Londres – Após dois meses de pressões, a plataforma de boletins informativos Substack cedeu e admitiu encerrar as contas de cinco newsletters com conteúdo nazista, mas disse que não mudou as regras, atribuindo a decisão à “reconsideração sobre como interpretar as políticas existentes”.
O movimento começou em novembro, depois que a revista The Atlantic sinalizou a existência de newsletters defendendo o nazismo, mas ganhou força há duas semanas quando uma das estrelas da plataforma, o jornalista de tecnologia Casey Newton, tomou a dianteira e pressionou a Substack a rever a decisão de manter os boletins sob o argumento de liberdade de expressão.
Newton é autor de uma prestigiada newsletter na Substack, a Platformer, com 172 mil assinantes, e ameaçou deixar o serviço caso os boletins apontados por ele como nazistas continuassem a circular. (Atualização: em 11 de janeiro, Newton anunciou a decisão de sair da Substack)
Substack não removeu todas as newsletters nazistas
O caso dividiu opiniões na Substack. Mais de 100 autores assinaram uma petição pedindo à platforma para não apertar a moderação, enquanto outros 240 se manifestaram perguntando à empresa se “dar plataforma a nazistas é parte de sua receita de sucesso”.
Nesta segunda-feira, a Substack removeu cinco das seis newsletters listadas por Casey Newton, mas nem todas as 16 que tinham sido apontadas pela The Atlantic.
A empresa disse ainda que a nova interpretação da política não incluirá a remoção proativa de conteúdo relacionado com neonazistas e extremismo de extrema direita, mas afirmou que a Substack continuará a remover qualquer material que inclua “ameaças críveis de danos físicos.”
Em uma nota enviada à Platformer, os fundadores do serviço disseram entender as preocupações sobre abordagem de moderação de conteúdo.
Eles acrescentaram estar trabalhando em ferramentas de denúncia que possam ser usadas para sinalizar conteúdo que potencialmente viole as diretrizes.
A controvérsia expõe a tênue fronteira entre liberdade de expressão e discurso de ódio nas plataformas digitais.
No auge da polêmica, em dezembro, um dos fundadores do Substack, Hamish McKenzie, escreveu em um post:
“Só quero deixar claro que também não gostamos dos nazistas – gostaríamos que ninguém tivesse essa opinião.
Mas algumas pessoas têm essas e outras opiniões extremas. Dado isso, não pensamos que a censura (inclusive através da desmonetização de publicações) faça o problema desaparecer – na verdade, torna-o pior.”
Newton está entre os que discordam dessa posição. Na semana passada, ele criticou a relutância da Substack em remover o conteúdo nazista:
“Os nazistas não cometeram a única atrocidade da história, mas uma plataforma que se recusa a remover seus apoiadores está dizendo algo importante sobre si mesma.”
O que é a plataforma Substack
A Substack foi criada em São Francisco em 2017, e tornou-se uma pedra no sapato de empresas jornalísticas. Os autores podem publicar boletins informativos enviados por email e vender assinaturas, ficando com 90% do valor.
Segundo análise do site de mídia britânico Press Gazette, os 22 boletins informativos mais lucrativos do Substack geram pelo menos US$ 22 milhões em receita por ano.
Vários nomes importantes decidiram criar seus próprios canais, como o próprio Casey Newton, que foi editor da prestigiada publicação The Verge.
Sua newsletter traz análises e entrevistas com grandes nomes do mundo da tecnologia, frequentemente citadas pela mídia aberta.
Na edição em que relatou sua conversa com a Substack a respeito da remoção das newsletters com defesa nazista, o jornalista observou que a Substack não é mais apenas um ambiente de hospedagem de conteúdo, como Cloudfare.
Uma vez que a plataforma sugere conteúdo aos seus usuários, segundo ele, torna-se responsável pelo que recomenda, a exemplo de qualquer outra rede social ou meio de comunicação.
Na carta em que pedem explicações sobre a tolerância com autores nazistas no Substack, os 240 signatários citam como exemplo o supremacista branco Richard Spencer, que recebeu um selo de “BestSeller” da plataforma, sinal de endosso do conteúdo.
Os 100 autores que assinaram a petição contra o aumento de moderação, incluindo nomes conhecidos como o escritor Richard Dawkin, preferem que não haja limites para definir o que os leitores encontrarão no Substack, deixando-os fazer suas próprias escolhas.
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