Londres – O ano de 2023 não deixou dúvidas de que as alterações no clima do planeta estão levando a eventos climáticos mais severos e com efeitos mais dramáticos sobre as pessoas, como mostram fotos que registram enchentes, secas e ondas de calor em várias partes do mundo.
A Getty Images fez uma seleção das imagens mais marcantes do ano, algumas de autoria do fotógrafo Mario Tama, baseado no estado americano da California, onde vários desses eventos aconteceram em 2023. Um deles foi uma tempestade de neve atípica em março.
Em abril foi a vez das enchentes. Nesta foto aérea, feita pelo fotógrafo com um drone, um veículo tenta atravessar o Lago Tulare, no Vale Central da Califórnia, perto da cidade de Corcoran, na Califórnia.
O lago, que já foi o maior corpo de água doce a oeste do rio Mississippi, desapareceu há muitos anos quando as águas foram desviadas para irrigar plantações.
Mas tempestades em rios causaram este ano inundações significativas na área do leito do lago, deixando mais de 160 quilômetros quadrados de fazendas e outras terras inundadas.
Na mesma região, uma plantação de pistache foi tomada pelas águas, parecendo emergir de dentro do lago.
Os drones se tornaram “ferramentas incrivelmente poderosas entre os fotógrafos climáticos”, aponta Tama, que também registrou em fotos aéreas os efeitos da tempestade tropical Hilary, em agosto.
Nesta imagem, veículos aparecem presos na lama em Cathedral City.
Os EUA também viveram ondas de calor, como as que afetaram o Brasil devido ao El Niño. Na cidade de Phoenix, no Arizona, as temperaturas bateram 110 graus, atingindo de forma mais intensa as pessoas menos favorecidas.
Para quem vive no ar-condicionado dá para suportar, mas os que moram em acampamentos de sem-teto, como o homem da foto, estão entre aqueles que mais sofrem com a crise do clima.
Tama destaca a importância do elemento humano nas fotos que retratam os eventos climáticos.
“Fotografias autênticas de seres humanos que foram diretamente impactados ficam gravadas na nossa consciência de uma forma que os dados climáticos e o jargão técnico não conseguem.”
No paradisíaco Havaí, um incêndio florestal que começou em 8 de agosto matou pelo menos 98 pessoas, deslocou milhares de outras e destruiu mais de 2 mil construções na cidade histórica, a maioria residências.
A foto aérea mostra o contraste entre a cidade em tons de cinza e o mar azul.
Os EUA também foram afetados pela fumaça de incêndios florestais que aconteceram no Canadá. Na imagem registrada por David Dee Delgado, o famoso Edifício Chrysler, em Nova York, destaca-se na paisagem enevoada ao fundo.
Nova York liderou a lista das principais cidades mais poluídas do mundo na noite em que a fumaça dos incêndios cobriu a Costa Leste.
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Na Europa, calor e incêndios em 2023
Mesmo sem o efeito do El Niño, vários países da Europa foram atingidos por ondas de calor e inundações em 2023.
Na Espanha, o sistema de alta pressão Cerberus, que ganhou o nome inspirado em um personagem da obra O Inferno, de Dante, levou as temperaturas a 43º. A foto mostra jovens sob o sol quente em Barcelona, uma das cidades atingidas pelo calor extremo.
Na Grécia, incêndios se espalharam por florestas próximas à capital, Atenas. Pessoas das comunidades ajudaram os bombeiros a combaterem o fogo.
Mais de 140 bombeiros trabalharam para conter as chamas, com a ajuda de equipes da França e da Itália. As visitas ao monumento Acrópole chegaram a ter o horário reduzido devido ao forte calor.
A Itália também viveu ondas de calor e chuvas, que deixaram mais de dez pessoas mortas na Emilia Romana, ao norte do país. Na foto de Antonio Masiello, da Getty Images, bombeiros caminham pela rua inundada para ajudar pessoas presas em suas casas.
Um termômetro marca 45ºC em Toulouse, na França, no dia 23 de agosto, o dia mais quente já registrado no país.
