Londres – A organizaรงรฃo de liberdade de imprensa Repรณrteres Sem Fronteiras (RSF) protocolou no Tribunal Penal Internacional (TPI) o segundo pedido de investigaรงรฃo de crimes de guerra contra jornalistas no conflito entre o Hamas e Israel, em Gaza.

A queixa refere-se ร  morte de sete jornalistas que teriam sido vรญtimas de “provรกveis โ€‹โ€‹crimes de guerra cometidos pelas Forรงas de Defesa de Israel” durante oito semanas, atรฉ 15 de dezembro. Outra queixa havia sido formalizada em outubro. 

“A RSF tem motivos razoรกveis โ€‹โ€‹para acreditar que os jornalistas mencionados nesta queixa foram vรญtimas de ataques que equivalem a crimes de guerra”, disse a organizaรงรฃo em um comunicado. 

Por que a RSF considera mortes de jornalistas em Gaza crimes de guerra

De acordo com as informaรงรตes coletadas pela RSF, estes jornalistas podem ter sido deliberadamente atacados, mesmo com evidรชncias de que eram jornalistas a serviรงo. 

Em pelo menos um dos casos, ocorrido na fronteira entre o Lรญbano e Israel, a organizaรงรฃo investigou e concluiu que o exรฉrcito tinha conhecimento de que o grupo que acompanhava bombardeios ร  distรขncia era formado por profissionais de imprensa. 

O cinegrafista da agรชncia de notรญcias Reuters Issam Abdallah morreu no ataque, e vรกrios outros ficaram feridos. A RSF descreve esse tipo de morte como  homicรญdio intencional de civis.

A RSF instou instou o promotor do TPI a investigar todas as mortes de jornalistas palestinos mortos pelos militares israelenses desde 7 de outubro.

Os jornalistas citados na nova denรบncia sรฃo

  • Asem Al-Barsh , um jornalista da rรกdio Al Najah morto por franco-atiradores; 
  • Bilal Jadallah , da Casa de Imprensa Palestina, vรญtima de um ataque direto com mรญsseis contra o seu carro quando saรญa do seu local de trabalho;
  • Montaser Al-Sawaf , cuja casa foi alvo duas vezes de disparos de mรญsseis;
  • Rushdi Al Siraj , vรญtima de um tiro direto em sua casa;
  • Hassouna Salim, da agรชncia Quds News, morto por um mรญssil apรณs receber ameaรงas de morte; 
  • Sari Mansour, fotojornalista do Quds News, que morreu no mesmo ataque;
  • Samer Abu Daqqa, cinegrafista da Al Jazeera que teria sido morto por um tiro de precisรฃo disparado de um drone que tambรฉm feriu o chefe do escritรณrio da Al Jazeera, Wael Dahdouh.

A primeira queixa da RSF desde 7 de Outubro foi apresentada ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, em 31 de outubro e dizia respeito ร  morte de outros sete jornalistas.

Em ambas as queixas, a RSF insta o promotor do TPI a investigar todas as mortes de jornalistas palestinos mortos desde o inรญcio da guerra, incluindo aqueles que nรฃo estavam comprovadamente a serviรงo no momento do ataque.

Quantos jornalistas morreram no conflito?

A forma de classificar os profissionais de imprensa que perderam a vida na guerra de Gaza estรก causando discrepรขncias nas estatรญsticas de jornalistas mortos em 2023.

Hรก duas semanas, a RSF divulgou um balanรงo parcial do ano, com o registro de 45 mortes de profissionais de imprensa em 2023, nรบmero menor do que em 2022. 

Em Gaza, segundo a organizaรงรฃo, pelo menos 13 jornalistas foram mortos devido ao seu trabalho como jornalistas desde o inรญcio da guerra entre Israel e o Hamas, um total que sobe para 56 se forem incluรญdos  todos os jornalistas mortos na Faixa de Gaza, sejam ou nรฃo a serviรงo.

Outras organizaรงรตes, como o Comitรช de Proteรงรฃo a Jornalistas e a Federaรงรฃo Internacional de Jornalistas (IFJ), listam tambรฉm os que morreram em casa ou em locais nรฃo relacionados ร  atividade jornalรญstica sem fazer distinรงรฃo entre eles, e os nรบmeros sรฃo mais altos.

No dia 21 de dezembro, a IFJ registrava pelo menos 65 fatalidades, alรฉm de um nรบmero nรฃo confirmado de profissionais desaparecidos.

O Sindicato de Jornalistas da Palestina, afiliado ร  IFJ, protestou contra a contagem da Repรณrteres Sem Fronteiras e ameaรงou processar a organizaรงรฃo, acusando-a de โ€œencobrir a imagem da ocupaรงรฃoโ€, de โ€œproteger Israel de qualquer responsabilidade perante a justiรงa internacionalโ€, de โ€œpreconceito a favor da ocupaรงรฃoโ€ e de โ€œfalta de profissionalismoโ€.