Londres – A guerra em Gaza, que completou quatro meses nesta quarta-feira (7), deixou o jornalismo na região em uma situação classificada pela organização Repórteres Sem Fronteiras como “nada menos que horrível”. 

Segundo balanço divulgado pela ONG de liberdade de imprensa, em 124 dias de conflito pelo menos 84 jornalistas foram mortos em Gaza, dois quais ao menos 20 no decorrer de seu trabalho jornalístico ou em conexão com ele.

“Jornalistas que sobreviveram a esses quatro meses estão vivendo “um inferno diário” : “em condições desumanas, eles sofrem escassez de todos os tipos, particularmente de equipamentos, bem como apagões regulares na mídia”, diz a organização. 

A RSF informou que a maioria dos que foram forçados a fugir do território sob ataque refugiou-se em Rafah, designada por Israel como uma zona de segurança. Mas a passagem para o Egito segue fechada e existe o temor de uma invasão.

A organização disse ter feito apelos a Israel para abrir os portões, mas afirma que as autoridades israelenses continuam impedindo que os jornalistas de Gaza saiam, além de bloquear a entrada de jornalistas estrangeiros.

Destruição de infraestrutura do jornalismo em Gaza 

Os quatro meses de guerra em Gaza também tiveram impacto sobre as instalações físicas de escritórios e redações.

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Palestinos, cerca de 50 meios de comunicação locais e internacionais em Gaza foram total ou parcialmente destruídos. 

Alguns jornalistas continuam a desafiar os riscos e fazer reportagens sobre a guerra, mesmo feridos e perdendo parentes. 

O caso mais notório é o de Wael Dahdouh, chefe da rede Al Jazeera em Gaza. Em outubro ele perdeu filhos, esposa e neto em um bombardeio.

Mesmo ferido, continuou trabalhando até janeiro, quando seu filho, também jornalista da rede, perdeu a vida em uma ataque de míssil ao carro onde onde seguia para uma reportagem em um campo de refugiados. 

Em 17 de janeiro, a Al Jazeera anunciou que ele foi enviado para tratamento médico no Catar, onde foi recebido na pista do aeroporto por colegas e diretores da rede em clima de forte emoção.

No balanço do impacto dos quatro meses de guerra em Gaza sobre o jornalismo, a RSF apoonta que os profissionais forçados a deixar suas casas estão vivendo em tendas, sem eletricidade e com muito pouca comida ou água, enquanto os feridos têm acesso limitado a cuidados médicos.

A RSF apresentou duas queixas ao Gabinete do Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, em 31 de outubro e 22 de dezembro de 2023, cobrando investigações de crimes de guerra contra jornalistas e instalações de meios de comunicação em Gaza. 

Em janeiro, a organização informou que a corte confirmou a inclusão desses denúncias nas investigações sobre a situação na Palestina.