Dana Nuccitelli, cientista climático
Dana Nuccitelli

O ano passado foi marcado pela quebra de diversos recordes climáticos e energéticos — alguns ruins, mas outros bons. Ele se confirmou de longe o ano mais quente já registrado na história. 

Embora os cientistas do clima ainda não possam explicar com precisão por que o ano foi tão quente, o aquecimento global causado pelo homem no longo prazo e a variabilidade natural contribuíram para a quebra do recorde. E os últimos nove anos foram os nove mais quentes já registrados.

Um gráfico das temperaturas da superfície do mar de 1987 a 2023. Os anos de El Niño são mais quentes do que os anos de La Niña.
Temperatura média global da superfície de 1987-2023 categorizada por anos com uma influência significativa de resfriamento de La Niña (azul), influência de aquecimento de El Niño (vermelho), condições neutras (preto) e aquelas com uma influência de resfriamento de uma grande erupção vulcânica recente (triângulos laranja). Dados: Berkeley Earth/ Gráfico: Dana Nuccitelli

Combustíveis fósseis e o recorde na poluição climática

A poluição pelo aquecimento climático da combustão de combustíveis fósseis também registrou um recorde em 2023, aumentando os níveis do dióxido de carbono que absorve o calor até uma média anual de quase 420 partes por milhão na atmosfera.

Um novo estudo publicado em dezembro de 2023 estimou que os níveis de dióxido de carbono não estiveram tão altos desde cerca de 14 milhões de anos atrás.

E uma nova Avaliação Climática Nacional documentou como as mudanças climáticas resultantes estão afetando todas as regiões dos Estados Unidos, relatando que as emissões do país estão diminuindo, mas muito lentamente.

Apesar de todas essas más notícias, muitos países estão progredindo no sentido de reduzir sua poluição climática, e as perspectivas para 2024 são encorajadoras. Na verdade, 2023 pode se consagrar como o ano em que a poluição global por aração pelo calor atingiu o pico e começou a diminuir.

O progresso na mudança climática em 2023

Nos EUA, os Democratas aprovaram em 2022 a Lei de Redução da Inflação, projetada para dar um enorme impulso à tecnologia limpa, como painéis solares, bombas de calor, fogões de indução e veículos elétricos.

Embora os investimentos em tecnologia limpa estivessem apenas começando a ser implantados em 2023, a poluição climática dos EUA caiu cerca de 2-3% em comparação com o ano anterior e agora está 18-19% abaixo dos níveis de 2005.

A poluição climática na União Europeia melhorou ainda mais, diminuindo cerca de 6-7% em 2023, à medida que as nações que fazem parte do bloco aceleraram suas implantações de energia limpa — em parte para reduzir sua dependência de combustíveis fósseis provenientes da Rússia.

Essas reduções foram compensadas por aumentos de emissões na China e na Índia. Grande parte do aumento da poluição climática da China este ano pode ser atribuído à recuperação associada ao fim de sua política de “Covid-19 zero”, em janeiro de 2023.

Dois gráficos. O da esquerda mostra o aumento da poluição global de carbono. O da direita mostra de que país essas emissões estão vindo. As emissões da China estão aumentando rapidamente, enquanto os EUA e a Europa estão diminuindo ligeiramente.

Quadro esquerdo: Emissões globais de dióxido de carbono de combustíveis fósseis desde 1960, com a previsão de 2023 em vermelho. Quadro direito: Emissões de dióxido de carbono de combustíveis fósseis da China (roxo), EUA (vermelho), União Europeia (azul) e Índia (verde); previsões de 2023 indicadas com círculos. Do

Orçamento Global de Carbono.

E muitas tecnologias limpas também viram um crescimento recorde em 2023, especialmente na China.

As implantações de painéis solares quebraram o recorde anterior estabelecido no ano passado em mais de 50%, com mais da metade do total mundial instalado na China. As vendas de turbinas eólicas, bombas de calor e veículos elétricos também bateram recordes globais em 2023.

E espera-se que esse progresso da tecnologia limpa continue acelerando em 2024 e nos anos seguintes. Na última reunião internacional sobre o clima em dezembro de 2023, a COP28, 118 governos — 60% de todos os países — se comprometeram a triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030.

Vários países-chave aderiram ao Compromisso Global de Metano, no qual 155 governos (80% de todos os países) concordaram em reduzir as emissões de metano — que aquecem enormemente a atmosfera a curto prazo — pelo menos 30% até 2030.

E pela primeira vez, todos os países concordaram em fazer a transição dos combustíveis fósseis.

As perspectivas de mudanças climáticas para 2024

Os especialistas acreditam que se a China continuar seu ritmo acelerado de implantação de painéis solares e turbinas eólicas, o país poderá começar a deslocar seu consumo de combustíveis fósseis e iniciar um declínio estrutural na poluição por carbono em 2024.

Grande parte do resto do mundo reduziu as emissões em 2023. Portanto, se a China seguir o exemplo em 2024 e nos anos seguintes, é possível que 2023 se torne o ano em que a poluição climática global atingiu o pico.

Nos Estados Unidos, os incentivos financeiros aprovados na Lei de Redução da Inflação devem continuar a acelerar a implantação de tecnologias limpas e, portanto, a poluição climática do país deve continuar a diminuir.

Os departamentos estaduais de energia começarão a lançar os descontos iniciais da lei para que os proprietários tornem suas casas mais eficientes em termos de energia em meados de 2024.

Os créditos fiscais da Lei de Redução da Inflação para veículos elétricos novos e usados passaram a ser transferíveis para concessionárias de carros a partir de janeiro de 2024, o que significa que eles efetivamente se tornarão descontos iniciais subtraídos dos preços dos veículos.

O Congresso deve negociar a renovação do Farm Bill este ano, que deve incluir financiamento para soluções climáticas naturais. Espera-se também que os legisladores do Congresso continuem a negociar um acordo de reforma de permissão para agilizar a implantação da infraestrutura energética.

Eleições e clima 

E, claro, a próxima eleição para a presidência, em 5 de novembro será crítica para determinar as políticas climáticas e a poluição dos EUA nos próximos anos.

Se os republicanos ganharem as eleições de novembro e assumirem o controle do Congresso e da Casa Branca, podemos esperar uma repetição do que aconteceu da última vez que esse cenário se concretizou em 2017.

O governo Trump reverteu mais de 100 regras climáticas e ambientais, a política climática firou em segundo plano no Congresso e a poluição climática dos EUA aumentou até que a pandemia da Covid-19 atingiu o final de 2019.

Se os Democratas ganharem as eleições, podemos esperar um resultado semelhante ao que aconteceu quando esse partido teve controle total do governo em 2021-2022.

A política climática foi tratada como uma prioridade máxima, e o maior projeto de lei climático de todos os tempos foi assinado em lei na forma da Lei de Redução da Inflação.

Se o governo permanecer dividido após a eleição, o atual ambiente político provavelmente continuará no próximo ano, no qual os líderes de ambos os partidos procuram encontrar modestas projetos de lei climáticas bipartidárias com as quais possam concordar.

Embora o evento El Niño em andamento possa potencialmente fazer com que 2024 quebre o recorde global de temperatura mais uma vez, este ano pode marcar um ponto de virada para nossos sistemas de energia, poluição por carbono e clima da Terra.


Este artigo foi publicado originalmente na Yale Climate Connections e é republicado pelos membros da coalizão climática Covering Climate Now