As preocupações com a mudança climática e a crise da biodiversidade, temas em debate na COP28, e a escolha de Belém para sediar a conferência do clima da ONU de 2025, são sinais de que a Amazônia continuará na pauta da imprensa nacional e internacional, mas a cobertura jornalística da região nem sempre é fácil.
Pensando nisso, um grupo de profissionais comandado pelo jornalista Daniel Nardim criou a plataforma Amazônia Vox. A iniciativa visa conectar jornalistas de outras regiões do Brasil e do mundo com profissionais freelancers da região e com fontes locais.
Além de dar visibilidade e fomentar o mercado jornalístico local, o projeto coloca em destaque as vozes da própria Amazônia em perspectiva nas narrativas.
Centenas de profissionais e de fontes já estão conectados
Os visitantes do site são recepcionados com uma frase de Ângela Mendes, filha do ambientalista Chico Mendes, assassinado no Acre em 1988, crime que chamou a atenção do mundo para os problemas da Amazônia.
“Se forem falar da Amazônia, nos ouçam. Temos coisas incríveis para contar”
Segundo Daniel Nardim, há ao mesmo tempo “uma boa fé e uma intenção de jornalistas de fora da Amazônia em conhecer mais pesquisadores e fontes daqui, só que o contato não é tão simples, são pessoas que não são tão conhecidas”.
Então, o jornalista pensou: “e se tiver um lugar que consiga reunir essas pessoas, essa base de conhecimento, com certa facilidade, para que jornalistas consigam acessar?’ Sabemos que a agenda do jornalista é tudo, só que nem todo mundo tem essa agenda”.
De acordo com o fundador, o intuito da plataforma é ser uma referência brasileira de jornalismo de soluções a partir da região, indo além das denúncias e privilegiando o aspecto humano.
“Há várias iniciativas locais respondendo aos desafios locais. Ao dar visibilidade para isso, podemos mostrar que tem outras histórias aqui, que precisam de mais apoio para ganhar escala”, contou.
“Começamos a trabalhar e defender a ideia de que sim, há uma série de problemas aqui, mas também tem uma série de soluções sendo desenvolvidas”.
O foco nas soluções é fruto de uma certificação conquistada por Nardim no Solutions Journalism Network (SJN). Não se trata de apagar problemas, como por exemplo a mudança climática, mas de mostrar respostas significativas da região da Amazônia a eles.
Além de conectar profissionais e fontes, a plataforma Amazônia Vox também publica dicas para jornalistas da região e reportagens feitas pelos seus integrantes.
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Como funciona a plataforma
Amazônia Vox já cadastrou cerca de 600 “fontes de conhecimento” e mais de 330 comunicadores freelancers dos nove estados da Amazônia no Brasil. Cada um dos estados possui um jornalista “embaixador”, que trabalha divulgando a plataforma.
Em torno de 60% das fontes vieram a partir da busca ativa da iniciativa, e os outros 40% a partir do autocadastro.
No site, é possível segmentar as buscas por localidade e, no caso das fontes, pelo tipo de conhecimento (científico ou tradicional), além de outros itens como “sociedade civil e lideranças”, “setor cultural e artístico”, “autoridades e política” e “setor produtivo”.
Mudança de clima e desmatamento geram interesse na Amazônia
Mesmo com a emergência de temas urgentes como desmatamento, mudanças climáticas, garimpo e biopirataria, entre outros, o cenário para a cobertura jornalística na região amazônica ainda está longe do ideal.
Segundo um relatório organização da Repórteres Sem Froteiras (RSF), foram registradas 66 denúncias de violações da liberdade de imprensa no território amazônico brasileiro entre os dias 30 de junho de 2022 e 30 de junho de 2023.
A atenção para o ambiente pouco hospitaleiro ganhou holofotes internacionais com eventos como o assassinato de Dom Philips e Bruno Pereira semanas antes do período compreendido pelo relatório da RSF.
Iniciativas como a Amazônia Vox e a agência de notícias Amazônia Real ganharão ainda mais importância com a escolha de Belém para sediar a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30).
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