Na onda de violência vivida pelo Haiti, um dos mais conhecidos jornalistas do país, Lucien Jura, foi sequestrado em sua casa em Pétion-Ville, nos arredores da capital, Porto Príncipe. 

No dia da captura do jornalista, que se tornou conhecido como apresentador de TV e foi porta-voz dos ex-presidentes Michel Martelly e Jovenel Moise, gangues de criminosos atacaram várias casas da região, deixando pelo menos 10 mortos, segundo a imprensa local. 

O sequestro, ocorrido no dia 18 de março, foi confirmado ao Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) pelo secretário-geral do grupo haitiano SOS Jornalistas, Guy Delva. (Atualização: o jornalista foi libertado dias depois, mas não foram divulgadas pela família as condições para a sua libertação). 

Jornalista sequestrado no Haiti falou ao telefone com dirigente 

Guy Delva disse ao CPJ que ligou para o celular de Jura e um dos sequestradores atendeu. O dirigente disse ter pedido para falar com o jornalista, e os sequestradores concordaram.

Lucien Jura, segundo ele, disse que estava bem e adotando medidas para sair do cativeiro. 

O Haiti se tornou nos últimos dois anos um dos países mais perigosos para a imprensa nas Américas. Desde que a violência praticada pelas gangues contra a população aumentou, profissionais de imprensa tornaram-se alvo de crimes deliberados, ou foram atingidos durante a cobertura de protestos. 

Alguns crimes foram marcados pela crueldade, como os que vitimaram os repórteres Tayson Latigue e Frantszen Charles, que tiveram os corpos queimados. 

Lucien Jura é um comentarista independente de assuntos nacionais e é considerado um dos jornalistas mais proeminentes do Haiti, com passagens pela rede de TV Télémax e pela rádio Signal FM. Ele também publicou um livro em 2000 sobre sua experiência no serviço público, como porta-voz dos presidentes. 

O Haiti vive um caos de violência que levou à  renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry no início deste mês. O país não tem um presidente  desde o assassinato de Moïse, em 2021.

Segundo o CPJ, vários repórteres ficaram feridos enquanto cobriam os últimos episódios de violência, incluindo o freelancer Jean Marc Jean, que perdeu um olho quando foi atingido no rosto por uma bomba de gás lacrimogéneo disparada pela polícia.

Onda de violência atingiu imprensa no Haiti

Pelo menos seis jornalistas haitianos foram assassinados em represália direta pelo seu trabalho desde o assassinato de Moise, diz a organização de liberdade de imprensa. O CPJ também documentou seis sequestros de jornalistas nos últimos meses.

Um dos casos recentes foi o de Jean Thony Lorthé, em fevereiro. Ele foi capturado no mesmo bairro em que Lucien Jura foi sequestrado e libertado após pagamento de resgate.

De acordo com a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em inglês), a área abriga a gangue armada conhecida como Ti Makak, apontada como responsável pelo sequestro de Lorthé.

“Estamos muito preocupados com a rápida deterioração da situação de segurança no Haiti e seu impacto sobre todos no país, incluindo os jornalistas que tentam manter o público informado”, disse Katherine Jacobsen, coordenadora do CPJ para os EUA, Canadá e Caribe.

“Aqueles que detêm o jornalista Lucien Jura devem libertá-lo imediatamente. Os jornalistas não devem ser usados ​​como peões.”

O Haiti foi classificado como o terceiro pior país do mundo no Índice de Impunidade Global de 2023 do CPJ , que mede onde os assassinos de jornalistas têm maior probabilidade de ficar impunes.