Londres -Berço de Martin Luther King e do movimento Black Lives Matter (#BLM), os EUA estão comemorando em fevereiro o Black History Month (mês da história negra), para honrar a contribuição de pessoas negras ao país, mas a nação continua decepcionando na cobertura de imprensa sobre elas, como revelou uma pesquisa do Pew Research Center sobre a representação pela mídia. 

Quase dois terços dos adultos negros (63%) entrevistados dizem que as notícias são frequentemente mais negativas do que matérias sobre outros grupos raciais e étnicos, enquanto 28% não percebem diferença. Apenas 7% acham que é mais positiva.

O think tank ouviu 5 mil pessoas negras, que demonstraram pouca esperança em uma mudança no cenário: 14% acreditam nisso e 38% acham que nada vai mudar em um futuro próximo.

Representação dos negros na mídia: falta diversidade? 

O problema de representação dos negros e também de gênero ou de minorias é frequentemente atribuído à falta de diversidade racial nas redações. A pesquisa do Pew mostrou que esse é um dos motivos, mas não o único nem o principal, na visão dos entrevistados: apenas 36% disseram achar que a baixa inclusão contribui para uma cobertura racista ou insensível.

Entretanto, cerca de metade (51%) culpou a agenda dos meios de comunicação, enquanto 45% acham que os jornalistas estão mal informados sobre a realidade de pessoas negras. E 37% apontam a velocidade do ciclo de produção de notícias como responsável.

A diversidade racial na chefia das redações norte-americanas nem é das piores, como registrou o levantamento anual do Instituto Reuters, que mostrou aumento de líderes não brancos, de 20% em 2022 para 33% em 2023. No Brasil não há nenhum.

Mas nos EUA, essa representação não inclui apenas negros. Também fazem parte da conta do Instituto Reuters os chefes asiáticos e hispânicos.

Embora não se possa afirmar que a ausência de pessoas negras interfira na forma como os assuntos são tratados, especialistas e organizações como a Unesco são unânimes em afirmar que a diversidade leva a uma cobertura mais equilibrada e abrangente.

A pesquisa do Pew Center sobre a representação dos negros na mídia capturou essa impressão, com 57% dizendo acreditar que o noticiário cobre apenas determinados segmentos das comunidades negras, em comparação com apenas 9% que não têm a mesma percepção.

Metade acha a cobertura incompleta, enquanto apenas 9% pensam o contrário. E 43% reclamaram de estereótipos, muito mais do que os 11% que afirmam não encontrá-los nas notícias sobre pessoas negras.

Cerca de quatro em cada dez (39%) dizem encontrar reportagens interpretadas como racistas ou insensíveis com muita frequência, e outros 41% dizem as encontram às vezes.

Sentimentos parecidos em todos os grupos pesquisados

Um aspecto importante do estudo é que os sentimentos foram parecidos em todos os grupos de negros pesquisados, independentemente da idade, do gênero e até da inclinação política, o que nos EUA costuma determinar opiniões bem diversas entre republicanos e democratas.

A frustração com a forma como negros são representados na mídia não está restrita a pessoas que integram grupos sociais ou econômicos marginalizados, mais suscetíveis a estereótipos ou vivendo em áreas com mais violência. A pesquisa mostrou o oposto.

Aproximadamente dois terços dos negros americanos com ensino superior dizem que as notícias que veem ou ouvem sobre pessoas negras abrangem apenas determinados segmentos dessas comunidades, contra 49% daqueles com nível de escolaridade abaixo do ensino médio.

E três quartos dos que têm renda mais elevada (75%) afirmam que são representados na imprensa de forma mais negativa do que outros grupos raciais e étnicos, contra 57% daqueles com renda mais baixa que pensam o mesmo.

O relatório do Pew Research Center lembrou que em 1967 a Comissão Kerner, criada pelo então presidente Lyndon Johnson para investigar as causas dos distúrbios urbanos que tomaram conta do país, foi dura sobre o papel dos meios de comunicação em relação aos negros.

O tratamento da imprensa foi considerado sensacionalista, impreciso e injusto, orientado pela perspectiva dos homens brancos e incentivando a divisão.

Em 56 anos a situação certamente melhorou. Mas não como a comunidade negra gostaria que tivesse melhorado − nos EUA e possivelmente em muitos outros países, incluindo o Brasil.