Londres – A organização de liberdade de imprensa Comitê para a Proteção dos Jornalistas reforçou a pressão sobre o governo da Rússia para colocar fim a ataques contra infraestruturas civis na Ucrânia, depois de um bombardeio com mísseis contra um hotel ter ferido dois jornalistas que cobrem a guerra para veículos estrangeiros.
É o segundo ato semelhante em menos de um mês. O outro aconteceu às vésperas do Ano Novo. Também foram registrados recentemente ataques a redações no país.
O último caso aconteceu em 10 de dezembro. Forças russas bombardearam o Park Hotel em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, ferindo Violetta-Anastasia Pedorich, uma produtora freelance ucraniana que trabalha para a emissora pública France Télévisions , e Davit Kachkachishvili, repórter da agência estatal turca Anadolu, segundo relato de Pedorich e de Etienne Leenhardt, da France Télévisions, ao CPJ.
Pelo menos 13 pessoas ficaram feridas no ataque, mas outras escaparam ilesas – incluindo o fotojornalista da Agência Anadolu Özge Elif Kızıl, a repórter da France Télévisions Anaïs Hanquet e a operadora de câmera Valérie Lucas.
O carro da Agência Anadolu foi destruído, disseram essas fontes à organização.
Pedorich contou ao CPJ que seu rosto e mãos foram atingidos por pedaços de vidro, enquanto Kachkachishvili teve cortes nas mãos, de acordo com o Sindicato Nacional de Jornalistas da Ucrânia e o grupo local de liberdade de imprensa Instituto de Informação de Massa (IMI).
O vídeo divulgado pela União de Jornalistas da Ucrânia (NUJU, na sigla em inglês) mostra a extensão do ataque, que destruiu boa parte do prédio e veículos que estavam ao redor.
Protestos contra ataque a hotel de jornalistas na Ucrânia
A organização afirma que destruição de hotéis em Zaporizhzhia, Pokrovsk e agora em Kharkiv é uma tática deliberada de intimidação de profissionais de mídia, a fim de limitar a cobertura da guerra dos meios de comunicação internacionais.
“O CPJ está muito preocupado com o último ataque com mísseis da Rússia na Ucrânia, que teve como alvo um hotel que abrigava jornalistas. Os meios de comunicação são fundamentais para informar o mundo sobre a guerra e os jornalistas são civis ao abrigo do direito humanitário internacional, nunca devem ser considerados combatentes”, afirmou Gulnoza Said, coordenador do CPJ para a Europa e Ásia Central.
“As autoridades russas e ucranianas deveriam investigar o ataque que feriu os jornalistas Violetta-Anastasia Pedorich e Davit Kachkachishvili, e a Rússia deve parar de atacar a infraestrutura civil na Ucrânia, incluindo instalações que abrigam jornalistas.”
Produtora ucraniana ferida relata o bombardeio
Pedorich disse ao CPJ que na manhã do ataque, sua equipe fez entrevistas na linha de frente com soldados de artilharia na cidade de Avdiivka , o que ela considera “muito irônico”.
“O ataque aconteceu cinco minutos depois da chegada (da equipe da France Télévisions). Por sorte, Valérie (Lucas) e Anaïs (Hanquet) ainda estavam no corredor, procurando seus quartos, e eu só tive tempo de entrar ”, disse Pedorich, que cobre a guerra há quase dois anos para vários meios de comunicação estrangeiros.
Ela divulgou uma foto do ferimento recebido.
“Ficámos muito assustados quando vimos que o segundo bombardeio tinha atingido diretamente o hotel. Ainda não conseguimos entender o que aconteceu”, disse Hanquet à France 2, segundo o comunicado do CPJ.
O Ministério da Defesa russo não fez comentários oficiais sobre o ataque de 10 de janeiro nem respondeu à correspondência enviada pelo CPJ.
Em um canal do Telegram, um oficial do exército russo afirma que o prédio atingido abrigava mercenários. “Os membros da nossa equipe são jornalistas de verdade”, rebateu a France 2 em sua reportagem sobre o ataque.
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