Londres – O dono do Twitter / X, Elon Musk, perdeu a compostura durante um fórum de debates promovido pelo jornal New York Times nesta quarta-feira (29), admitindo que o novo boicote de anunciantes em reação a conteúdo antissemita na plataforma- parte postado por ele próprio – pode ter consequências sobre o futuro do Twitter/X.
Em tom de birra, ele atribuiu a suspensão de propaganda de grandes marcas como IBM, Disney, Comcast e Apple a uma tentativa de chantagem, e demonstrou apetite para brigar e não para conciliar, repetindo o xingamento para o caso de alguém não ter entendido.
“Não anuncie. Alguém vai tentar me chantagear com publicidade? Me chantagear com dinheiro? Vão se f***”.
O rompante aconteceu durante uma entrevista com o jornalista Andrew Ross Sorkin na tarde de quarta-feira no New York Times Dealbook Summit, que teve como palestrantes nomes como a vice-presidente americana, Kamala Harris e o CEO da Disney, Bob Iger, que ganhou uma provocação direta.
Depois do xingamento, Elon Musk disse: “Ei Bob, se você estiver na platéia. É assim que eu me sinto, não anuncie.”
O entrevistador ficou perplexo. Depois da repetição do xingamento, Sorkin pergunta pausadamente como Musk acha que desafiar as marcas a não anunciarem impactará as finanças do Twitter.
O empresário tentou jogar a culpa de uma futura quebra do Twitter / X diretamente no boicote dos anunciantes, embora sua gestão tenha se demonstrado caótica desde os primeiros dias devido a atos como o corte drástico da equipe e o desmantelamento da estrutura de segurança e modeação.
“Vai matar a empresa. Isso será o que vai levar a empresa à falência e todos na Terra saberão”.
A transmissão da CNBC mostra o diálogo surpreendente.
CEO foi contratada por Musk reverter boicote de anunciantes
Não se sabe se o Bob da Disney estava assistindo, mas quem estava na plateia era Linda Yaccarino, CEO do Twitter, ex-líder global de propaganda da NBC.
Ela foi contratada por Musk com a missão de resgatar os anunciantes que começaram a suspender verbas no Twitter logo depois que o empresário comprou a rede social e começou a relaxar as políticas de moderação, bem como a admitir de volta conhecidos teóricos da conspiração.
Mas as coisas estavam mais calmas este ano, até que eclodiu a guerra entre o Hamas e Israel.
O Twitter / X passou a ser apontado por organizações não-governamentais e até por organismos internacionais como a União Europeia como a plataforma com mais desinformação, discurso de ódio e antissemitismo.
A bomba definitiva explodiu há duas semanas, com um relatório da ONG Media Matters mostrando marcas de grandes anunciantes ao lado de conteúdo nazista, e postagens do próprio Musk concordando com teses associadas à Teoria da Grande Substituição postadas por usuários da plataforma. Tudo ao mesmo tempo.
Irritado com a Media Matters, Musk abriu um processo que chamou de “termonuclear” contra a ONG.
Musk se arrependeu de posts criticados
Na conversa com Andrew Ross Sorkin, comentarista de finanças do jornal americano, o empresário admitiu que os posts sobre a Teoria da Substitução, citada por diversos atiradores em séries que mataram dezenas de pessoas inspirados por ela, foram infelizes.
“Pensando retrospectivamente, eu não deveria ter respondido a essa pessoa e deveria ter escrito melhor o que eu quis dizer.
Mas esses esclarecimentos foram ignorados pela mídia. Basicamente, entreguei uma arma carregada para aqueles que me odeiam e, sem dúvida, para aqueles que são antissemitas.
E por isso eu sinto muito, essa não era a minha intenção.”
O empresário fez uma visita a Israel no início da semana, como uma forma de se redimir dos comentários antissemitas e enviar uma mensagem de que a plataforma não está alinhada a discurso de ódio contra judeus.
Mas a agressividade da entrevista no fórum do New York Times não deve ajudar muito a trazer de volta as marcas que suspenderam as verbas.
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