Sufocada pela onda de calor, a França bateu recordes de temperatura principalmente no sul. O país ficou de 8 a 15°C acima das temperaturas normais para agosto.
O fenômeno foi qualificado como extremo pela intensidade, pela duração e por ter ocorrido no final do verão. Vários locais tiveram alerta vermelho, utilizado quando as temperaturas noturnas superam 26ºC e as diurnas passam de 40ºC.
Eventos extremos registrados em 2023 não foram apenas decorrentes das mudanças climáticas, mas também da ação do homem. Em Kherson, na Ucrânia, um homem navega no dia 9 de junho em um barco inflável em uma rua inundada.
A barragem e a usina hidrelétrica de Kakhovka, que ficam no rio Dnipro na região sul de Kherson, foram destruídas, forçando as comunidades a deixarem o local devido ao risco de inundações. Rússia e Ucrânia se acusaram mutuamente pela destruição
Na Ásia e na Oceania, registros de eventos climáticos mostram incêndios e inundações
O fotógrafo Ulet Ifansasti registrou os bombeiros tentando extinguir um incêndio florestal em Ogan Ilir, Sumatra do Sul, Indonésia, em 23 de setembro de 2023.
Pelo menos seis províncias do país combatem incêndios florestais na mesma época, supostamente provocados por queimadas ilegais para limpar terrenos para plantações agrícolas. O fogo causa doenças respiratórias e perda de biodiversidade.
A agência meteorológica do país previu que a Indonésia experimentaria a estação seca mais severa desde 2019, sob efeito do fenômeno El Niño.
Na Índia, a imagem mostra mulheres carregando potes de água retirados de um poço parcialmente seco em 26 de maio de 2023 em Khokher, no estado de Maharashtra, que enfrentou em 2023 uma crise hídrica sem precedentes.
A seca severa tomou conta do interior do estado nos últimos anos, ocasionando a diminuição dos rios. No auge da seca deste ano, havia menos de 10% de água disponível em 13 importantes reservatórios que abastecem o estado, que é a força motriz da economia indiana, segundo relatos da mídia local.
No mesmo estado, um homem atravessa o leito seco e rachado da barragem Koparli, na aldeia de Peth Taluka.
A Nova Zelândia ficou sob estado de emergência nacional depois que o ciclone Gabrielle atingiu sua costa norte em 12 de fevereiro, causando enchentes e destruição – outro dos grandes eventos climáticos extremos de 2023.
Geleiras derretendo, tempestades e falta de neve
O derretimento das geleiras e a falta de neve também são efeitos do aquecimento global que se acentuaram em 2023.
A geleira Lewis, a maior do Parque Nacional Monte Quênia, foi registrada em uma imagem aérea pelo fotógrafo Ed Ram, em 28 de setembro de 2023.
O segundo pico mais alto de África tem cerca de 11 glaciares que estão derretendo rapidamente devido à queima de combustíveis fósseis, incêndios, desmatamento e mudanças na utilização dos solos.
O aquecimento causa impactos sobre a natureza, sobre pessoas que vivem nas regiões e também sobre as que vivem do turismo. As estações de esqui na Áustria, Alemanha e Suíça enfrentam um mês de janeiro excepcionalmente quente, assim como outras partes da Europa.
No registro feito em Schladming, Áustria, no dia 6 de janeiro, esquiadores descem as pistas de Rohrmoos cobertas de neve artificial, enquanto a grama cobre o resto da colina em ambos os lados, no dia 6 de janeiro de 2023.
Esta outra foto feita na Áustria mostra a neve artificial na montanha Zugspitze em 16 de janeiro de 2023. O entorno da pista está ressecado e sem neve, uma paisagem diferente da dos anos anteiores.
O clima excepcionalmente quente persistiu durante todo o mês de janeiro na Áustria e em grande parte dos Alpes europeus, levando à falta de neve em muitas das estações de esqui da região e afetando competições de esportes de inverno.
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