Veterana repórter política do jornal Colorado Sun, nos EUA, a jornalista Sandra Fish foi expulsa de uma assembleia estadual do Partido Republicano sob o argumento de que o governador, Dave Williams, “não gosta” de suas reportagens.
O caso aconteceu no sábado (6) na cidade de Pueblo, colocando em evidência o difícil relacionamento de aliados de Donald Trump com a imprensa crítica, que tende a se agravar à medida que a campanha eleitoral esquenta.
Williams foi eleito tendo como uma das bandeiras de campanha a tese de roubo nas eleições que deram vitória a Joe Biden, e vai concorrer a uma vaga no Congresso.
Jornalista dos EUA expulsa estava credenciada
Segundo o Colorado Sun, jornal independente e sem fins lucrativos, Fish estava credenciada para acompanhar a assembleia como jornalista, mas recebeu uma mensagem de um representante do Partido Republicano horas antes do início avisando que a permissão havia sido revogada.
Ela foi assim mesmo, e conseguiu entrar recebendo um crachá de jornalista na recepção, com seu nome. No entanto, uma hora depois foi abordada quando estava na arquibancada do ginásio junto com outros jornalistas e convidada a se retirar por um policial.
Um representante do partido disse que a cobertura dela tem sido “muito injusta”.
Fish argumentou que estava credenciada e tenta continuar no local, mas por fim devolve o kit e a credencial, deixando o ginásio onde o evento acontecia.
A cena foi filmada por colegas da jornalista que também cobriam a convenção, e uma delas é intimidada pelo representante do Partido, que fotografou sua credencial.
A Pueblo County Sheriff’s Office deputy has escorted @ColoradoSun journalist Sandra Fish (@fishnette) out of the Colorado GOP Assembly.
Fish received a press pass when she arrived. GOP event staff said she was told not to come since chair says her coverage has been “very unfair” pic.twitter.com/pmtjeJHNtJ
— Anna Lynn Winfrey (@annalynnfrey) April 6, 2024
Reportagens críticas sobre eleição do governador
Na reportagem sobre o caso envolvendo sua repórter expulsa, o jornal lembrou que Sandra Fish escreveu matérias sobre a eleição de Williams em 2023 para liderar o partido no Colorado, bem como noticiou as dificuldades financeiras do partido que pode voltar ao poder nos EUA com a vitória de Donald Trump.
Em fevereiro, ela escreveu um artigo no Sun sobre o envio de uma correspondência pró-Donald Trump pelo Partido Republicano estadual que atacou o oponente do governador em sua disputa para uma vaga no Congresso, chamando-a de “o exemplo mais recente de Williams usando sua posição de liderança partidária para beneficiar ou defender a si mesmo e a seus aliados”.
Dave Williams está concorrendo para substituir o deputado americano Doug Lamborn no 5º distrito congressional do Colorado. Ele defendeu abertamente a teoria conspiratória das eleições roubadas e chegou a homenagear pessoas que invadiram o Capitólio, em janeiro de 2021.
Leia também | Principal jornalista investigativo do Peru é acusado de ‘subornar’ promotores
Expulsão de repórter envergonhou senadora
A Coalizão de Liberdade de Informação do Colorado fez uma nota condenando a expulsão da repórter Sandra Fish.
“Expulsar um jornalista credenciado de uma assembleia de partido político, especialmente um que representa uma empresa jornalística de alcance estadual como o Colorado Sun, mina o papel vital da imprensa livre e impacta diretamente milhares de cidadãos que dependem dele para acompanhar os acontecimentos.”
A decisão não foi unanimidade dentro do Partido Republicano do Colorado. A senadora Barbara Kirkmeyer discordou da expulsão nas redes sociais, afirmando que “Sandra Fish é uma repórter justa, honesta e respeitada”, e dizendo-se envergonhada.
Os EUA ocupam o 45º lugar no Global Press Freedom Index da organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF. A análise da RSF destaca “um padrão preocupante de assédio, intimidação e agressão a jornalistas em campo”.
Em setembro de 2022, o repórter do Las Vegas Review-Journal Jeff German foi morto a facadas.
No início de 2023, um administrador público do condado de Clark, que perdeu as eleições primárias depois que German expôs sua má conduta durante o mandato, foi acusado de seu assassinato. No momento de sua morte, German estava trabalhando em uma reportagem complementar sobre o político.
Leia também | No ano em que Trump pode voltar à presidência, Câmara dos EUA aprova lei garantindo sigilo das fontes de jornalistas