“Um novo jeito de consumir, reportar e pensar sobre as notícias”, explica uma âncora de TV inteiramente gerada por Inteligência Artificial (IA) ao apresentar  o projeto do Channel 1, do qual faz parte.

Com um perfil ativo no Twitter desde o final de julho deste ano, a startup noticiosa baseada em Los Angeles (EUA)  lançou nesta semana um vídeo no qual divulga aquilo que define como “o futuro das notícias”.  

Ao longo de seus 22 minutos de duração, a polêmica produção dá uma amostra de seu trabalho – apresentado por âncoras inteiramente gerados por IA dotados de personalidades próprias – e promete conteúdo personalizado em múltiplos idiomas. 

Âncoras geradas por IA e humanos nos bastidores 

A startup, que defende ser imparcial e seguir os princípios do melhor jornalismo, tem como fundadores pessoas que vêm de fora do universo do jornalismo: o produtor cinematográfico Scott Zabielski (de “Tosh.0” e “The Jim Jefferies Show”) e o empresário de tecnologia Adam Mosam.

A notícia do lançamento foi recebida com preocupação, pela extensão do uso de âncoras gerados por IA, o que outros canais e até governos já fizeram de forma mais restrita e isolada, e pela confiabilidade das notícias. 

Além da questão da segmentação, que remete ao problema das chamadas câmaras de eco, o material de divulgação do Channel 1 levanta questões como a diminuição de postos de trabalho e problemas relacionados a direitos autorais.

Mesmo que os âncoras do Channel 1 sejam criações hiper-realísticas geradas por IA, a startup garante que o trabalho contará com o serviço de humanos para funções como checagem de fatos e edição. 

Segundo o Channel 1, a iniciativa produz conteúdos “a partir de fontes confiáveis e de fact-checking” – ainda que tais fontes não tenham sido reveladas até o momento.

Um de seus intuitos é a produção de conteúdo altamente segmentado para seus consumidores, e no idioma que desejaram, o que permitirá um alcance global.

No vídeo de lançamento, a apresentadora faz uma demonstração, lendo o texto em diversos idiomas. 

Cada um de seus âncoras artificias, gerados por computador, tem sua própria “personalidade, aparência e voz”, segundo o vídeo de divulgação.

Ainda de acordo com o Channel 1, não seria preciso temer a companhia, pois “não há um computador em algum lugar escrevendo sobre coisas que não aconteceram”.

Pelo contrário: segundo o material, partindo dessas fontes não especificadas, o uso da IA generativa diz respeito a imagens com intuitos ilustrativos e às traduções – além, é claro, dos próprios âncoras.  

Uso de IA no jornalismo carece de regulamentação

O lançamento do Channel 1 acontece no momento em que a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) se engajou no debate público acerca da necessidade de discussões sobre o uso de Inteligência Artificial. 

Em novembro deste ano, e às vésperas do aniversário de 1 ano do ChatGPT, a RSF lançou uma carta de princípios, onde alerta para a utilização transparente e não manipulável das tecnologias do momento.

São preocupações da entidade temas como a desinformação, a privacidade e os direitos autorais.  

A polêmica em torno do Channel 1 não é isolada.

No último dia 12 de dezembro, o CEO do Arena Group, Ross Levinsohn, foi demitido na sequência da revelação de que a revista Sports Illustrated, também sob seu comando, publicou em seu site matérias feitas por Inteligência Artificial.

Os textos da Sports Illustrated eram assinados por “jornalistas” inventados, com direto a fotos falsas de perfil e biografias.