Londres – O aniversário de 20 anos do Facebook, neste domingo (4), é festejado pelos que reconhecem a revolução na forma como as pessoas se comunicam e e se informam, mas lamentado pelos que aproveitam a data para lembrar problemas como a disseminação de fake news, o impacto negativo sobre a saúde mental dos usuários e o escândalo Cambridge Analytica. 

Dias antes do aniversário, o criador da rede e CEO, Mark Zuckerberg, encarou congressistas nos EUA junto com líderes de outras quatro rede sociais e ouviu do senador republicano Lindsey Graham: “Eu sei que vocês não queriam que fosse assim, mas vocês têm sangue nas mãos”. 

Zuckerberg tentou olhar para a frente. Pediu desculpas a pais que exibiram fotos de jovens mortos após assédio sexual no Facebook e prometeu esforços para evitar que essas situações se repitam – mas tem que conviver com críticas pesadas, ameaças de regulamentação, processos judiciais e o mais importante: perda de audiência jovem. 

Há 20 anos, Facebook nascia em Harvard

A posição em que ele se encontra é bem diferente da que estava em janeiro de 2004: um jovem estudante de psicologia e computação de Harvard que se juntou com colegas, entre eles o brasileiro Eduardo Saverin, para criar um diretório online de pessoas da faculdade batizado de “Thefacebook”. 

O objetivo era trocar posts, mensagens, e criar uma rede de ‘amigos’. O pilar era o ‘mural’, onde os usuários podiam publicar posts ou escrever sobre outros.

Antes disso, em 2003, Zuckerberg tinha criado o Facemash, site com fotos de estudantes permitindo que os visitantes votassem nos mais atraentes. Explodiu em audiência nas primeiras horas. 

No entanto, a ideia não foi bem recebida por Harvard. Como as imagens haviam sido retiradas da rede protegida da escola e muitos reclamaram, o autor teve que tirar o site do ar e quase foi expulso. 

O tropeço inicial não impediu que o Facebook fosse adiante, embora Zuckerberg tenha tido que enfrentar batalhas jurídicas em seu empreendimento.

Uma delas foi com três alunos de Harvard, os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss e Diyva Narendra, que o haviam convidado para trabalhar em um projeto semelhante, o site ConnectU. 

Os três processaram o ex-colaborador, alegando que a ideia do Facebook tinha sido roubada deles. O caso chegou ao fim em 2008, com cada um recebendo US$ 1,2 milhão em ações do Facebook – que passaram a valer US$ 300 milhões quando a empresa abriu o capital na bolsa.  

Na última quinta-feira (1) a Meta divulgou os resultados financeiros do último trimestre de 2023, reportando lucro de US$ 14 bilhões e receita superior a US$ 40 bilhões, advinda principalmente de publicidade direcionada. 

O avanço rápido do Facebook 

Aos 20 anos do Facebook sob a liderança de Mark Zuckerberg, é difícil saber se o ConnectU teria alcançado sucesso semelhante e a influência na sociedade que ele tem hoje. 

O avanço foi rápido. Inicialmente restrito a Harvard, o Thefacebook se expandiu para Stanford, Columbia e Yale um mês depois do lançamento. No fim do ano estava disponível para alunos da maioria das faculdades americanas.

O passo seguinte foi abrir para estudantes do ensino médio. Em 2006 o Facebook passou a aceitar qualquer pessoa. 

Em outubro de 2012, a rede social bateu 1 bilhão de usuários mensais. Ao fim de 2023, a Meta (nome atual da holding do grupo que também possui o Instagram e WhatsApp) anunciou a marca de 3 bilhões de usuários. 

O nome atual, Facebook, sem o “the”, foi adotado em 2005, e denominava a holding até 2021, quando Zuckerberg decidiu batizá-la de Meta, na esteira de escândalos associados ao nome Facebook e Instagram, alvo de denúncias de uma ex-funcionária sobre males causados a jovens que eram de conhecimento da empresa. 

O escândalo Cambridge Analytica 

Mas o maior dos escândalos foi o Cambridge Analytica, que demonstrou na prática como redes sociais (o Facebook e outras) poderiam ser usadas para manipular a sociedade e interferir na política – e por consequência, na história do mundo. 

O caso foi exposto pelos jornais New York Times e The Guadian em 2018.

A empresa de consultoria britânica Cambridge Analytica, agora extinta, havia sido contratada pela campanha de Donald Trump à presidência dos EUA e usou informações pessoais de milhões de contas do Facebook nos EUA para definição de perfis e segmentação de eleitores. 

