Londres – A Associated Press, uma das maiores agências de notícias do mundo, uniu-se a pesquisadores da Northwest University, dos EUA, e da Universidade de Amsterdã para uma pesquisa com o objetivo de identificar como a indústria de jornalismo tem lidado com as promessas e desafios iniciais da IA generativa, suas expectativas e medos.
Realizado um ano e meio após o lançamento do ChatGPT, o estudo ouviu 292 profissionais de imprensa, principalmente dos EUA e Europa, e encontrou uma taxa de adoção da IA superior à de uma pesquisa feita no Brasil pela ESPM-SP em conjunto com a revista de jornalismo Jornalistas&Cia: 56% no país contra 73% no mundo.
Mas enquanto algumas organizações jornalísticas estão mais avançadas na sistematização do uso da inteligência artificial e na exploração de suas possibilidades, outras ainda engatinham e a ética é uma grande preocupação, constatou a Associated Press.
AP e a Inteligência Artificial
A AP foi a primeira grande organização de jornalismo a fechar um acordo com uma empresa de inteligência artificial generativa cedendo seu conteúdo para treinar os os LLM (Large Language Models), contrato celebrado com a OpenIA em agosto do ano passado.
Este é um grande problema visto pelo setor, que não quer ver as grandes empresas de IA faturando sozinhas em um negócio que utiliza como matéria-prima conteúdo protegido por direitos autorais.
Enquanto isso, organizações como New York Times e Getty Images adotaram posição de confronto e recorreram à justiça contra o uso de seu conteúdo sem remuneração.
Pouco depois, a agência de notícias formalizou um manual de regras para o uso da tecnologia por seus profissionais, um sinal de que usar a IA não é mais uma opção no jornalismo e sim um caminho sem volta.
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Medos e expectativas no uso da IA no jornalismo
Assim como no Brasil, a pesquisa da AP revelou que a maioria dos profissionais usa a IA na apuração de informações e produção de textos, e 49% acham que tarefas ou fluxos de trabalho já mudaram devido a ela.
Há um aspecto positivo para os que se alarmam com a possibilidade de a IA eliminar postos de trabalho – movimento que na verdade vem acontecendo na indústria de mídia muito antes de a tecnologia se tornar popular, em razão principalmente da migração das receitas publicitárias para as plataformas digitais.
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Os entrevistados mencionam que novas funções estão sendo criadas, incluindo algumas ligadas à produção e entrega de conteúdo, como edição de vídeos de IA, verificação de fatos, design de interface e experiência do usuário.
No geral, diz o estudo da AP, há uma mudança no trabalho humano em direção à gestão, ao produto, a alguns novos cargos – e muito trabalho técnico para incorporar e manter sistemas que envolvem IA e automação.
Isso representa uma oportunidade para os profissionais de jornalismo que estiverem sintonizados com as transformações e dispostos a navegarem nelas em vez de ter medo ou duvidar de seu avanço.
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ChatGPT substituindo o colega jornalista na mesa ao lado
Depois que muitas redações adotaram o trabalho remoto ou híbrido devido à Covid-19 e o isolamento foi apontado como risco para a troca de experiências e criatividade, a IA também parece estar sendo usada para substituir o rico convívio com o colega da mesa ao lado – para o bem ou para o mal.
Um entrevistado na pesquisa da AP disse: “em vez de pedir ajuda a um colega para criar um título, sempre peço primeiro ao ChatGPT”.
Junto com o encantamento, no entanto, aparecem as preocupações éticas. As mais presentes foram a falta de supervisão humana (21,8%), a imprecisão (16,4%) e os preconceitos no conteúdo gerado pela IA (9,5%).
Nada muito diferente do que outras pesquisas já apontaram. Mas a AP aprofundou um pouco mais e perguntou se havia algum algum uso de IA generativa que deveria ser desencorajado no jornalismo.
Entre os entrevistados que mencionaram proibições como parte da resposta a preocupações éticas, a maioria (56%) concordou que a geração de conteúdos inteiros com a tecnologia deveria ser proibida, uma vez que os modelos ainda não são confiáveis – o que algumas empresas jornalísticas como a própria AP já determinaram em seus manuais internos.
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Outro uso da IA rejeitado (por 17% dos jornalistas consultados) é na formulação de perguntas para uma entrevista. Um dos participantes do estudo disse: “As entrevistas muitas vezes mudam de rumo no meio do caminho por causa do instinto do repórter. Como a IA corresponderá a isso?”
É uma resposta que remete ao ponto central desse processo: a IA não serve para fazer tudo sozinha, mas pode ajudar a formular perguntas melhores com base em pesquisas mais abrangentes, que o bom profissional dotado de instinto jornalístico saberá aproveitar na conversa.
O estudo completo pode ser visto aqui.
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