando solicitado a escrever um relatório profissional ou e-mail, em que o humor seria inadequado.

O chatbot de IA Grok tem acesso direto e em tempo real às postagens no X, junto com conjuntos de dados de treinamento padrão.

Em outras palavras, as suas respostas baseiam-se no conteúdo de uma plataforma que tem sido fortemente criticada por permitir o discurso de ódio e por ser mal moderada desde a aquisição de Musk no ano passado.

Como os chatbots de IA refletem em grande parte a qualidade de seus dados de treinamento (e treinamento adicional de feedback humano), o Grok pode acabar adotando uma grande variedade de preconceitos e características problemáticas inerentes ao conteúdo de X.

Isto levaria a riscos de segurança, incluindo a propagação de ideias prejudiciais e desinformação , uma preocupação que é frequentemente citada por especialistas que apelam à regulamentação da IA.

Embora o ChatGPT agora tenha acesso em tempo real à Internet, ele também treina em um conjunto de dados separado chamado Common Crawl .

Isso permite que os desenvolvedores tenham mais controle sobre o que se passa no “cérebro” do chatbot .

De acordo com xAI: Uma vantagem única e fundamental do Grok é que ele possui conhecimento do mundo em tempo real por meio da plataforma X. Mas isso também pode significar muito menos filtragem do conteúdo que entra e sai do Grok .

Por que o Grok existe?

Controversamente, o Grok foi lançado poucos dias após a AI Safety Summit em Bletchley Park, no Reino Unido, onde 27 países assinaram a declaração de Bletchley para mitigar os riscos da IA.

Musk também participou da cúpula. Na verdade, poucas horas antes do seu voo para o Reino Unido, ele falou sobre como a IA pode representar um risco existencial para a humanidade se se tornar “acidentalmente anti-humana”.

No entanto, poucos dias depois de discutir estes riscos e de participar da cúpula de IA, Musk lança uma ferramenta de inteligência artificial que ignora todas as premissas de segurança gravadas na declaração de Bletchley.

Talvez ele não veja dessa forma. Em entrevista a Joe Rogan , Musk disse que comprou o X (então Twitter) para combater o “vírus da mente desperta” e os “extincionistas” que “enxergam a humanidade como uma praga na superfície da Terra”.

Treinar o Grok para ser politicamente correto, disse ele, é o risco em si – e é por isso que ele quis desenvolver um chatbot que dissesse o que “pensa” (ou melhor, o que o usuário médio pensa).

Isso tornaria o Grok a versão chatbot de IA do “average Joe” (pessoa comum) no X. É difícil dizer se, no grande esquema das coisas, a maioria das pessoas precisa ou até deseja tal ferramenta.

Mas devemos certamente considerar os riscos de segurança que isso pode representar. Enquanto isso, pelo menos o Grok tem uma resposta mais abrangente sobre o sentido da vida do que “42”.


Sobre a autora

Nataliya Ilyshina é pesquisadora e investiga organizações autônomas descentralizadas (DAO) e tomada de decisão automatizada, e o impacto que elas têm no mercado de trabalho, nas habilidades e no bem-estar pessoal. 

Seu trabalho apresenta estratégias para compreender os impactos da automatização de tarefas, da estrutura corporativa e do gênero, tanto nos indivíduos como nos sistemas de IA que tomam decisões em seu nome.


Este artigo foi publicado originalmente no portal acadêmico Conversation e é republicado aqui sob licença Creative Comuns