A empresa obteve essas informações sem o consentimento dos usuários, com ajuda de um pesquisador que recebeu permissão do Facebook para implantar um aplicativo na plataforma e coletar os dados. 

As informações acessadas incluiam movimentação geográfica diária, contatos periódicos, nível cultural, extratos bancários e até desejos, medos e anseios.

 Os dados foram recolhidos por Aleksandr Kogan, um professor de psicologia russo-americano.Voluntários consentiram em compartilhar informações de seus perfis com Kogan para fins acadêmicos. Kogan então entregou os dados à Camridge Analytica. 

O Facebook admitiu que os dados de até 87 milhões de pessoas foram compartilhados indevidamente com a consultoria política, enfrentou processos e já teve que pagar multas pesadas como resultado de diversos processos. 

O caso foi contado no documentário The Great Hack, da Netflix. 

Percepção da marca Facebook 

Outros problemas relacionados à privacidade de dados e críticas recorrentes de acadêmicos, ONGs e governos sobre a ausência de atitudes concretas para conter discurso de ódio e desinformação no Facebook e impacto sobre a sustentabilidade financeira do jornalismo podem não estar sendo suficientes para derrubar a empresa, mas causam algum impacto. 

O mais recente relatório de valor de marcas da consultoria britânica Brand Finance listou as três jóias da coroa da Meta entre as 10 mais valiosas na indústria de mídia. 

Marcas mais valiosas mídia

No entanto, WhatsApp e Facebook subiram no ranking, enquanto o Facebook caiu.

Outras pesquisas também apontam declínio do uso da plataforma para consumo de notícias e o afastamento dos jovens, atraídos por concorrentes como o TikTok e o próprio Instagram. 

Segundo o Pew Research Center, o Facebook é usado por um terço dos adolescentes. Em 2015, a taxa era de 71%. 

Veja algumas datas marcantes dos 20 anos do Facebook 

2004

  • Lançamento do Thefacebook 

2005

  • Thefacebook vira Facebook 
  • Upload de fotos é introduzido

2006 

  • Introdução do feed de notícias 
  • Zuckerberg se desculpa pelo uso do recurso Beacon para criar anúncios direcionados a partir do histórico de compras dos usuários sem consentimento 

2007 

  • Introdução de vídeos, anúncios, marketplace e páginas no Facebook, permitindo criar perfis profissionais 

2008 

  • Lançamento do chat de mensagens, que em 2011 separou-se e virou o Messenger 

2009 

  • Com 350 milhões de usuários registrados e 132 milhões de usuários únicos mensais, Facebook assume o posto de rede social mais popular do mundo.

2010 

  • Avaliado em US$ 41 bilhões, Facebook torna-se a terceira maior empresa de web dos EUA, atrás do Google e da Amazon 

2011 

  • Facebook bate 1 trilhão de visualizações de página e vira o segundo site mais visitado nos EUA 
  • Mural é substituído por linha do tempo 

2012 

  • Facebook compra o Instagram
  • Empresa abre capital (IPO) 
  • Número de usuários atinge 1 bilhão 

2014 

  • Compra do WhatsApp, por US$ 19 bilhões, e da empresa de realidade virtual Oculus VR 

2015 

  • Introdução do recurso para sinalizar fake news, em resposta a críticas incipientes sobre desinformação com interesses comerciais ou políticos 

2016 

  • Mudança nos algoritmos para privilegiar postagens de amigos e familiares nos feeds, afetando a visibilidade de veículos de imprensa na plataforma 

2017 

  • Lançamento do Projeto de Jornalismo, com ações para estabelecer laços mais fortes entre o Facebook e a indústria jornalística 
  • Marca de 2 bilhões de membros 

2018 

  • Escândalo Cambridge Analytica é revelado pelo New York Times e pelo The Guardian 

2019

  • Dados de 540 milhões de usuários do Facebook são expostos
  • Rede social admite que ‘involuntariamente’ capturou dados de contatos de email de mais de 1,5 milhão de usuários

2020 

  • Campanha de Donald Trump gasta mais de 40 milhões de dólares em propaganda política no Facebook (fonte: Statista) 

2021 

  • Holding de Mark Zuckerberg é rebatizada de Meta, decisão atribuída a uma aposta no metaverso 

2022 

  • Facebook anuncia 2 bilhões de usuários ativos diários 

2023