Londres – O Reino Unido anunciou sanções a uma unidade da Guarda Revolucionária Islâmica e a sete pessoas acusadas de “ameaça representada pelo regime do Irã, que procura exportar a repressão, o assédio e a coerção contra jornalistas e defensores dos direitos humanos”, segundo comunicado da Secretaria Nacional de Relações Exteriores, comandada pelo ex-primeiro-ministro David Cameron.

Os atingidos pela medida são membros da Unidade 840 do Corpo da Guarda Revolucionária (IRGC, na sigla em inglês) denunciados em dezembro em uma reportagem investigativa da emissora ITV como responsáveis por um plano para assassinar dois apresentadores do canal de notícias Iran International em solo britânico.  

Os apresentadores alvo do plano são Fardad Farazhad e Sima Sabet. As ameaças começaram em 2022, na sequência dos protestos contra a morte da jovem curda Mahsa Amini que desafiaram o regime no Irã. 

O canal chegou a fechar no Reino Unido em fevereiro do ano passado, após ameaças seguidas e prisão de um homem nos arredores da redação. As atividades foram transferidas para um escritório em Washington (EUA).

Em setembro de 2023, a rede Iran International retomou as atividades em outro prédio em Londres, com segurança reforçada sob orientação da Scotland Yard. 

Novo regime de sanções aplicado aos envolvidos no caso da TV do Irã

Segundo o governo do Reino Unido, mais de 15 ameaças de intimidação ou assassinato de cidadãos britânicos ou indivíduos ligados ao país atribuídas ao Irã foram registradas desde janeiro de 2022.

As sanções foram anunciadas em meio à escalada das tensões entre EUA, Reino Unido e Irã, com bombardeios desde o início de janeiro a alvos militares Houthi apoiados pelo país no Mar Vermelho. 

As sanções aos que planejaram matar os jornalistas foram aplicadas nesta segunda-feira (29) com base em um novo regime que entrou em vigor no Reino Unido em dezembro de 2023, prevendo medidas destinadas “a atingir indivíduos e organizações, incluindo sanções destinadas a dissuadir o governo do Irã ou os grupos armados apoiados por ele de realizar atividades hostis contra o Reino Unido ou qualquer outro país.”

O Irã reagiu, convocando o diplomata britânico Simon Shercliff em Teerã para contestar o que classificou de “acusações infundadas” de Londres. 

Os sancionados são: 

  • Unidade 840 do Grupo do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, apontada pela ITV News como coordenadora da ameaça à Iran International  
  • Mohammed Ansari, Oficial do IRGC-QF, e Muhammed Abd al-Razek Kanafani, envolvidos no plano 
  • Abdulvahap Kocak e Ali Kocak, cidadãos turcos ligados ao assassinato de um dissidente iraniano em Istambul
  • Ali Esfanjani e Muhammad Reza Naserzadeh, cidadãos iranianos ligado ao mesmo assassinato
  • Naji Ibrahim Sharifi-Zindashti: chefe do cartel internacional de drogas e tráfico

Uma das medidas é o congelamento de ativos, impedindo que qualquer cidadão ou empresa no Reino Unido lide com fundos ou recursos financeiros que pertençam, estejam em poder ou sejam controlados pela pessoa ou organização alvo das sanções, em território britânico ou no exterior. 

Os sancionados também ficam proibidos de entrar ou permanecer no Reino Unido, exceto se forem protegidos pela legislação imigratória. 

O  Reino Unido tem mais de 400 sanções aplicadas contra indivíduos e entidades iranianas em resposta às violações dos direitos humanos do regime, ao programa de armas nucleares e à “influência maligna do país em nível internacional”, segundo a Secretaria de Relações Exteriores. 

Como as ameaças aos apresentadores da TV do Irã foram reveladas 

A Iran International transmite programação 24 horas por dia e é assistida por um público estimado por ela em mais de 30 milhões de pessoas, entre a população iraniana e a diáspora global.

Em novembro de 2022, os dois profissionais da equipe da TV foram notificados pelas autoridades que suas vidas e as de suas famílias estavam sob risco,  mas seus nomes não foram revelados.

O prédio onde funcionava a redação ganhou proteção policial. 

Segundo o programa da ITV, o plano de assassinato foi frustrado porque o homem contratado para fazer o trabalho era um “agente duplo” que trabalhava para uma agência de inteligência ocidental. Ele passou as informações sobre o caso para a emissora. 

A reportagem afirma que o complô foi encomendado por Mohammad Reza Ansari, o comandante do IRGC encarregado de assassinatos fora do Irã, um dos que recebeu sanção. Ele estaria baseado na Síria e teria ligações com a família de Bashar al-Assad.

De acordo com a ITV, Ansari contratou e orientou o assassino por meio de outro homem ligado a Assad,  Mohammad Abd al-Razek Kanafani, exigindo primeiro que usasse um carro-bomba para atingir a redação.

Depois que a proteção policial foi reforçada no local, a encomenda mudou para uma forma ‘silenciosa’ de matar os  alvos: “simplesmente esfaqueie-os com uma faca de cozinha.”

O valor para o trabalho seria de US$ 200 mil, e os dois apresentadores a serem assassinados receberam o apelido de “a noiva e o noivo”.  A ITV obteve gravações de vídeo e mensagens de texto relacionadas ao plano.